Que semana para o Fluminense! Para o bem: goleada no primeiro jogo da decisão estadual, depois classificação às quartas de final da Libertadores, depois título carioca. E que semana para o Botafogo! Para o mal: derrota no primeiro jogo da decisão estadual, depois eliminação nas oitavas de final da Copa do Brasil, depois perda do título carioca. O time tricolor, com vitória por 1 a 0 neste domingo de chuva, no Engenhão, iluminou um período de júbilo para a equipe de Abel Braga e obscureceu os tempos de trevas para o rival. Pela 31ª vez no Campeonato Carioca, “vence o Fluminense”, como diz o hino do clube.
A vitória por 4 a 1 no primeiro jogo, na semana passada, foi celebrada com mais um triunfo. Rafael Moura, substituto de Fred, lesionado, completou boa jogada de Carlinhos no segundo tempo para deixar certo aquilo que já era provável. O Botafogo atacou mais, criou mais chances, foi mais incisivo, mas não soube fazer o gol. Para os tricolores, foi um título relativamente tranquilo.
O semestre do Fluminense, que já é bom, pode ficar melhor. Na quinta-feira, o campeão carioca encara o Boca Juniors, na Bombonera, no primeiro jogo das quartas de final da Libertadores. Para o Botafogo, resta a preparação para o Campeonato Brasileiro. A estreia é no próximo domingo, contra o São Paulo, de novo no Engenhão.
O Botafogo foi a campo sem aquelas amarras com que os temores por derrota costumam prender o futebol. Afinal, entre pouco perdido e muito perdido, a diferença é mínima. Para quem havia levado 4 a 1 no primeiro jogo, não tinha muito papo para jogar fora: era atacar, fazer o primeiro gol, depois o segundo, depois o terceiro.
A necessidade alvinegra abriu as portas do jogo. Desde o primeiro milésimo de segundo, a partida ficou desenhada com clareza: Botafogo atacando, Fluminense respondendo. Os primeiros minutos foram frenéticos. Mesmo muito desfalcado (Marcelo Mattos, Andrezinho, Antônio Carlos e Lucas não jogaram), o time de Oswaldo de Oliveira soube agredir. Elkeson, de cabeça, mandou para fora. Loco Abreu, de perna direita, perdeu chance clara. E repetiu a dose, assim como Elkeson se repetiria com chutes de longe.
Atacar não era tudo. O Botafogo ainda precisava criar barreiras defensivas contra um time talentoso no ataque. E soube fazer, dentro dos limites impostos por um jogo em que ceder espaços era necessidade. Márcio Azevedo esteve bem na esquerda. Jadson soube cuidar de Deco. Rafael Sobis e seu xará, Moura, foram acossados.
Mas, claro, o Fluminense também teve chances. Rafael Moura perdeu gol quase feito. Anderson, de surpresa, apareceu pela esquerda e tocou para o centroavante, no apogeu da liberdade, sem ninguém em volta, bater colocado. Jefferson caiu bem e defendeu. Chutes de longe de Rafael Sobis e cabeceio de Gum foram outras possibilidades criadas pelos tricolores.
Mas a supremacia esteve com o Botafogo. A posse de bola foi alvinegra: 58% contra 42% na primeira etapa. O time de Oswaldo finalizou o dobro que seu adversário: seis contra três. E usou muito mais as jogadas de linha de fundo: quatro contra uma. Como reflexo, o Fluminense teve três contra-ataques, e o oponente, apenas um.
O jogo também teve lances polêmicos. As duas equipes pediram pênaltis. O Fluminense reclamou de falta de Gabriel em Rafael Sobis, e o Botafogo gritou por toque de mão de Gum. Os tricolores ainda lamentaram perder Deco. Com lesão muscular, o meia foi substituído por Wagner ainda na etapa inicial e preocupa para o jogo contra o Boca.
O fim aos 17 minutos
Até os 17 minutos do segundo tempo, até aquele instante decisivo em que a bola foi dividida por duas chuteiras, ambas tricolores, e entrou no gol de Jefferson, o Botafogo havia criado três chances de gol. Todas em vão. Com Herrera no lugar de Elkeson, a ideia era criar um time ainda mais agudo. De onde pouco se esperava, pouco nasceu. O argentino teve um chute fraco, de longe, antecedido por pancada na trave de Márcio Azevedo e por conclusão pouco ameaçadora de Fellype Gabriel.
Mas houve o lance dos 17 minutos. Houve aquele momento decisivo. Carlinhos, pela esquerda, mandou uma pancada na direção da pequena área. Ali, duas chuteiras, aquelas duas tricolores, disputaram a bola. E ambas se deram bem. Um pouco por causa de Thiago Neves, outro tanto por causa de Rafael Moura, o Fluminense fez o gol. Gol de centroavante. Gol de título.
O Botafogo precisava de quatro gols em 30 minutos para ser campeão. Impossível. A entrada de Vitinho no lugar de Loco Abreu foi um último gesto de quem esperava um milagre que santo nenhum poderia atender.
O Fluminense cozinhou o jogo. Chances se tornaram artigo raro para o Botafogo, que ainda perdeu Maicosuel, expulso após levar o segundo amarelo. Abel Braga mandou a campo seu filho, Fábio, pela primeira vez campeão como profissional. E viu seu time criar mais alternativas do que o rival.
A torcida tricolor teve tempo de sobra para comemorar no Engenhão, casa do rival. Gritou que é campeã. Entoou “olés”. Direito dela. Que semana para o Fluminense!
Globo Esporte