O publicitário Alexandre Wendel, pai de um jovem preso recentemente durante uma ação policial em Aracaju, na operação denominada Jardim Éden, mostra o desespero ao tomar conhecimento de que o filho estaria entre os que foram detidos.
Em tom de desabafo, Wendel diz que o filho não possui carro e é um jovem comum como os outros e que também é vitima de assalto em coletivos. “As drogas estão em todos os locais. As drogas estão presentes na violência doméstica, no abuso contra as mulheres. As drogas estão no crescimento da criminalidade”, desabafa.
Ainda durante o texto que foi postados nas redes sociais, o pai diz que a divulgação da ação policial foi “pífia”. “O que foi feito, com um convite a toda a imprensa para mostrar a ação policial no Dia Internacional de Combate às Drogas foi pífio, foi “para inglês ver” e, podem apostar, não mudou em nada esse drama social”.
Veja o que ele diz na íntegra:
Estou aqui como pai, mas também como cidadão.
As “drogas” estão, como todos sabem, nas festas eletrônicas onde meu filho DJ toca, mas estão também nas festas sertanejas, nos espetáculos de forró, de samba e em qualquer “balada inocente” das escolas que nossos filhos frequentam.
As drogas estão nos hospitais, nos escritórios, nas repartições, nas empresas, nas fábricas. Para consolar e comemorar; para aliviar e estimular.
As drogas estão nas universidades e nos presídios. Seria ingênuo achar que as drogas não estão na vida militar, onde me formei, com muito esforço e orgulho, oficial da Marinha.
As drogas estão nas ruas, nas estradas, nas favelas, nas residências mais abastadas, nas pequenos povoados e nos grandes centros..
As drogas são usadas por nossos ídolos, por artistas, por músicos, mas também por trabalhadores cumprindo jornadas excessivas.
Não se enganem: o álcool liberado para o adolescente é uma droga poderosa, e é com orgulho que muitos pais dizem: “é só um golinho”, “meu filho bebe comigo desde pequeno”.
As drogas estão na esquina das escolas, na casa da coleguinha com quem seu filho foi dormir.
As drogas fazem parte do cotidiano de milhões de pessoas, de todos os sexos, todas as crenças, todas as condições sociais.
As drogas, legais e ilegais, provocam acidentes fatais de trânsito todos os dias. Uma rotina, uma mera estatística.
As drogas estão presentes na violência doméstica, no abuso contra as mulheres.
As drogas estão no crescimento da criminalidade. Não somente em um pequeno pacote enviado pelos Correios, de forma legal, para esses quatro jovens expostos pela mídia.
As drogas chegam em toneladas, diariamente, pelos portos, em aviões, em carros blindados, de todas as formas. Lamentavelmente, isso nunca é mostrado, nem mesmo no Dia Internacional do Combate às Drogas.
A questão das drogas ganhou proporções tão graves que hoje, mais do que um tema restrito à segurança, tornou-se um desafio de saúde pública, em nosso país e em todo o mundo.
Não me poupo ao dizer que, entre todos esses personagens, está o meu filho Pedro, o DJ.
Ele nunca teve carro, é assaltado no ônibus como a maioria dos brasileiros, ao ir e vir, como também fui em minha adolescência. Meu saudoso pai, oficial do exército, professor, e minha mãe, até hoje costureira, não me deixaram nada e me ensinaram que devemos conquistar as coisas com nosso trabalho. E foi assim que fiz com meu filho Pedro, o DJ.
Se for provado que ele facilitou um crime, ele também deve ser punido.
Os motivos que podem levar uma pessoa a se entregar ao vício de drogas são vários e vão, desde a necessidade de aceitação por um grupo, até um problema de cunho familiar ou emocional. Da mesma forma, são inúmeras as pessoas que se aproveitam disso para traficar e obter lucro com as fragilidades alheias.
Mas como resolver essa situação?
Não estou jogando para a plateia, nem julgando ninguém. Estou apelando e dizendo que o tráfico cresce porque cresce o número de usuários de drogas.
E esse número só aumenta porque, por sua vez, aumenta o tráfico de drogas.
Isso significa que não adianta combater as drogas simplesmente como um “problema de polícia”.
O que foi feito, com um convite a toda a imprensa para mostrar a ação policial no Dia Internacional de Combate às Drogas foi pífio, foi “para inglês ver” e, podem apostar, não mudou em nada esse drama social. Restou apenas a falsa sensação de dever cumprido pelo Estado, transmitida pela mídia sempre sedenta por mais audiência.
Não adianta lutar contra o tráfico, enquanto crime, e esquecer-se de lutar contra as causas que levam as pessoas ao consumo e à dependência química.
A cidade está doente, tomada por drogarias onde qualquer um pode comprar “drogas oficiais”, com receita ou com o famoso jeitinho.
O combate às drogas deve se dar também no âmbito educacional, psicossocial, econômico e até mesmo espiritual.
Como pai, peço que olhem para dentro de suas casas, olhem em sua volta, em seus escritórios, agências, clínicas, no seu trabalho, em sua comunidade. Sobretudo, olhem para seus filhos com compaixão.
isso não é um trabalho da polícia.
Eu sou Pai.
E Pedro é meu filho.
Por Alexandre Wendel.
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Matéria extraída do site Fax Aju