CRISTIANE SEGATTO, da REDAÇÃO ÉPOCA
Revista diz que Déda ‘sofre de câncer de pâncreas’
Nas últimas semanas, rumores sobre o estado de saúde do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganharam diferentes versões. Segundo a mais difundida, Lula frequenta o Hospital Sírio-Libanês, discretamente e à noite, para se tratar de um câncer de pulmão. Desde a descoberta de um tumor na laringe, em 2011, variadas especulações têm ocupado políticos, médicos e jornalistas. Na semana passada, o cardiologista Roberto Kalil Filho, médico de Lula, recebeu ÉPOCA para falar sobre a saúde do ex-presidente. Kalil telefonou para Lula, que estava no Equador, e, com a autorização dele, revelou detalhes sobre a possível origem da boataria.
De acordo com Kalil, um exame de imagem identificou um gânglio aumentado no pescoço de Lula em dezembro do ano passado. Depois de analisar o caso, os médicos concluíram que o achado era resultado de uma faringite. “Qualquer pessoa que sofrer um processo infeccioso terá uma inflamação nos gânglios. Ele não era indício de câncer”, diz o oncologista Artur Katz, um dos especialistas responsáveis pelo tratamento do ex-presidente Lula.
Lula revelou o episódio a pessoas próximas. Ao ser contada e recontada fora do hospital, a história foi interpretada como um indício de que o câncer voltara. Em março, um novo ingrediente voltou a animar os rumores. Lula teve uma febre de 39 graus e não quis ir ao médico. Vários petistas souberam e se preocuparam. José De Filippi Júnior, secretário de Saúde do prefeito Fernando Haddad, telefonou para Kalil várias vezes num sábado. “Depois de várias ligações, disse a ele que mandaria uma ambulância buscar Lula, caso ele não viesse ao hospital”, afirma Kalil.
No dia seguinte, a história da febre do ex-presidente Lula e da recusa em ir ao hospital se disseminou durante um churrasco, onde estavam reunidos vários petistas. Dois dias depois, Lula partiu para uma viagem de uma semana pela África. A febre passou. Os boatos continuaram.
Na volta da viagem, Lula participou de um seminário organizado pelo jornal Valor Econômico. Na ocasião, justificou a voz mais rouca que de costume:
– Desculpa, estou com a garganta cansada. Não se preocupem que não é o câncer. O câncer não existe mais. Embora eu tenha deixado de ser presidente, não perdi o hábito de falar demais.
Tumores de laringe como o de Lula costumam voltar em 50% dos casos. Os médicos afirmam que não há indício de recidiva da doença. No início de abril, Lula foi submetido a uma laringoscopia e a um exame de imagem que capta alterações metabólicas relacionadas à formação de tumores em qualquer lugar do corpo (PET/CT). Nenhuma anormalidade foi registrada. Kalil diz que Lula esteve recentemente no Sírio-Libanês, mas o objetivo foi visitar amigos internados, como o governador do Sergipe, Marcelo Déda, que sofre de câncer de pâncreas. Kalil acredita que os rumores não foram resultado de intriga política, nascida no PT ou na oposição. “Os boatos surgiram da má interpretação de dois acontecimentos reais: o gânglio e a febre”, afirma.
O oncologista Artur Katz lamenta o surgimento de sucessivos rumores sobre a saúde de Lula. “Quando surge um boato, o ônus da prova recai sobre a vítima, e não sobre quem o inventa. É cruel”, diz. Os próximos exames de Lula estão programados para agosto.