Felipe Néri, do G1, em Brasília
Em reunião fechada nesta quarta-feira (25) após encerramento abrupto da convenção nacional do PP, a cúpula do partido decidiu apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff, segundo informou o presidente do o senador Ciro Nogueira (PP-PI), que comanda a legenda. Não houve divulgação da quantidade de integrantes que votaram nem qual foi o placar.
A decisão sobre quem o PP apoiaria nas eleições para presidente cabia, originalmente, à convenção nacional, que não teve consenso entre os dirigentes que discursavam. Depois de quase três horas de debate, a presidência do partido aprovou uma resolução que remetia à Executiva Nacional (um órgão interno do partido com menos votantes que a convenção) a palavra final sobre o apoio nas eleições.
Integrantes do PP que participavam da reunião questionaram a decisão, alegando não terem tido tempo para votar. Eles pretendem anular a medida no Tribunal Superior Eleitoral.
De acordo com Ciro Nogueira, a maioria do partido defende a candidatura de Dilma. “Ficou definido o apoio à presidente. Dois diretórios apenas se rebelaram, são 27”, disse após sair da reunião realizada no Senado. “Sempre ouvimos democraticamente a todos. São 27 diretórios e apenas dois se rebelaram de forma inadequada. A maioria quer o apoio à presidente. Já está sacramentado o apoio”, completou.
Resolução polêmica
A resolução que deu à Executiva Nacional o poder de decidir foi apresentada pela presidência do partido depois de quase três horas de discursos dos correligionários na convenção. Depois que Ciro Nogueira declarou aprovada a resolução, foi chamado de “vendido” por militantes que alegam que o presidente não ouviu todos os partidários.
Na terça-feira (24), Nogueira havia dito ao G1 que seria “tranquilo” aprovar, na convenção, a aliança do PP com o PT em âmbito nacional. “Tem divergências, mas a ampla maioria quer aproximação e, com certeza, a maioria vai prevalecer. Vai ser uma escolha tranquila”, afirmou Nogueira.
No entanto, durante a convenção, a maior parte dos discursos era contrária à aliança. Ao sair do auditório onde ocorria o evento – rodeado por seguranças, com passos apressados e sob vaias e gritos de membros do partido – Ciro Nogueira afirmou que a aprovação da resolução tinha o apoio de 20 diretórios estaduais.
Convenção conturbada
Marcada por gritos de apoio e hostilidade a diferentes integrantes do partido que subiam à tribuna, a convenção do PP foi conturbada desde o começo. Contrariando a vontade de Ciro Nogueira, o presidente do diretório mineiro e atual governador de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, discursou em defesa da neutralidade do nas eleições presidenciais.
Coelho apoia a candidatura de Aécio Neves.
“Nossa visão, nossa definição do PP em Minas, se alia à candidatura do senador Aécio Neves para a Presidência da República de maneira irrecorrível. Qualquer enquete ou pesquisa identifica a insatisfação de 60% a 70% da população brasileira que clama por mudanças profundas e estruturais”, declarou Pinto.
Em seguida, manifestantes levantaram cartaz defendendo uma candidatura própria à Presidência, com o nome do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ). O parlamentar é conhecido por declarações polêmicas em favor da ditadura militar (1964-1985) e contra políticas em defesa dos homossexuais.
O próprio Bolsonaro subiu à tribuna para defender a sua candidatura e criticar o governo de Dilma Rousseff. “Nossa bancada vai diminuir caso apoiem aqui a eleição da Dilma, caso deem um minuto e vinte segundos para ela. E eu continuo candidato a presidente da República e espero que o partido coloque em votação o meu nome”, declarou Bolsonaro.
O ex-ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro foi um dos que discursou em defesa do apoio à candidatura de Dilma.
“O nosso PP comandou por dez anos o Ministério das Cidades. E como coordenador desse ministério, o nosso partido se apropriou de importantes políticas que mudaram a vida dos brasileiros. Não podemos agora relevar aquilo que foi construído […] Defendo que não tenhamos posição e mudemos agora. Nós somos governo, estamos do lado do governo e vamos ganhar as eleições com Dilma”, disse.
O PP tem hoje o comando do Ministério das Cidades, sob a chefia do ministro Gilberto Occhi. O partido também soma 39 deputados federais e forma na Câmara um bloco com o PROS (20 parlamentares) – que aprovou na terça-feira (24) o apoio a Dilma. Os 59 deputados do bloco representam a terceira maior bancada da Câmara. No Senado, o PP tem cinco representantes, de um total de 81 senadores.
A senadora Ana Amélia (PP-RS), candidata a governadora no Rio Grande do Sul, já anunciou apoio a Aécio Neves.