O clima contido e propositivo que foi mantido, de maneira geral, ao longo de todo o debate com os candidatos à Prefeitura de São Paulo nesta segunda-feira, 23, se perdeu nos últimos minutos da transmissão. Pablo Marçal (PRTB), o último candidato a fazer as considerações finais, foi expulso faltando 10 segundos para o encerramento de sua fala — e o caso escalonou, terminando em agressão.
Segundo testemunhas que acompanharam o bastidor, Nahuel Medina, um membro da equipe de Marçal, deu um soco em Duda Lima, marqueteiro de Nunes. O soco foi no rosto, e o homem saiu sangrando. Na confusão, todos os candidatos sairam às pressas, e o evento terminou sem o encerramento formal planejado.
O debate, promovido pelo Grupo Flow, em parceria com o Grupo Nexo, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), teve cerca de 3 horas de duração e foi mediado pelo jornalista Carlos Tramontina. Foi o primeiro debate realizado por um grupo criado na internet e teve um modelo diferente do tradicional: sem embates diretos e com advertências que poderiam levar a expulsão, punição que se concretizou com Marçal.
Participaram do evento Guilherme Boulos (PSOL), José Luiz Datena (PSDB), Marina Helena (Novo), Pablo Marçal (PRTB), Ricardo Nunes (MDB) e Tabata Amaral (PSB). Foram quatro blocos, três com perguntas e um último para considerações finais. O tema das perguntas, assim como qual candidato iria responder ou comentar, era sorteado na hora.
Antes da transmissão oficial começar, conforme apurado pelo Terra, Marçal e Nunes já tinham trocado farpas pelos corredores — e, nisso, Marçal já rompeu a promessa que havia feito de que passaria a adotar uma “postura de governante” após ter mostrado “sua pior versão”, depois de ter sido alvo de uma cadeirada arremessada por Datena.
Mas, por conta do modelo do debate, no ao vivo, os candidatos foram “obrigados” a apresentar propostas. E, em comparação a debates anteriores, essa transmissão foi marcada por mais projetos apresentados do que acusações e xingamentos.
No primeiro bloco, por exemplo, os candidatos foram questionados por especialistas sobre população em situação de rua, segurança pública, educação, transporte, saúde e acessibilidade. Já no segundo e no terceiro, quando as perguntas vieram de eleitores, os temas foram diversos: preservação de monumentos históricos, transporte escolar gratuito, planos de inclusão para imigrantes, luta contra a fome, passagem de ônibus, turismo, poluição, planos de alfabetização, políticas públicas para mulheres, recursos para projetos sociais em periferias, investimento no empreendedorismo e dificuldades de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS).
O debate fluiu tranquilo nos dois primeiros blocos. A primeira ‘cutucada’ foi de Tabata, ao trazer à tona que Nunes irá entregar a cidade com piores resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). O prefeito argumentou que a cidade tem índices similares a de outros Estados, citando dificuldades da pandemia.
Segundo dados do Indicador Criança Alfabetizada, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC), por meio do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), a cidade de São Paulo tem 37,9% das crianças alfabetizadas no final do 2º ano. A média estadual é de 52% e a nacional é de 56%.
Depois, Marina e Marçal foram sorteados para responder uma pergunta sobre qual seria a posição do candidato, como prefeito, no caso de uma nova pandemia. Os dois, em dobradinha, evocaram a polarização política.
Marina começou questionando o governo Lula sobre a situação em torno da dengue. Marçal disse respeitar especialistas da saúde, mas que considera “nojento” a politização feita em torno da pandemia. Ele também falou imaginar que “Bolsonaro fez todas as coisas que ele fez tentando acertar” e que o “passaporte sanitário” oprimiu as pessoas, frisando que ele defende a liberdade. A ‘dobradinha’ Marina e Marçal se repetiu no debate.
Depois, Marina e Marçal foram sorteados para responder uma pergunta sobre qual seria a posição do candidato, como prefeito, no caso de uma nova pandemia. Os dois, em dobradinha, evocaram a polarização política.
Marina começou questionando o governo Lula sobre a situação em torno da dengue. Marçal disse respeitar especialistas da saúde, mas que considera “nojento” a politização feita em torno da pandemia. Ele também falou imaginar que “Bolsonaro fez todas as coisas que ele fez tentando acertar” e que o “passaporte sanitário” oprimiu as pessoas, frisando que ele defende a liberdade. A ‘dobradinha’ Marina e Marçal se repetiu no debate.
O clima de embate continuou. Mas, dessa vez, com Marina. Isso porque, sobre o tema, Boulos contou que criará um mutirão Paulo Freire de alfabetização para jovens e adultos e que “não deixará ninguém para trás”. Marina, que falou na sequência, disse que se arrepiou com a fala de Boulos, pontuando que o método citado pelo oponente é um dos motivos da educação da cidade estar “uma lástima”. Ela também citou que terá “menos comunismo” e menos “ideologia de gênero” na educação, e que professores que não ensinam “têm que sair pra dar lugar aos que querem ensinar”. Boulos usou sua tréplica para comentar sobre os “fantasmas” criados por bolsonaristas, desmentindo fake news.
Em outro momento, ao ser perguntado sobre investimento no empreendedorismo na cidade, Datena usou a maior parte do tempo de sua resposta para rebater Pablo Marçal, que soltou indiretas com ele, recebendo uma advertência, a primeira do programa. Pelos ataques de Datena, Marçal teve um direito de resposta concedido — o primeiro e único do debate. Ele gastou um minuto e meio para contextualizar sua fala e, no fim, foi cortado antes de dizer o que planejava.
Fim caótico
No quarto e último bloco, o debate teve uma reviravolta e terminou em agressão. Primeiro, cada candidato teve dois minutos para fazer suas considerações finais.
Marçal foi o último a falar. Faltando cerca de 40 segundos de fala, ele fez a promessa de que Boulos “irá para a cadeia” e foi interrompido pelo mediador. Tramontina deu uma advertência e falou que o candidato estaria utilizando os últimos momentos do debate para “abaixar o nível” e pediu para que ele se acalmasse.
Ao retomar a fala, Marçal afirmou que “também vai prender” o prefeito por envolvimento com esquema de creches. Mais uma vez, ele foi interrompido e advertido pelo moderador. Marçal, então, ficou mais 15 segundos em silêncio. E quando restavam apenas 15 segundos de fala, ele retomou a acusação e chamou Nunes de ‘banana’. Ele, então, foi advertido e excluído do debate.
Marçal foi convidado a se retirar e, no segundo seguinte, uma confusão tomou conta da transmissão. Em meio a gritos de “segura ele”, a transmissão foi interrompida momentaneamente. Depois, já sem os candidatos na sala, Tramontina explicou que o marqueteiro de Ricardo Nunes tinha sido agredido com um soco no rosto.
Esse foi o oitavo encontro entre os candidatos em São Paulo. Até o primeiro turno, a expectativa é que sejam 11 debates promovidos.
O primeiro turno das eleições municipais será no dia 6 de outubro, o primeiro domingo do mês. Já o segundo turno, se for o caso, deve ocorrer no último domingo de outubro, no dia 27.
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Fonte: Portal Terra