Por Adriana Meneses*
Esses dias, conversando com um colega de trabalho, refletimos sobre como a vida muda – ou melhor, como nós mudamos – depois dos 40. E não me refiro apenas a transformações externas, mas a uma mudança de percepção sobre o que realmente faz sentido.
Falo com a experiência de quem já esteve em situações extremas. Duas vezes, enfrentei complicações graves do diabetes que colocaram minha vida em risco. Situações como essas nos forçam a repensar prioridades. Depois de atravessar momentos assim, enxergamos a vida com mais clareza e menos pressa.
De repente, o que antes parecia urgente perde importância. A opinião dos outros já não tem o mesmo peso. Lugares, rotinas e até amizades deixam de ser prioridade. Começamos a fazer escolhas mais conscientes, baseadas no que é essencial, não no que é esperado.
Queremos menos excesso e mais leveza. Valorizamos mais o silêncio, a calma e a companhia de quem realmente soma. Diminuímos a necessidade de controle e aumentamos a busca por equilíbrio. A ideia de “dar conta de tudo” vai dando lugar ao desejo por bem-estar.
Essas mudanças não acontecem de uma hora para outra. Muitas vezes, são provocadas por experiências desafiadoras: doenças, perdas, frustrações, mudanças profissionais ou familiares. Outras vezes, surgem de um incômodo mais sutil, como se algo na rotina deixasse de fazer sentido – e começamos a nos perguntar se estamos vivendo como realmente gostaríamos.
Cada pessoa vive esse processo de forma única. Para alguns, ele acontece aos 30. Para outros, só bem mais tarde. Não existe um marco exato – existe o momento em que passamos a olhar para a vida com mais responsabilidade afetiva com nós mesmos.
Nesse processo, o autoconhecimento deixa de ser um conceito abstrato e se torna uma ferramenta prática de sobrevivência emocional. Entender quem somos e o que queremos nos ajuda a estabelecer limites, a dizer “não” sem culpa, a fazer escolhas mais saudáveis.
É nesse ponto que a terapia se mostra fundamental. Ela não traz respostas prontas, mas oferece um espaço seguro para refletir, questionar e reorganizar pensamentos e sentimentos. A terapia nos ajuda a enxergar padrões, lidar com frustrações, fortalecer a autoestima e construir uma vida com mais coerência.
Colocar-se como prioridade é um exercício de autorresponsabilidade. É assumir que o nosso bem-estar não depende do outro, mas de como escolhemos cuidar de nós. E isso não é egoísmo. É maturidade. Quando nos respeitamos, naturalmente passamos a cultivar relações e ambientes mais saudáveis.
Hoje, ao olhar para minha trajetória, entendo que cada dificuldade me forçou a parar, avaliar e ajustar o rumo. E se posso deixar uma mensagem com este texto, é: aprenda a se escutar. Cuide de você com o mesmo cuidado que oferece aos outros. Permita-se mudar de ideia, de rota, de companhia.
A mudança pode ser desconfortável, mas viver no automático, ignorando o que você sente, é ainda mais pesado.
Se neste momento você sente que precisa conversar, mas não tem acesso imediato a um espaço terapêutico, saiba que você não está sozinho. O CVV — Centro de Valorização da Vida oferece apoio emocional gratuito, sigiloso e voluntário, 24 horas por dia. Basta ligar para o número 188, de qualquer lugar do Brasil, ou acessar o site cvv.org.br.
Por Adriana Meneses — Psicóloga (CRP 19/4184), Jornalista e Pesquisadora*
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