RICARDO FELTRIN, COLABORAÇÃO PARA A FOLHA UOL
No auge da perseguição e dos ataques que sofreu nos anos 90 por parte de policiais, promotores e, especialmente, da Globo, o bispo Edir Macedo, 68, afirma que pensamentos sobre suicídio “foram soprados” em sua cabeça.
Nessa mesma época a mulher dele, Ester, foi sequestrada em um assalto. O bispo, então, decidiu que só sairia de casa armado. Levava a nova companheira até aos cultos. Escondia o calibre 38 no púlpito, enquanto pregava.
“Mais tarde fui tocado pelo Espírito Santo, que me convenceu que andar armado era falta de confiança em Deus.”
Essas são algumas das revelações de “Nada a Perder, 2”, o segundo livro da trilogia que conta a vida e a obra de Edir Macedo de Bezerra, líder de uma das maiores igrejas evangélicas e dono da segunda maior emissora de TV aberta do país, a Record.
A Folha teve acesso exclusivo ao livro antes do lançamento, que deve ocorrer neste mês. A compra da Record, aliás, é descrita como a abertura da porta do inferno na vida de Macedo e sua família.
“Não imaginava que viveria o inferno a partir do dia em que decidi comprar a Record”, afirma no texto. Mas, se o livro for fiel aos fatos, Macedo tem motivos de sobra para acreditar em milagres.
Ele conta que a compra da Record já ia por água abaixo, porque Silvio Santos e seu sócio, Paulo Machado de Carvalho, descobriram que era Macedo, e não o deputado Laprovita Vieira quem estava por trás da compra.
Quase todos conhecem histórias de como o Plano Collor faliu empresários, afundou famílias e chegou a levar algumas pessoas ao suicídio, ao confiscar temporariamente as aplicações na poupança.
No caso do bispo Macedo, porém, o Plano Collor foi a verdadeira tábua de salvação. O negócio da Record estava emperrado, Macedo (por meio de Laprovita) já havia dado um sinal de US$ 6 milhões, que seria perdido caso o negócio não prosperasse, e então veio o plano.
Collor asfixiou empresas endividadas –como era o caso da emissora de Silvio e Machado de Carvalho.
Só que as igrejas eram um dos poucos lugares no país em que ainda havia alguma liquidez, seja no bolso dos fiéis, seja nos cofres.
Sem opção, Silvio e seu sócio tiveram de aceitar as condições do bispo da Universal. Outro “milagre” foi que, com o Plano Real, o dólar teve forte desvalorização. “A gente chegava a pagar três parcelas em um só mês”, gaba-se.
COAUTORIA
O livro é narrado em primeira pessoa, de forma fluida, sem seguir uma ordem cronológica. Os depoimentos foram colhidos por Douglas Tavolaro, vice-presidente de Jornalismo da Record.
Ele, a mulher de Macedo, Ester, e o bispo, chegaram a passar quase 50 dias trancados na casa do casal, que tentava rememorar o máximo de detalhes do passado. O primeiro livro da trilogia já vendeu por volta de 1,4 milhão de exemplares.
No livro, o líder da Universal não poupa ataques à eterna rival Rede Globo.
Quase duas décadas depois de sua exibição, ele ainda não digeriu a minissérie “Decadência”, em que um pastor evangélico corrupto seduzia jovens fiéis e ainda jogava a calcinha delas sobre uma bíblia aberta.
Procurada pela Folha, a Central Globo de Comunicação não quis se manifestar.