A partir de janeiro, o município de Conde, no litoral da Bahia, terá dois prefeitos.
A legislação eleitoral não permite, mas o casal Madeirol parece não se incomodar. A titular, eleita com 53,68% dos votos, é Marly Leal de Oliveira, a Marly Madeirol (PTN).
“Mas o prefeito de fato sou eu”, disse ontem à Folha o marido dela, Paulo de Oliveira, o Paulo Madeirol (PSD).
Para ele, a cidade só tem a ganhar. “Pela primeira vez Conde vai ter dois prefeitos, um homem e uma mulher.”
Paulo é um dos 68 candidatos a prefeito considerados fichas sujas pela Justiça Eleitoral que desistiram de recursos em instâncias superiores, renunciaram à candidatura na semana da eleição e foram substituídos por familiares.
Além de Paulo Madeirol, outros 32 desses políticos conseguiram eleger esses parentes após a manobra, como mostrou ontem a Folha.
Paulo era o candidato até a antevéspera da eleição. Barrado com base na Lei da Ficha Limpa, ele renunciou à candidatura e nomeou a mulher em sua vaga. “Transferi quase 100% dos meus votos”, disse Paulo.
Dono de uma loja de materiais de construção (a Madeirol, que virou o nome “artístico” do casal), Paulo foi prefeito entre 2001 e 2008.
Em 2003, um funcionário dele foi flagrado quando retirava areia em área irregular. Acabou condenado e enquadrado em um dos itens da nova legislação eleitoral.
Mesmo assim se empenhou na disputa. “Comecei a fazer campanha antecipada no ano passado”, afirmou.
Antes de Paulo, a Folha contatou a prefeita eleita, mas ela orientou a reportagem a procurar o marido.
Questionado sobre qual o envolvimento que a mulher tinha com a política antes de se eleger prefeita, o empresário foi direto: “Nenhum”.
Em Padre Paraíso (MG), Neia de Saulo (PT) substituiu o marido, Saulo (PTB).
“O povo queria ele, né? Mas como ele estava impedido, eu substituí”, declara a mulher do ex-prefeito, barrado porque teve as contas rejeitadas durante sua gestão anterior na cidade (2005-2008).
Neia reconhece que o marido participará da administração. “Mas de longe”.
Já em Itabirinha (MG), o ex-prefeito José Reis (PSDB) diz que vai participar mais de perto da gestão do filho que o substituiu nas urnas, Edmo Reis (PSDB). “Vou ser o parceiro dele. Vou fazer um trabalho voluntário.”
Em Boninal (BA), o ex-prefeito Ezequiel Paiva (PP) desligou o telefone quando a reportagem explicou o motivo do telefonema. Ele elegeu o filho Vitor, 26.
O juiz Márlon Reis, coordenador do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral e um dos autores da Lei da Ficha Limpa, considera “escandalosamente fraudulento” o mecanismo de alteração de candidato às vésperas das eleições.
“O candidato muitas vezes sabe que não pode concorrer, mas segura a candidatura até a última hora. E o eleitor acaba indo às urnas para votar em um candidato e, na verdade, vota na mulher ou no filho [deste candidato]”.
Reis disse que, para evitar esse tipo de situação, é preciso haver alterações na Lei das Eleições. “O prazo final para o registro de candidatura deveria ser anterior a junho, quando se dá o início das campanhas. Assim, só sairiam candidatos aqueles que tivessem condições de ser diplomados.”