No Brasil, 1.793 pessoas que aguardavam na fila para um transplante de órgão morreram entre janeiro e junho deste ano no país, segundo a ABTO (Associação Brasileira de Transplante de Órgão), que usa dados do Ministério da Saúde. Do total de pacientes que ingressaram na lista no período, que somam 22.986, as mortes notificadas representam 7,8%. Não necessariamente os registros estão relacionados com a doença que levou o paciente a lista, informou a associação.
Até esta quarta-feira (16), 44.827 pessoas aguardam na fila por um transplante de órgão, sendo rim (41 mil), fígado (2,3 mil) e coração (436) com maiores índices. Dados do SNT (Sistema Nacional de Transplantes) apontam que a lista é composta majoritariamente por homens entre 35 e 64 anos.
Segundo o SNT, a fila para a realização do procedimento exige critérios para elegibilidade, como a compatibilidade de grupo sanguíneo, peso, altura, além, dos critérios de gravidade que formam a prioridade na lista.
Pacientes que aguardavam por um rim, fígado e coração foram os com maiores registros de mortalidade. Com 1.210, 383 e 90 mortes, respectivamente. No caso do coração e rim, por exemplo, o tempo de espera médio para transplantes é de oito e 22 meses, respectivamente.
Apesar dos números, o médico especialista em cirurgia geral Lucas Nacif aponta que o Brasil “é um dos países que mais faz transplantes de órgãos sólidos no mundo”. Entretanto, cita que deve haver um maior investimento em campanhas de conscientização para aumentar o número de doadores.
No ano passado, o Brasil fez 9.255 transplantes de órgãos, segundo dados do Ministério da Saúde. O maior número é o de rins, 6.208 transplantes.
Para o cardiologista especialista em transplante cardíaco Luis Paulo Soares, a baixa oferta de órgãos e a falta de um aprimoramento na estrutura de cuidados para os doadores ainda são um problema no país. Ele comenta, também, que apesar de haver mortes não relacionadas com as doenças que levaram o paciente a lista, o número deve ser considerado.
“Em estudos epidemiológicos, o desfecho de morte por todas as causas é a principal medida para avaliação de resposta a tratamentos, por ser menos afetado por diversos vieses. Então esse número é muito importante, e deve ser sim considerado, independente do que levou ao óbito do paciente”, diz Soares.
Contaminação por HIV é “atípica”
O médico Lucas Nacif destaca que casos como o revelado na semana passada, de contaminação por HIV em pacientes transplantados, são “atípicos” e não podem interferir ou desestimular a população na conscientização da doação de órgãos. “O sistema nacional de transplante possui diversos protocolos que tornam o sistema de análise dos doadores muito seguro. Durante o processo de seleção são testados, não somente o HIV, mas vários outros vírus e doenças transmissíveis, o que tornou o processo muito seguro e eficiente durante muitos anos”, completou.
Na última semana, seis transplantados foram diagnosticados com HIV após um dos pacientes procurar atendimento médico por apresentar sintomas neurológicos. Os órgãos contaminados foram doados por duas pessoas. O laboratório particular que fez os testes nos órgãos antes que eles fossem transplantados não identificou a presença do vírus.
Depois da confirmação, exames feitos em outros pacientes que receberam órgãos do mesmo doador e de uma segunda pessoa também indicaram a contaminação. Com a situação, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, afirmou que vai reforçar as medidas de testagem de órgãos doados para transplante, entre eles o teste NAT, responsável para detecção do HIV e outras doenças.
Como funciona a lista de transplantes no Brasil?
O Brasil tem um dos maiores sistemas público de transplantes do mundo. O país fica atrás apenas dos Estados Unidos e fornece assistência integral e gratuita, incluindo exames preparatórios, cirurgia, acompanhamento e medicamentos pós-transplante.
A lista de transplantes é única e vale tanto para o SUS (Sistema Único de Saúde) como para a rede particular. Além dos critérios técnicos, também podem ser considerados aspectos como a ordem de chegada do paciente, que funciona como método de desempate. Situações de extrema gravidade, como risco de morte e condições clínicas, também contribuem para a posição na fila.
O que fazer para ser doador de órgãos?
Segundo o Ministério da Saúde, é fundamental que o interessado comunique a família sobre a intenção, para que os responsáveis possam autorizar a retirada dos órgãos e tecidos. A intenção não precisa ser registrada em cartório ou por meio de documentos.
Com a aprovação dos familiares, uma entrevista será feita para investigar o histórico clínico do possível doador. De acordo com a pasta, essa etapa tem por objetivo avaliar os riscos e garantir a segurança dos receptores e dos profissionais de saúde.
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Por Giovana Cardoso, do R7, em Brasília