Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (14), as Polícias Civil e Científica detalharam as investigações sobre o feminicídio cometido com extrema violência no Assentamento Santa Maria, na zona rural de Riachuelo. A vítima foi assassinada na madrugada do dia 4 de novembro de 2024, com lesões perfurocortantes e dois disparos de arma de fogo, um deles na cabeça, em um crime classificado como feminicídio triplamente qualificado. O suspeito foi preso por determinação da Justiça e autuado em flagrante por posse ilegal de arma de fogo, já que estava armado no momento da prisão.
Conforme as investigações, a vítima foi encontrada morta, caída sobre uma cerca de arame, com sinais evidentes de crueldade. A apuração contou com o suporte técnico do Instituto Médico Legal (IML) e do Instituto de Criminalística (IC).
De acordo com o delegado João Martins, a polícia obteve a informação de que um homem, que morava no povoado, teria sido o autor do crime. “Ninguém falava sobre o assunto, mas informações fragmentadas davam conta de que ele utilizou carrinho de mão para pegar a vítima e jogar o corpo, onde foi encontrado”, explicou.
Com o achado do corpo, a Polícia Civil realizou levantamentos e chegou a uma residência, onde a equipe da Criminalística foi acionada e realizou perícia no local utilizando luminol. “É uma técnica pericial que permite identificar vestígios biológicos, como sangue, que não estão visíveis a olho nu”, explicou o perito criminal Charles Vargas, do Instituto de Criminalística.
No imóvel, conforme detalhou o perito, não havia sinais de crime. “Aparentemente, estava tudo limpo, como se nada tivesse acontecido. Mas, com o uso de lanternas específicas, identificamos áreas com potencial de conter vestígios e aplicamos o reagente. O luminol reagiu principalmente em um carrinho de mão, que, segundo a investigação, poderia ter sido utilizado para transportar o corpo”, detalhou Charles Vargas.
O perito do IC explicou que, o sangue estava latente, ou seja, oculto, e só foi possível visualizá-lo por meio dessa técnica. “As áreas que apresentaram reação foram coletadas e encaminhadas ao laboratório para análise de DNA e identificação genética”, completou.
Mesmo com a limpeza feita no local, a perícia identificou que o carrinho de mão apresentava marcas de sangue, confirmando a presença da vítima naquele ambiente. “É um trabalho de leitura dos vestígios que permite reconstituir os fatos e apontar evidências importantes para a investigação”, ressaltou Charles Vargas.
Após a coleta, o material foi encaminhado ao IAPF, conforme explicou a perita criminal do Instituto Juliana Dalbosco. “A gente recebe esse material e o processa de uma forma que seja possível identificar se pertence ou não a vítima, e nesse caso a gente conseguiu. Assim, a gente constrói o parentesco. O exame de DNA é feito em quatro etapas e, no final, a gente utiliza softwares que nos ajudam a interpretar esse perfil genético”, evidenciou.
Casa do investigado
No imóvel do suspeito, as equipes encontraram pinos utilizados para armazenar cocaína, um pé de maconha no quintal e instrumentos cortantes, como facas e facões. Uma das facas, de cabo preto, foi apontada pelo suspeito como a arma usada para desferir os golpes contra a vítima.
Coação
Ainda na investigação, duas mulheres que estavam no imóvel no dia do crime foram presas temporariamente. Em novo depoimento, elas revelaram que mentiram anteriormente por medo de serem assassinadas, já que o investigado exercia controle violento sobre elas. Uma delas relatou ter sofrido agressões físicas graves durante a gravidez. As autoridades reforçaram que essas mulheres são consideradas vítimas e que novos desdobramentos serão avaliados à medida que a investigação avança.
Confissão e prisão
Diante das evidências apuradas no inquérito policial, a Delegacia de Riachuelo representou pelo mandado de prisão temporária. Durante a abordagem, ele tentou se desfazer de um revólver calibre .38, com numeração suprimida e cinco munições intactas, jogando a arma pela janela. O armamento foi apreendido e será submetido à perícia de microcomparação balística com os projéteis retirados do corpo da vítima. Diante da posse da arma com numeração raspada, o suspeito também foi autuado em flagrante.
Após cumprimento da decisão judicial, o investigado foi conduzido à delegacia e, em interrogatório, confessou o feminicídio. Ele relatou que atirou duas vezes na vítima, desferiu os golpes de faca e a colocou ainda com vida no carrinho de mão, levando-a até a área onde foi encontrada morta. No dia seguinte ao crime, ele teria retornado ao local onde deixou o corpo, enquanto policiais militares isolavam a área e, em seguida, voltou para casa e continuou consumindo bebidas alcoólicas.
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Fonte: SSP/SE