A política de terror implementada dentro da Companhia de Saneamento de Sergipe (DESO) desde janeiro de 2023, quando Fábio Miditieri (PSD) assumiu como governador e passou a tocar com mãos de ferro seu modelo de gestão neoliberal e privatista, chegou ao seu ápice na última sexta-feira (11), quando foi concluído o Plano de Demissão Voluntária (PDV) da maior empresa pública do estado, com adesão de 352 trabalhadores efetivos. Somados ao 233 que, em março último, aderiram à cláusula de indenização por desligamento voluntário da empresa, prevista no Acordo Coletivo de Trabalho, deixaram os quadros da DESO, por todo tipo de pressão, 585 funcionários.
A saída desses trabalhadores é mais uma consequência danosa do processo de privatização da Companhia, prometida ainda em campanha pelo então candidato Fábio Mitidieri e sacramentada no dia 4 de setembro, com o leilão da concessão parcial dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário do estado, vencido pela Iguá Saneamento com um lance de R$ 4,5 bilhões pela outorga.
“Certamente, o governador, por seu perfil neoliberal e privatista, deve estar muito satisfeito com essa demissão em massa de trabalhadores da DESO, que era tudo o que ele queria: vender parte dos serviços da Companhia e demitir parte dos seus trabalhadores. Isso ele defendia em campanha e é esse o modelo de gestão que ele não abre mão, o da privatização dos serviços públicos”, critica Aécio Ferreira, secretário-geral do SINDISAN, sindicato que congrega os trabalhadores em serviços de saneamento básico do estado.
Ainda segundo Aécio, não se pode assegurar que os 352 funcionários que aderiram ao PDV o fizeram por voluntarismo. O sindicalista aponta a enorme pressão psicológica sofrida pelos trabalhadores dentro da Companhia ante a ameaça de demissão que vinha sendo disseminada internamente e em entrevistas nos vários veículos da imprensa, após a privatização parcial da empresa, e que certamente contribuiu para a decisão de muitos pela adesão.
“Ouvia-se muito nos corredores da empresa o temor de companheiros e companheiras com o que estava por vir, principalmente o pessoal da área comercial e de esgotos, setores que serão assumidos pela Iguá. Muitos trabalhadores efetivos essenciais para a Companhia aderiram por medo de demissão futura e de terem perdas financeiras”, relata.
Impactos econômicos
O sindicato da categoria chama atenção para outros dois pontos que não estão sendo considerados pelos que defendem o processo de privatização parcial da DESO. O primeiro, é o do impacto na parte que ficou da Companhia com a saída dessa grande quantidade de mão de obra qualificada e experiente, o que deverá afetar a qualidade dos serviços prestados e comprometer a gestão da nova DESO, que deixará de contar com trabalhadores com décadas de expertise em saneamento básico.
O segundo ponto que vem sendo ignorado, e não menos grave, diz respeito aos impactos na economia local dessa redução drástica de trabalhadores efetivos da DESO. Análise técnica encomendada ao analista de Desenvolvimento Socioeconômico e ex-supervisor técnico do DIEESE em Sergipe, Luiz Moura, sobre os impactos diretos e indiretos na economia sergipana da redução de mil trabalhadores (número inicialmente previsto nos estudos do BNDES) do quadro de funcionários da DESO, aponta que, levando em consideração a média salarial desses trabalhadores, acarretará um impacto negativo mensal direto na economia do estado de R$ 13,2 milhões, sendo R$ 11,6 milhões em relação aos salários dos trabalhadores demitidos e R$ 1,6 milhão em relação aos tickets alimentação a que eles têm direito, tendo em vista que esses valores deixarão de circular no mercado de consumo do estado.
“Em cima dessa análise, fazendo-se os cálculos sobre a demissão de 585 trabalhadores, chega-se ao montante de R$ 8,287 milhões mensais a menos circulando na economia do nosso estado. Isso perfaz R$ 99,45 milhões anuais a menos na nossa economia. Gostaríamos de saber de empresários e lojistas de Sergipe o que eles acham desse números, porque, para o governador, parece que isso pouco importa. E isso sem levar em consideração que está previsto, ainda, a demissão de cerca de dois mil trabalhadores terceirizados da DESO nas atividades fins, o que também impactará negativamente a economia sergipana”, aponta Aécio Ferreira.
Para o sindicalista, nunca é demais lembrar do saudoso empresário sergipano Oviêdo Teixeira, quando da sua atuação como membro do Conselho de Administração da DESO, à época, manifestou-se reiteradamente contrário à privatização da companhia. O conselheiro argumentava que a privatização da então Energipe (hoje Energisa) resultou na perda de muitos clientes em seus próprios empreendimentos, evidenciando a função de indutor do desenvolvimento econômico local desempenhada pelas empresas estatais.
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Da Assessoria de Imprensa/Sindisan