Fredson Navarro e Joelma Gonçalves, do G1 SE
Um ônibus que estava em um congestionamento próximo ao Terminal de Integração no Distrito Industrial de Aracaju (DIA) em Aracaju foi alvo da ação de vândalos na noite desta terça-feira (25), que estavam próximo aos manifestantes no local.
Segundo o motorista do veículo, que pediu para não ser identificado, o tumulto começou quando os passageiros resolveram descer do veículo para ir a pé ao até o terminal, e um grupo de vândalos começou a ameaçar o motorista e o cobrador, que resolveram deixar o ônibus. O grupo tentou atear fogo no veículo por duas vezes, mas só conseguiu na terceira tentativa.
Policiais da cavalaria da PM que estavam no local tentaram conter o grupo, que reagiu jogando fogos de artifício contra os policiais, que receberam reforços e conseguiram acalmar os ânimos sem confronto com os manifestantes. Os bombeiros chegaram escoltados pela Polícia Militar e conseguiram apagar as chamas.
Mais cedo, o Centro Administrativo Aloísio Campos, onde funciona a Prefeitura de Aracaju, foi alvo de ações de vandalismo por uma minoria radical que está participando de uma manifestação nesta terça-feira (25). Eles chegaram ao local fazendo muito barulho e gritando palavras de ordem contra as autoridades e polícia, em seguida começaram a jogar pedras, madeiras e fogos de artifício no prédio. Alguns subiram na guarita e incentivaram os outros a subir também. Os vidros foram quebrados e o clima seguiu tenso até a chegada do Batalhão de Choque que chegou em seguida para evitar o vandalismo.
“Estamos evitando o confronto. Nossa missão é de paz. Depredar patrimônio público é crime. O cidadão tem o direito legitimo de manifestar na paz. Não viemos aqui para agredir nenhum cidadão”, garante o major Rollemberg, do Batalhão de Choque que está no local com 50 policiais.
O prefeito de Aracaju João Alves Filho não está na prefeitura, apenas alguns funcionários e seguranças estão no local, ninguém foi atingido.
Mais de 10 mil manifestantes voltaram às ruas de Aracaju nesta terça-feira (25) para protestar contra a tarifa e qualidade do transporte público da capital, primeira reivindicação do movimento que foi iniciado há duas semanas em São Paulo e ganhou às ruas de todo o país. Os motivos se ampliaram e os sergipanos confeccionaram cartazes e estão reivindicando os custos da Copa do Mundo, problemas no serviço público, corrupção, educação, cidadania e rejeição à Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limita o poder de investigação do Ministério Público e atribui às polícias a exclusividade das apurações criminais.
A concentração foi realizada na Praça Fausto Cardoso, nas imediações da Assembleia Legislativa de Sergipe. Por volta das 16h, as ruas do Centro da capital já aglomeravam dezenas de pessoas, desde crianças até idosos. Em seguida saíram em passeata pela Avenida Beira Mar, Avenida Ivo do Prado, Avenida Barão de Maruim, Praça da Bandeira até a Prefeitura de Aracaju.
O primeiro ato em Aracaju ocorreu na quinta-feira (20) de forma pacífica e reuniu cerca de 20 mil pessoas. “Nosso objetivo foi atingido. Lutamos pelos nossos direitos de forma digna, sem desrespeitar as autoridades nem o próximo, lutamos por um país melhor. Participamos de um momento histórico em Sergipe e estamos felizes porque nossa mensagem foi bem entendida e todos saíram de casa com o mesmo proposito”, orgulha-se Demétrio Varjão, integrantes do Movimento Não Pago.
Para o segundo protesto, Demétrio disse que o grupo está seguindo junto pelas ruas e não será dividido como na semana passada. “Entendemos que o ato será mais forte com todos juntos nas ruas e não queremos a presença de bandeiras de partidos políticos nesta terça”, explica.
O ato seguia pacífico até chegar na Prefeitura de Aracaju, onde uma pequena minoria atacou o prédio. De acordo com a Polícia Militar, mais de 10 mil pessoas estão nas ruas. “O grupo está crescendo nas ruas. Na concentração havia 5mil pessoas e quando a passeata seguiu muita gente aderiu e o número dobrou”, explica Major Paiva.
Antes da manifestação, o prefeito de Aracaju João Alves Filho, reduziu a tarifa de ônibus de R$ 2,45 para R$ 2,35. Ele argumentou que a redução foi possível pelo fato de no fim de maio, o Governo Federal desonerar as empresas de ônibus do pagamento de PIS e cofins. O valor da nova tarifa foi aprovado no início da tarde desta terça-feira por 17 votos a favor contra 5 na Câmara dos Vereadores de Aracaju.
Mas o novo valor não agradou e os manifestantes pedem a revogação da lei. “Por mais que esse fato pareça uma vitória das pressões populares, na realidade não passa de uma falsa redução. A tarifa não foi reduzida, na verdade foi reajustada de R$ 2,25 para R$ 2,35. Com a exclusão dos impostos no cálculo da tarifa, a prefeitura sanou apenas uma das graves irregularidades contidas na planilha de custos da SMTT. Vale lembrar que mesmo com um valor de R$ 2,35, o cálculo tarifário continua incluindo custos inexistentes, sem os quais o valor tarifário real seria R$ 1,92. Lutamos também pelo passe livre dos estudantes e desempregados ”, explica o economista e integrante do Movimento Não Pago, Demétrio Varjão.
Mesmo com o anúncio da redução do preço das passagens do transporte público, os protestos foram mantidos e estão foram realizados em dezenas de municípios e devem continuar nos próximos dias.
Os comerciários de Sergipe decidiram aderir ao protesto e de acordo com o presidente da Federação dos Comerciários, Ronildo Almeida, eles decidiram fechar as lojas no início da tarde e seguiram para às ruas com os colaboradores. “Estamos participando e ajudando a fortalecer essa manifestação que é um ato de cidadania. Os protestos já começaram a mudar o Brasil. Quando o povo se une em torno de um projeto coletivo, o resultado é positivo”, avalia Ronildo Almeida.
Pacto e Plebiscito
Após dezenas de manifestações nas principais cidades do Brasil, a presidente Dilma Rousseff convocou todos os governadores dos estados e os 26 prefeitos das capitais para participar de uma reunião no Palácio do Planalto, em Brasília, na segunda-feira (24), e propôs o a adoção de cinco pactos nacionais (por responsabilidade fiscal, reforma política, saúde, transporte, e educação). O governador em exercício de Sergipe, Jackson Barreto, sugeriu a criação do vale-transporte social como parte da solução dos problemas de mobilidade urbana no país. O prefeito de Aracaju João Alves Filho também participou da reunião.
A presidente também apresentou a proposta de convocação de um plebiscito para que o eleitorado decida sobre a convocação de um processo constituinte específico destinado a fazer a reforma política.