A Polícia Civil de São Paulo investiga um esquema de recebimento de propina no Sindicato dos Motoristas de São Paulo (Sindmotoristas). Segundo o delegado, lideranças da categoria pegavam dinheiro de empresários para agir contra os interesses dos trabalhadores.
Francisco Xavier da Silva Filho, o Chiquinho, é suspeito de usar o cargo de secretário-geral do sindicato dos motoristas de ônibus da capital para comandar um esquema de arrecadação de propina.
Ele é motorista de ônibus na capital e tem uma casa em Atibaia ainda em construção. O projeto é ostensivo: tem jardim com projeto paisagístico, espaço gourmet e piscina cinematográfica, com borda infinita.
A casa tem valor avaliado em R$ 2 milhões. Mas, segundo a polícia, não foi trabalhando que o motorista conseguiu juntar tanto dinheiro.
O presidente dos Sindmotoristas, Valmir Santana da Paz, o Sorriso, e outros 14 diretores também são citados na investigação, de acordo com o delegado de polícia Fernando José Góes Santiago.
A polícia começou a investigar a direção do sindicato dos motoristas no começo do ano, depois que policiais encontraram R$ 94 mil de dinheiro no carro de Chiquinho durante uma blitz de rotina. No celular dele, os investigadores encontraram planilhas que indicavam como funcionava todo o esquema de arrecadação de propina.
A Operação Fim da Linha cumpriu 31 mandados de busca e apreensão na capital, em Guarulhos, Taboão da Serra, Atibaia, Praia Grande e Bertioga.
Na casa de Chiquinho, os investigadores apreenderam uma coleção de relógios de luxo e uma grande quantia em dinheiro vivo. E a lista patrimonial não para por aí, de acordo com o delegado Santiago.
“Um imóvel faraônico na cidade de Atibaia, um apartamento de praia em Bertioga e outro em Praia Grande, e o apartamento onde ele fazia dele sua moradia, se trata de um apartamento de alto padrão no Tatuapé, avaliado em cerca de R$ 1 milhão. Lembrando que o secretário-geral tinha um salário de cerca de R$ 3 mil por mês, da empresa de ônibus mais uma ajuda de custo de R$ 3 mil”, afirma.
A polícia também apura a ligação de políticos de Taboão da Serra e de Sergipe com o esquema. Os investigadores já têm indícios de que parte do dinheiro desviado do sindicato teria financiado campanhas políticas.
Não é primeira vez que esse tipo de denúncias vem à tona. Em 2003, uma operação da Polícia Federal prendeu o então presidente do sindicato e outros 16 diretores, entre eles, o Chiquinho que já tinha uma boa situação financeira.
Chiquinho rico, como ficou conhecido, juntou patrimônio com renda de R$ 2 mil. Segundo a promotoria, é dele essa casa de 250 metros quadrados. Ele também é dono de um carro de luxo, como mostra o documento do Detran.
Na época, um ex-dirigente do sindicato, Marcos Coutinho, revelou ao Ministério Público quanto a entidade cobrava dos empresários para organizar greves e pressionar a Prefeitura por reajustes.
‘Depende do tipo da greve, se for uma greve de reivindicação de salário vai de R$ 1 milhão a R$ 800 mil.”
Na tarde desta quinta-feira, a reportagem esteve na porta do sindicato dos motoristas para tentar uma entrevista com os diretores. Ninguém aceitou falar.
Ninguém foi preso na operação desta quinta-feira (3). Tanto o secretário-geral Chiquinho como os outros diretores continuam na condição de investigados.
Em nota, o Sindmotoristas reforçou o compromisso com os trabalhadores da categoria e informou que está à disposição das autoridades. A nota diz ainda que a diretoria, juntamente com o departamento jurídico, apura as denúncias.
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Por Bruno Tavares, TV Globo — São Paulo