Uma das grandes preocupações no meio econômico brasileiro, atualmente, é reflexo da polêmica paridade de preços dos combustíveis aplicados no Brasil, onde a estatal Petrobras vem atuando com o intuito de amenizar as constantes alterações ocorridas no mercado externo, procurando preservar e mitigar os efeitos de tais reajustes na economia, podendo ocasionar reflexos inflacionários em diversos setores.
Em entrevista concedida ao jornalista, Jailton Santana, da Rede Rio FM, na tarde desta quinta-feira (10), o secretário executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo no Estado de Sergipe (Sindpese), Maurício Cotrim, retrata os aspectos e cenários vividos hoje em decorrência dos constantes aumentos aplicados pela refinaria localizada no município de São Francisco do Conde na Bahia, sob a gestão a empresa ACELEN, maior fornecedora de combustíveis para o estado de Sergipe.
Sob a ótica do secretário, há duas principais razões para os constantes aumentos do barril de petróleo no cenário mundial, o primeiro seria em decorrência da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), que tem entre os seus integrantes a Arábia Saudita e a Rússia, os quais são responsáveis por 40% da produção mundial, onde promoveram uma redução produtiva em torno de um milhão de barris por dia no intuito de recuperar os preços desta commodity, gerando um reflexo por meses, sendo julho de 2023 o que teve os maiores valores alcançados, algo em torno de US$ 85,00 (oitenta e cinco dólares) o barril.
Num mercado internacional e interligado a todos que pertencem a esta cadeia de produção e distribuição, um importante fornecedor, que é a refinaria de Mataripe (que foi privatizada) acompanha semanalmente as oscilações dos barris de petróleo na cotação do dólar. Nesta quinta-feira (10), ela contabilizou seis semanas consecutivas de aumento, já totalizando, para o óleo diesel, por exemplo, mais R$ 0,90 (noventa centavos) ao custo de aquisição das distribuidoras com a refinaria, e mais R$ 0,50 (cinquenta centavos) para a gasolina.
Segundo Cotrim, o que acontece é que os revendedores não podem comprar diretamente nas refinarias, somente as distribuidoras conseguem fazer essa compra e, de maneira gradativa, realizar os repasses. “Cada distribuidora tem uma política e uma variação independente, porém, elas têm feito esse repasse na mesma velocidade. O efeito cascata é muito grande porque o volume passa a ser maior. E o consumidor final é quem mais sente o peso na hora de abastecer seu veículo”, comenta.
O outro principal motivo para essa crise é a guerra entre Ucrânia e Rússia que persiste e impacta todo esse cenário. Para Maurício Cotrim, esse impasse dificulta as transações de importação porque os navios petroleiros que ficam no Mar Negro estão sendo atacados e bombardeados, então, se há pouco produto, a procura e oferta são diretamente afetadas. “O cenário internacional não é favorável e quando a gente tem essa dependência da refinaria privatizada, como a de Mataripe, que é a segunda maior do país, situada na região do Nordeste, gera complicações ainda maiores, porque as distribuidoras não têm onde comprar”, completa.
“A companhia ACELEN, que é a detentora da refinaria de Mataripe, tem uma capacidade de produção muito grande, e por questão de logística é a mais próxima para se comprar esse combustível. E, diferentemente da Petrobras, a ACELEN faz os reajustes semanais, então essa dinâmica reflete muito mais no preço final”, acrescenta o secretário.
Sobre a fiscalização
A Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) é quem fiscaliza, regula, monitora e divulga os preços a nível Brasil e os preços médios. Sergipe, apesar de sofrer essas consequências e de depender da ACELEN, ainda possui o combustível mais barato no Nordeste, sinaliza Cotrim. A Petrobras está absorvendo as oscilações de barris de petróleo com uma defasagem em que há uma preocupação e indicativos de restrição de diesel, sendo que, hoje, nosso país tem uma dependência de 30% desse produto que é consumido no mercado interno, obrigando a Petrobras a importar, num comportamento de mercado já conhecido e aplicado durante o governo Dilma, em 2014, no qual a estatal passa a comprar o insumo mais caro e vendendo mais barato no mercado interno. Aliado a isso, temos como agravante a paralização de novas aquisições do combustível por parte do setor privado, num movimento que já vem sendo sinalizado. “Há registro de indícios de restrição de abastecimento de óleo diesel em algumas regiões do Brasil, a exemplo do estado de Minas Gerais, onde a Minaspetro informou que algumas distribuidoras já estariam restringindo o consumo de diesel. A grande inquietação é o efeito cascata desses reajustes, que refletem quase imediatamente em outros produtos, como os alimentos,” informa Mauricio.
Há uma preocupação sobre o papel social, além do comercial, que a PETROBRAS possui, porque o gerenciamento sobre a política de preços pode trazer um dano social, já que há uma disparidade atualmente de aproximadamente 24% de defasagem em relação ao aplicado dentro e fora do país. Com a escassez do produto no mercado interno, os valores tendem a subir por questão de demanda, o que já vem ocorrendo na prática, a exemplo de um reajuste de 22%, próximo de R$ 0,90 (noventa centavos) no preço do litro do diesel aplicado pela ACELEN nessa última semana.
A ACELEN realizou nesta semana o sexto reajuste consecutivo, onde a refinaria aplica as adequações de seus valores todas as quartas-feiras. O maior volume de combustíveis (principalmente a gasolina) consumidos em Sergipe vem de São Francisco do Conde, na Bahia, e, quanto ao diesel, compartilha-se o fornecimento vindo da produção da refinaria Abreu e Lima, localizada em Porto Suape, em Pernambuco, pertencente à Petrobras, ainda permitindo ao estado de Sergipe ter um dos menores preços aplicados no país neste momento.
Redação SE Notícias
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