Não foi pela Copa do Mundo. Que pena. A vitória da seleção brasileira por 3 a 1 sobre Portugal, nesta terça-feira, em Foxboro, nos Estados Unidos, teve todos os ingredientes de um Mundial. Estádio lotado, craques do passado (Pelé e Eusébio receberam os jogadores), rivalidade à flor da pele, golaços e um gênio inspirado.
Principal jogador da Seleção, Neymar jogou tão bem que nem deu para sentir tanto a ausência do português Cristiano Ronaldo, poupado. O atacante do Barcelona jogou como gente grande, como craque de Copa do Mundo. Encarou provações, pancadas e respondeu com um golaço – Thiago Silva e Jô fizeram os outros.
Antes de a bola rolar, o status de amistoso era até aceitável. Depois, não. Os jogadores portugueses foram muito duros. Exagerados às vezes. Teve cotovelada em Neymar, pisão em Bernard… Mas tudo isso é importante na construção de uma equipe que vai jogar (e sediar) uma Copa do Mundo no ano que vem.
O debate no avião fretado para Europa deve render. Portugueses e brasileiros que atuam em clubes europeus retornam ao Velho Continente na mesma aeronave. Assim como o técnico Luiz Felipe Scolari, que tem compromissos por lá. Na bagagem, porém, aqueles que vestiram a amarelinha levam mais alegria.
A seleção brasileira volta a se reunir no próximo mês de outubro. No dia 12, em Seul, vai encarar o time local, a Coreia do Sul. Depois, no dia 15, em Pequim, na China, o adversário será a Zâmbia. Depois disso, em novembro, o Brasil fará mais dois jogos. A CBF, no entanto, ainda não confirmou os rivais e os locais.
Amistoso? Só no nome
Por conta da viagem de ônibus de Boston para Foxboro, três jogadores da seleção brasileira vomitaram antes da partida: David Luiz, Neymar e Thiago Silva. Nada, porém, que interferisse dentro de campo. Pelo contrário. Os três foram decisivos na etapa inicial do amistoso entre brasileiros e portugueses.
Amistoso nem tanto. Desde o começo da partida, a equipe do técnico Paulo Bento tomou postura rígida nos lances. Principalmente o luso-brasileiro Pepe, que provocou muito o craque Neymar. Até parecia uma prévia dos futuros clássicos entre os espanhóis Barcelona e Real Madrid.
Sem entrar na provocação adversária, o Brasil bobeou na defesa e permitiu aos portugueses abrirem o placar. Aos 17 minutos, Paulinho errou passe e, na sequência, Maicon falhou em recuo de cabeça para Julio César. Esperto, Raul Meireles tocou para o fundo do gol: 1 a 0.
Nem com a vantagem Portugal abandonou o jogo pesado. Bruno Alves, aliás, estava inspirado. Pisou em Bernard e depois acertou o cotovelo no rosto de Neymar. Coube, então, ao capitão Thiago Silva colocar ordem na partida. Aos 23 minutos, após escanteio cobrado por Neymar, ele fez um golaço de cabeça.
O empate recolocou a seleção brasileira no jogo. Ou melhor: a partir daí o Brasil foi superior. Tanto que chegou ao gol da virada aos 34 minutos. Neymar avançou sozinho do meio-de-campo à grande área, deixando vários marcadores para trás e tocando na saída do goleiro Rui Patrício. Um golaço.
A Seleção só não ampliou o placar porque faltou um pouco de capricho na definição das jogadas. Bernard, Paulinho e Neymar tiveram ótimas chances, mas desperdiçaram. Perigoso, Portugal também assustou. Primeiro Nani, de cabeça, e depois em chute do autor do gol, Raul Meireles.
Jô artilheiro
A seleção brasileira não deu tempo de Portugal tentar alguma reação no segundo tempo. Logo aos quatro minutos, Neymar, em noite inspirada, deu ótimo passe para Maxwell na esquerda. O lateral cruzou para Jô completar. É quinto gol do atacante do Atlético-MG nessa nova era Felipão.
Sem conseguir chegar ao ataque, Portugal tentava se fechar na defesa para evitar mais gols da seleção brasileira. Com Neymar e Bernard abertos pelas pontas, o time do técnico Luiz Felipe Scolari avançava com velocidade para pressionar ainda mais o adversário. Na defesa, David Luiz e Thiago Silva faziam ótima partida.
Aos 15 minutos, Felipão fez uma alteração já prevista: colocou Oscar na vaga de Ramires. O meia do Chelsea ficou fora da partida contra a Austrália e começou no banco de reservas diante de Portugal por conta de uma entorse no tornozelo direito, sofrida ainda nos treinamentos em Brasília, na semana passada.
Com o placar praticamente definido, o jogo passou a ficar morno. O Brasil pressionava menos e o Portugal desistia de uma reação. Os técnicos, então, começaram a trocar peças e testar outros jogadores. Já nos minutos finais, por exemplo, Neymar saiu para a entrada de Lucas, ambos aplaudidos. Felipão quer definir os selecionados para a Copa, enquanto Paulo Bento tem ainda de conseguir a vaga.
O excelente amistoso desta terça-feira mostrou ao técnico da seleção brasileira que o grupo para o Mundial está bem encaminhado. E alertou o treinador português de que é preciso abrir o olho para não ficar fora do evento no Brasil.
BRASIL 3 X 1 PORTUGAL
Julio César; Maicon, David Luiz, Thiago Silva e Maxwell; Luiz Gustavo, Paulinho (Henrique) e Ramires (Oscar); Bernard (Hernanes), Neymar (Lucas) e Jô (Alexandre Pato). Rui Patrício, João Pereira (Helder Postiga), Pepe (Luis Neto), Bruno Alves, Fábio Coentrão (Antunes), João Montinho (Rúben Amorim), João Pereira, Miguel Veloso, Vieirinha, Raul Meireles, Nani e Nelson Oliveira.
Técnico: Luiz Felipe Scolari Técnico: Paulo Bento
Gols: Raul Meirelles, aos 17 do primeiro tempo; Thiago Silva, aos 23 do primeiro tempo; Neymar, aos 34 do primeiro tempo; Jô, aos 4 do segundo tempo
Cartões amarelos: Neymar, Ramires (Brasil); João Pereira, Bruno Alves, Helder Postiga (Portugal)
Estádio: Gillette Stadium, em Foxboro (EUA). Público: 62.310 torcedores
Data: 10/9/2013. Árbitro: Juan Uzman (EUA)
Por Leandro Canônico, direto de Foxboro, Estados Unidos para o Globo Esporte