por Valter Lima, do Brasil 247
O que todo partido político deseja é que seus quadros tenham empatia popular e que possíveis candidaturas despontem naturalmente pelo desejo da sociedade. Mas, ao que parece, para o PT de Sergipe, este tipo de situação não é interessante. Pelo menos, é o que dá para se depreender do atual momento de debates internos pelos quais o partido passa na tentativa de excluir a ex-primeira-dama do Estado, Eliane Aquino, do processo eleitoral que se aproxima.
Reunidos nesta quinta-feira (20), membros da Executiva Estadual do partido não reconheceram, por maioria de votos, a filiação de Eliane e, consequentemente, excluíram o nome dela do processo interno para definição das candidaturas. Dos 17 integrantes do diretório petista em Sergipe, dez foram contra a ex-primeira-dama (todos ligados ao presidente da legenda, Rogério Carvalho, e a sua vice, Ana Lúcia). Seis votaram a favor de Eliane – todos do grupo que Déda liderou. Um votante se absteve (Severino Bispo). O caso será levado ao Diretório Nacional do partido.
A decisão desta quinta já nasce problemática, uma vez que não cabe à direção estadual decidir sobre filiações. Esta é uma questão nacional, pois a filiação de um brasileiro pode se dar em qualquer lugar do país, já que o que é pré-requisito para um cidadão estar apto a disputar eleições é seu domicílio eleitoral – e o de Eliane o é, desde o início da década passada, em Sergipe.
Neste mesmo cenário, outra situação, amplificada por alguns setores da mídia, alimentados por informações falaciosas, dá conta de uma suposta impossibilidade de Eliane não poder se candidatar a cargo público por não ser filiada ao PT. Mas isto não procede. Ela é sim filiada. Entrou no partido em Brasília. A transferência desta filiação para Sergipe passou por problemas, mas foi reinserido no Filiaweb (sistema de filiação com o qual os partidos e Tribunais Eleitorais trabalham) em 9 de dezembro do ano passado, e, diferentemente do que foi divulgado, o nome da atual secretária da Inclusão Social já consta no sistema interno do Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe como filiada ao PT do Estado e estará disponível para consulta pública em abril.
Além disso, a resolução número 20 do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) permite que a pessoa possa comprovar sua filiação através de fotos, registros audiovisuais etc. Neste caso, quem iria duvidar da militância e da filiação de Eliane Aquino, ela que sempre esteve presente em todas as campanhas do partido nos últimos pleitos eleitorais? Ou seja, o impedimento da não-filiação de Eliane, que alimenta os discursos daqueles petistas que votaram contra sua pré-candidatura, não existe. E isto já é do conhecimento de todos. Mas o que se percebe nas declarações públicas da atual direção do PT é uma má vontade de minimizar esta questão e dá-la como superada.
Uma possível candidatura da viúva do governador Marcelo Déda, que morreu prematuramente em dezembro passado, surgiu na sociedade, num momento pessoal extremamente delicado para ela, seus filhos e família. Não foi uma imposição política, vontade particular ou uma construção superficial, mas sim desejo espontâneo na sociedade, despertado pela conduta de Eliane em todo o momento em que esteve ao lado de Déda, principalmente, enquanto ele lutava bravamente contra o câncer.
Entre aliados – e até entre adversários políticos –, o nome de Eliane já é inserido em pesquisas para avaliar seu potencial eleitoral, que, pelo que se viu até o momento, é alto. A possibilidade de uma candidatura da ex-primeira-dama anima candidatos da base governista e, segundo fontes petistas, é vista com muito entusiasmo pelo ex-presidente Lula e pela presidente Dilma.
Mas a maior parte da direção do PT prefere ignorar todo este cenário pró-Eliane, que, frise-se, nunca impôs seu nome, nem mesmo trabalhou nos bastidores para ser candidata. Já afirmou, em diversas ocasiões, que uma possível candidatura sua seria muito mais o cumprimento de uma tarefa política do que um desejo pessoal. Sobre isto não é preciso nem mesmo muita justificativa. A discrição de Eliane ao longo de todas as gestões de Marcelo Déda é prova do seu desapego por cargos públicos. Só na quarta gestão de Déda – a segunda no governo do Estado – é que aceitou ser secretária, numa área que ela domina muito bem, a inclusão social.
No entanto, seu desinteresse por cargos não significa ausência de militância política. Ao contrário. Eliane tem vida política no PT, como já informado neste texto, desde Brasília. Em Sergipe, igualmente, sempre participou das atividades partidárias e sempre teve papel ativo nas campanhas de Marcelo Déda. Não é à toa que ela fez questão de expressar sua opção política na eleição interna do PT no ano passado, mesmo estando em São Paulo acompanhando o governador.
Por tudo isto, é incompreensível a recusa do PT de Sergipe em desconsiderar as vozes das ruas. Porque barrar uma candidatura de Eliane Aquino? A rejeição ao seu nome é inexistente. Seu trabalho, desde que chegou a Sergipe, é marcante. O foi na organização não-governamental Missão Criança, que, em seu auge, atendeu mais de 5 mil crianças no bairro Santa Maria, na capital. E o é na condução das políticas de combate a miséria e de inclusão social em todo o Estado.
Que interesses seriam contrariados com Eliane candidata ao Senado? Que acordos teriam que ser desfeitos para que a ex-primeira-dama pudesse entrar na disputa pela representação de Sergipe no Senado? Os sergipanos precisam dessas respostas.