Reflexão “do Povo para o Povo”, por Fábio Lemos Lopes*
Vítima ou cúmplice? Há quem acredite que o sofrimento traga a consciência; todavia, uma parcela expressiva do eleitorado sancristovense contrariou essa lógica nas eleições municipais 2012. E digo isso, com o olhar de quem vem sofrendo enquanto munícipe, ao longo das administrações que governaram a nossa cidade e observando mais detidamente esse fenômeno como candidato que fui nesse pleito eleitoral.
Avalio como legítima toda escolha popular através do sufrágio; entretanto é preciso contextualizar e refletir como acredito que se dá todo esse processo eleitoral em São Cristóvão. Verificamos em um primeiro momento a honestidade do eleitor que vende o seu voto para com quem o corrompeu, como em um sistema de comércio capitalista onde existe a lei da “demanda e da oferta”, ou seja, o eleitor vende o seu voto, vota em quem o comprou, e logo, em seguida, predispõe-se a torcer para o candidato comprador, justificando o seu ato no campo da sua moral; criando aí uma tendência política amoral, capaz de “votar até em um cachorro”, como disse um vereador eleito. Mas tentando corrigir a infeliz frase do nosso futuro representante no parlamento municipal, acreditamos que ele quis fazer referência ao povo que votou em uma marca, não em pessoas.
A segunda análise possível dá conta de uma cumplicidade egoísta de grande parte do eleitorado, de quem ocupa um lado, pensando tão somente no exercício das próprias razões umbilicais e por que não dizer: das necessidades individuais? Essa fatia do eleitorado nos leva a compreender como a “necessidade venceu a esperança” no município de São Cristóvão. Muitos pensadores afirmam que nosso sistema democrático é tutelado pelo poder econômico concentrado nas mãos de poucos, e isso potencializa os políticos que manipulam as massas através de maciços investimentos em empresas de marketing, de tal sorte vale aquela máxima de que uma mentira contada muitas vezes passa a ser verdade na cabeça do povo. Pura coincidência ou isso também acontecera nas eleições de São Cristóvão?
Já fomos alvo de matéria negativa no Jornal Nacional. O lixo tomava conta da nossa cidade naquele momento. O famoso jornalista Pedro Bial falava que éramos uma cidade dormitório”, pois aqui não se gera um pé de emprego”; os postos de saúde não funcionavam, enquanto alguns dos nossos cidadãos morriam na porta dos postos de saúde sem atendimento digno; por outro lado o comércio agonizava. Vale a pena lembrar que daquele momento a esta eleição de 2012, há que se ver o que realmente melhorou. Agora mesmo, agora estamos despontando como uma das cidades mais violentas do Estado em números de homicídios, (ver mapa da violência) com relação à educação há décadas não se constrói uma escola nesse município, o IDEB (índice de desenvolvimento da educação básico) aponta uma escola do nosso município com o pior desempenho estudantil e, mesmo diante dos tantos acontecimentos negativos, não nos veio a consciência ainda politica transformadora.
Nem a tão divulgada lei da ficha limpa acordou o nosso povo. É cedo para afirmar quem pagará o maior preço, se o justo ou o pecador (digo quem vende o seu voto ou quem exerce o seu sagrado direito de votar em acordo com a sua consciência cidadã); sabemos que cada um pagará o preço igualmente na medida da sua desigualdade. Os desdobramentos do nosso conturbado processo eleitoral ainda é uma incógnita, mas uma coisa é fato: a quarta cidade mais antiga do Brasil, tendo a Praça São Francisco de Assis tombada como patrimônio da humanidade – terra de João Bebe Água -, e que em tempos memoráveis já foi a capital do Estado, não merece tanto atraso.
*Fábio Lemos Lopes, é Funcionário Público Estadual, Bacharel em gestão pública, pós-graduado em violência, criminalidade e políticas públicas e acadêmico de direito.
E-mail: fabiolemoslopes@hotmail.com