“Viu esse aqui? Ele é o nosso Neymar”. A frase é de Sebastián Domínguez, direto da concentração do Vélez Sarsfield, apontando para “El Burrito” Martínez. Sem ver o camisa 7 dos argentinos em campo, parecia exagero. Desde que a bola rolou, porém, o atacante justificou boa parte do elogio. Neymar, o verdadeiro, por outro lado, não foi o de sempre. E assim o Santos saiu atrás na primeira partida das quartas de final da Libertadores, ao perder por 1 a 0, gol de Obolo, no estádio José Amalfitani. Esta é a primeira vez que o time passa em branco desde a final do Mundial, contra o Barcelona, no Japão.
Bem abaixo tecnicamente na primeira etapa e um pouco melhor na segunda – mas só um pouco -, o time de Muricy Ramalho esteve longe de seu normal. Neymar tentou pouco – mas tentou. E Ganso foi completamente omisso. E nas poucas vezes em que tentou passe, errou e armou contra-ataque para o adversário.
O Vélez, até por isso, dominou a partida, mesmo sem ser brilhante. Sempre contando com as boas jogadas de Martínez, disparado o melhor em campo. Obolo, após 16 jogos em jejum, desencantou – e só não fez outro por causa da boa atuação de Rafael.
Muricy até tentou mudar a dinâmica da partida usando Borges no lugar do apagado Alan Kardec. A intenção da alteração foi boa: usar o bom pivô do centroavante para segurar a bola na frente e triangular com Neymar e Ganso. Em alguns lances deu certo, mas não o suficiente para ameaçar Barovero. O técnico também substituiu Elano por Felipe Anderson, sem sucesso.
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Na pressão da sua torcida, que encheu o estádio José Amalfitani, os argentinos repetiram o placar do Boca Juniors sobre o Fluminense. O Santos de Neymar não conseguiu superar o de Pelé para quebrar o pequeno tabu sem vitórias sobre o Vélez (agora, são quatro jogos, com duas derrotas e dois empates).
Com o resultado, o mais provável é que o Alvinegro decida mandar o jogo de volta, na próxima quinta-feira, na Vila Belmiro, onde tem 100% de aproveitamento: oito vitórias em oito partidas. A confirmação deve sair nesta sexta-feira. Pacaembu e Morumbi são as outras opções.
Para chegar à semifinal, o Peixe precisará de um triunfo por pelo menos dois gols de diferença. Em caso de repetição do placar, a vaga será decidida nos pênaltis.
‘Chutões’ para o ataque e Muricy irritado
Nem pressão nem o clima de guerra tão esperados pelos brasileiros em partidas decisivas de Libertadores na Argentina passaram perto do estádio José Amalfitani na noite desta quinta-feira. A festa dos donos da casa limitou-se a uma chuva de papéis picados promovida pela torcida na entrada da equipe no gramado, fato que acabou retardando o início do duelo em quase dez minutos.
Dentro de campo, um Santos totalmente irreconhecível nos primeiros 45 minutos. O tão elogiado poder ofensivo alvinegro ficou praticamente adormecido na primeira etapa, com apenas duas finalizações na primeira metade do jogo: uma de Elano, de longa distância, logo no primeiro minuto, e outra de Ganso, aos 19, que obrigou o goleiro Marcelo Barovero a fazer boa defesa.
Com uma forte e leal marcação, o Vélez conseguiu anular Neymar. Com confiança no setor defensivo nos primeiros minutos, os donos da casa foram se soltando aos poucos no ataque e começaram a arriscar mais. Aos 31 minutos, Fernandez invadiu a grande área pela direita e bateu cruzado para boa defesa de Rafael.
Quando Muricy cobrava mais toque de bola da equipe e menos “chutões” para o ataque, veio o castigo para os visitantes. Aos 35 minutos, após boa troca de passes do meio-campo do Vélez, Emiliano Papa cruzou da esquerda. A bola desviou em Elano e facilitou para Obolo, que se antecipou ao zagueiro Durval e deu um toque sutil de cabeça para tirar do alcance de Rafael: 1 a 0 e vantagem no marcador até o intervalo.
Neymar ‘acorda’, Ganso não
Para a segunda etapa, as duas equipes voltaram sem alterações. Mas lance logo no primeiro minuto mostrou que a postura do Santos seria diferente. Para fugir da marcação, Neymar passou a buscar a jogada no campo de defesa. Com o camisa 11 “acordado”, o Peixe tentou a ser mais perigoso no ataque. E o atacante começou a ser perseguido pela defesa do Vélez, principalmente pelo zagueiro Cubero.
Aos quatro, Elano cobrou escanteio e quase surpreendeu Barovero, que teve trabalho para cortar o lance. No minuto seguinte, Neymar foi lançado na esquerda e tentou chutou cruzado, mas a zaga argentina afastou o perigo.
Sem a criatividade tradicional de Ganso, que teve atuação bem abaixo da média na Argentina, o Santos apostou nas jogadas individuais de Neymar para furar o bloqueio do Vélez Sarsfield. Apesar de criar mais no ataque, e pendurar o volante Cerro e o lateral Peruzzi, quem mais assustou foi o rival.
Obolo, em duas jogadas pelo alto, quase ampliou a vantagem dos donos da casa. Curioso é que o atleta, autor do gol do Vélez, atravessava um jejum de mais de 1.200 minutos sem marcar. Martínez e Fernandez, boas opções ofensivas do time argentino, assustaram nos arremates de longa distância. Aos 21, o meia tentou novo chute cruzado da direita e obrigou Rafael a fazer mais uma ótima defesa.
Nos minutos finais, com Borges no lugar de Alan Kardec, e Felipe Anderson na vaga de Elano, Muricy tentou dar mais velocidade ao ataque alvinegro, com mais presença de área entre os defensores do Vélez. Mas a tática de “desespero” não teve sucesso. O Peixe não chegou nem perto do gol argentino. E a torcida alvinegra torceu pelo fim do jogo, com derrota de apenas 1 a 0.
Globo Esporte