Nesta quinta-feira (15), acontece o Dia Mundial de Conscientização da Violência contra a Pessoa Idosa, a data também faz parte da Campanha Junho Violeta que pretende conscientizar a população. Segundo a Ouvidoria Nacional dos Direitos Humanos, mantida pelo Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC), somente no primeiro trimestre deste ano, as violações dos Direitos Humanos contra pessoas idosas alcançaram 202,3 mil registros em todo o país.
Já em Aracaju, segundo dados do Centro de Atendimento a Grupos Vulneráveis (CAGV), de janeiro a abril deste ano foram gerados 162 boletins de ocorrência notificando violência contra o idoso na capital.
Em entrevista, Dra. Juliana Santana, médica geriatra desde 2007 em Sergipe, mestre em Ciências da Saúde e preceptora da residência da Clínica Médica do Hospital de Urgência de Sergipe, e uma das sócias do Espaço Ativo, clínica referência em cuidados com o idoso em Aracaju, fala sobre os impactos na saúde e como deve ser o tratamento dessas vítimas.
Entre os diversos tipos de violência registrados em Aracaju destacam-se os crimes de abandono, maus tratos, apropriação de rendimentos, ameaça e estelionato.
“Precisamos reconhecer as principais formas de violência contra os idosos, são elas; violência física, como por exemplo, bater no idoso, violência psicológica ou emocional, que é fazer o idoso sentir-se constrangido ou humilhado, violência financeira, a exemplo dos casos de familiares de que se utilizam de recursos dos idosos para si, violência sexual, que se configura através dos abusos físicos ou psicológicos, mesmo em conversas, quando isto for contra a vontade e princípios do idoso e violência por negligência, que é deixar de agir quando necessário, sejam os responsáveis pelo idoso ou ele próprio sendo negligente consigo”, explica.
Toda essa violência impacta bastante na saúde do idoso.” São muitos malefícios para a qualidade de vida da vítima, no âmbito físico, se violentados, os idosos podem apresentar danos nos órgãos podendo ter sérias complicações como fraturas, hemorragias, dor, entre outros. Quando falamos em violência psicológica, observamos o risco de desenvolver depressão , ansiedade e retraimento social. A negligência também impacta fortemente na qualidade de vida do idoso, pois o não cuidar da forma adequada, o não prover o que necessita, tira do idoso a oportunidade de tratar ou reabilitar doenças e consequentemente haverá evoluções e complicações das patologias com impacto em sua autonomia e independência. Já o abuso financeiro priva o idoso de também cuidar melhor de sua saúde, do seu lazer e de realizar sonhos, pois seus recursos não estão sendo utilizados para o seu bem-estar”, detalha.
Médicos devem ficar atentos. “Importante ressaltar que uma vez que é um especialista focado em um olhar bem amplo para o idoso, é possível perceber sinais de violência neste público. É essencial criar um vínculo forte de confiança entre o geriatra e o paciente para que este possa expor ao profissional o que acontece dentro de casa. Em um primeiro momento e a depender da gravidade da situação apresentada, o geriatra pode iniciar uma abordagem psicoeducativa, orientando o paciente e o familiar a uma nova postura. Em um segundo momento, ou quando há uma maior gravidade, é necessário fazer uma denúncia para que os órgãos competentes tomem providências”, destaca.
O tratamento do idoso vítima de violência deve acontecer de forma abrangente, com profundidade, através de abordagem interdisciplinar com o objetivo de tratamento ou reabilitação, “devolvendo ” ao idoso sua autonomia, independência e liberdade. Faz-se necessário o acompanhamento regular do geriatra, além dos profissionais de psicologia e nutrição, entre outros. Esse idoso precisa de uma grande rede de apoio.
“Há uma grande barreira, pois muitos idosos “protegem” o seu agressor e preferem submeter-se a violência do que ter seu parente denunciado. Mas vale ressaltar que denunciar é preciso, a fim de não apenas parar aquela situação específica, mas principalmente, reduzir a estatística da violência doméstica contra os idosos, que de fato é muito assustadora e muito maior do que se imagina”, finaliza.
Quem tiver informações sobre maus tratos em idosos pode denunciar de forma anônima ligando para o número 181.
Acompanhe também o SE Notícias no Twitter, Facebook e no Instagram
Fonte: Rodrigo Alves.