As festas juninas são uma das celebrações mais tradicionais do Brasil, marcadas por uma série de elementos que fazem parte da cultura popular, como as fogueiras, as quadrilhas, as comidas típicas e, é claro, os fogos de artifício. Esses símbolos trazem muita alegria e animação para as comemorações, reunindo famílias e amigos em torno das tradições. No entanto, o manuseio incorreto dos fogos de artifício e a proximidade com as fogueiras pode representar riscos sérios à saúde, principalmente no que diz respeito às queimaduras.

Queimaduras em áreas expostas são as mais comuns, afirma enfermeira Marta Moura – Foto: arquivo/pessoal
De acordo com dados da Unidade de Tratamento de Queimados (UTQ) do Hospital de Urgências de Sergipe (Huse), no ano passado, na primeira quinzena de junho, foram realizados 12 atendimentos por queimadura no pronto-socorro, e cinco por fogos. Já em 2025, no mesmo período, já foram 16 atendimentos de queimadura em geral, sete por fogos de artifício. Na UTQ, no ano de 2024, também nos primeiros 15 dias de junho, foram realizadas 11 internações, sendo quatro por fogos de artifício. Em 2025, no mesmo período, já foram seis casos, duas delas por fogos de artifício.
A enfermeira Marta Moura, especialista em Dermatologia com ênfase no tratamento de feridas, explica que os acidentes mais frequentes envolvem o uso inadequado de fogos de artifício, proximidade com fogueiras e também o manuseio de líquidos quentes durante o preparo das comidas típicas.
Segundo Marta, as partes do corpo mais atingidas são as mãos, o rosto e os membros superiores, áreas expostas e próximas ao fogo. Crianças, muitas vezes sem supervisão adequada, são as principais vítimas desses acidentes, o que reforça a importância da atenção e cuidado dos adultos durante as comemorações. “Também há registros de queimaduras causadas por queda ou proximidade excessiva da fogueira, roupas inflamáveis e derramamento de líquidos quentes durante o preparo de alimentos típicos”, detalha a enfermeira.

Especialista destaca riscos de queimaduras em áreas do corpo mais expostas ao fogo – Foto: arquivo/SE Notícias
Primeiros cuidados ao sofrer uma queimadura
Saber agir rápido e corretamente pode evitar complicações graves. Marta Moura destaca que o primeiro passo é interromper a fonte de calor imediatamente, para evitar que a lesão se agrave. Em seguida, é importante lavar a área queimada com água corrente fria, nunca gelada, por cerca de 10 a 15 minutos. Esse procedimento ajuda a reduzir a temperatura local e alivia a dor. De acordo com a especialista, é fundamental evitar o uso de substâncias caseiras como pasta de dente, manteiga, pó de café ou outros produtos que, além de não terem eficácia, podem piorar a queimadura e dificultar a avaliação médica. Se surgirem bolhas, a recomendação é não estourá-las para prevenir infecções. Após os primeiros cuidados, cubra a área com um pano limpo ou gaze e busque atendimento médico especialmente se a queimadura for em áreas delicadas, como rosto, mãos, pés, genitais, ou se a lesão for extensa.
Quando buscar atendimento médico imediato?
A enfermeira orienta que nem toda queimadura pode ser tratada em casa. “O atendimento médico imediato é necessário quando a queimadura atinge áreas sensíveis como o rosto, mãos, pés, genitais ou grandes extensões do corpo. Também é essencial buscar ajuda se a queimadura for de segundo ou terceiro grau, ou seja, quando houver bolhas, exposição de tecidos mais profundos, pele esbranquiçada ou carbonizada”, explica.
Além disso, queimaduras causadas por inalação de fumaça exigem avaliação imediata, mesmo que pareçam superficiais. Crianças e idosos merecem atenção redobrada, pois são mais vulneráveis e qualquer queimadura deve ser avaliada com cautela.
Tratamento de queimaduras
A especialista reforça que o tratamento depende da gravidade da lesão. Queimaduras leves, como as de primeiro grau ou pequenos segundos graus, podem ser tratadas em casa ou em unidades básicas de saúde. O cuidado envolve limpeza adequada, uso de pomadas cicatrizantes ou membranas regeneradoras, proteção com curativos simples e controle da dor com analgésicos comuns.
Já as queimaduras graves, como as de terceiro grau, extensas ou que atingem áreas sensíveis, demandam atendimento hospitalar. Nestes casos, podem ser necessários
curativos especiais, uso de antibióticos, hidratação venosa, controle intenso da dor e até cirurgias, como enxertos de pele. O suporte psicológico e a reabilitação física também são fundamentais para a recuperação completa dos pacientes.
Dicas para um São João seguro
Para evitar os acidentes, Marta Moura recomenda atenção especial com as crianças, que devem estar sempre sob supervisão. As fogueiras devem ser acesas em locais abertos e seguros, longe de materiais inflamáveis. Usar roupas de algodão e evitar tecidos sintéticos também ajuda a reduzir riscos, pois tecidos sintéticos inflamam com facilidade.
No manuseio de fogos de artifício, é fundamental seguir as instruções e nunca reutilizar aqueles que falharem ao disparar. Além disso, é importante evitar improvisações com líquidos inflamáveis e estar atento durante o preparo dos alimentos típicos, para não se expor a líquidos quentes e superfícies quentes.
A enfermeira reforça que, apesar de parecerem simples, as queimaduras podem deixar sequelas físicas e emocionais para a vida toda. “Muitos acidentes acontecem por descuido, falta de informação ou brincadeiras que pareciam inofensivas. Por isso, é fundamental entender que a prevenção é o melhor remédio. Cuidar das crianças, evitar improvisações, respeitar o fogo e procurar atendimento ao menor sinal de gravidade são atitudes que
salvam vidas. A conscientização começa com pequenas escolhas que evitam grandes tragédias”, alerta Marta Moura.
Por Yago de Andrade/Se Notícias