Fernanda Calgaro, do G1, em Brasília
Um dos principais integrantes da “tropa de choque” do presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o deputado André Moura (PSC-SE) anunciou nesta quarta-feira (18) que ocupará o posto de líder do governo Michel Temer na Câmara dos Deputados.
O parlamentar de Sergipe foi alçado à liderança do governo com o apoio de 13 partidos, entre os quais PMDB, PSD, PP e PR. Antes mesmo de anunciar que assumiria o posto, Moura se apresentou como líder do governo durante reunião dos líderes partidários com o presidente interino da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA).
Logo após a reunião, o novo líder do governo confirmou, em entrevista coletiva, que aceitou o convite de Temer em uma reunião realizada na noite desta terça (17). O líder atua como um porta-voz do Executivo na Câmara e tem a tarefa de negociar com os demais partidos a aprovação de matérias de interesse do Palácio do Planalto.
“Tivemos uma reunião ontem com o presidente [em exercício] Michel Temer e aceitamos o convite para assumir a importante missão de liderar o governo aqui na Câmara”, disse Moura em entrevista coletiva nesta quarta.
Nesta terça, os líderes dessas 13 legendas se reuniram com o presidente da República em exercício para apresentar o nome de André Moura como sugestão para ocupar a liderança do governo na Câmara.
Como forma de pressionar Temer, os líderes argumentaram que o grupo soma cerca de 280 deputados, número que já dá maioria dos parlamentares na Câmara. O encontro, o primeiro de Temer com os líderes dos partidos, ocorreu no Palácio do Planalto.
Além de Temer, também participou da reunião com o grupo de deputados o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima.
O apoio ao nome de André Moura foi unânime no grupo apelidado de “Centrão” e que é formado por PMDB, PP, PR, PSD, PTB,PROS, PSC, SD, PRB, PEN, PTN, PHS ePSL.
Outro nome que era cotado para a liderança do governo era o do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que tem o apoio de outros partidos que compõem o governo Temer, como PSDB, DEM e PPS. Questionado sobre se não via nenhum mal estar em não ter o apoio deles, Moura disse não ter visto “nenhum tipo de retaliação”.
Moura defendeu que a Câmara vote logo as medidas provisórias que trancam a pauta de votações no plenário para abrir espaço para a análise de propostas do governo Temer. Sobre a eventual retomada da CPMF, porém, desconversou: “Vamos aguardar a orientação do governo”.
Cunha
A indicação do deputado do PSC para a liderança do governo na Câmara sinaliza que, mesmo afastado da presidência da Casa por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), Eduardo Cunhamanterá forte influência no Legislativo durante o governo Temer.
Ele está com o mandato de deputado federal suspenso por tempo indeterminado por suspeita de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato e do Conselho de Ética da Câmara.
Embora não seja integrante do Conselho de Ética, André Moura é um dos maiores articuladores para tentar barrar o processo por quebra de decoro parlamentar enfrentado pelo presidente afastado da Câmara.
Moura foi o autor de uma questão de ordem que chegou a anular uma decisão do colegiado. A anulação, posteriormente, foi cancelada pelo próprio Cunha, após a medida ter uma repercussão negativa e deputados se retirarem do plenário da Câmara, em protesto.
Apesar de ser aliado de Cunha, Moura negou haverá qualquer tipo de influência do peemedebista na sua posição como líder e atribuiu a sua indicação para o cargo ao apoio obtido entre os demais partidos.
“Estou aqui nessa Casa há seis anos e, durante esse período, construí um relacionamento com os parlamentares e, mais, precisamente, o trabalho que fizemos durante o processo de impeachment com outras lideranças, que foi fundamental para obter os 367 votos [para a abertura do processo na Câmara], isso permitiu que a gente pudesse ter o apoiamento de 13 partidos”, afirmou.
Moura admitiu que esteve com Cunha na última semana, mas que não havia conversado com ele após a sua indicação para líder do governo.
Impeachment
No ano passado, André Moura foi um dos coadjuvantes da deflagração do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara. No início de dezembro, logo após Cunha dar início à tramitação do processo, Dilma disse, em um pronunciamento na TV, que não faria barganha com ele.
Em resposta, Cunha acusou Dilma de mentir à nação e contou que ela teria chamado o deputado André Moura, emissário de Cunha, para propor que, em troca da aprovação da CPMF, o PT votaria a favor de Cunha no Conselho de Ética. O então chefe da Casa Civil, Jaques Wagner, rebateu Cunha e disse que Moura não tinha estado com a petista.
Lava Jato
No último dia 5, ao pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a investigação de mais 31 pessoas no principal inquérito da operação, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, incluiu o nome de Moura.
Esse inquérito apura denúncias de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e corrupção contra o que a PGR chama de “organização criminosa” que atuava para desviar dinheiro da Petrobras.
Em abril, o ministro Teori Zavascki, autorizou incluir André Moura como investigado junto com o presidente afastado da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) dentro de um dos inquéritos da Operação Lava Jato.
Segundo o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Moura fazia parte de um grupo de parlamentares mobilizados por Cunha para pressionar empresários do grupo Schahin a beneficiar, numa disputa judicial, o doleiro Lúcio Funaro, considerado “sócio oculto” do peemedebista.
Sobre a Lava Jato, Moura negou qualquer envolvimento com empresas citadas na operação e disse que não recebeu nenhuma doação delas. Ele argumentou que foi um dos sub-relatores na CPI da Petrobras e que a sua atuação durante os trabalhos da comissão comprovaria que ele não tem “nada a temer”.
“O fato de eu ter sido incisivo, duro, é a prova maior de que não tenho nada a temer. A maneira como eu me comportei na CPI já fala por si só”, disse o deputado.
Questionado sobre um outro inquérito a que responde no STF, por suposta tentativa de homicídio, ocorrida na cidade de Pirambu, Sergipe, em 2007, Moura disse que já foi pedido o arquivamento do processo no seu estado por falta de provas.
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