O uso do contraste é feito geralmente em exames de ressonância, tomografia e radiografia, sempre com indicação médica, para o radiologista ver e avaliar melhor partes do corpo, como um tumor ou um vaso sanguíneo, por exemplo.
O médico Murilo Eugênio Oliveira, especialista em radiologia e diagnóstico por imagem, disse que pode haver reações adversas ao uso do contraste, mas que são raras, principalmente as consideradas graves, como o caso da psicóloga Bruna Nunes de Faria, que morreu aos 27 anos após usar a substância para fazer uma ressonância e passar mal, em Goiânia, em 21 de dezembro deste ano.
“Na hora que aplicou o contraste, ela falou assim: ‘Estou passando mal’, e começou a tossir. Eles a tiraram rápido, no colo. Eu fui junto para esse quartinho com ela e falei ‘pelo amor de Deus, o que está acontecendo com a minha filha?’. E já veio uma moça e aplicou uma injeção nela e ela [Bruna] falou: ‘Estou sem ar’. Foi a última palavra que ela falou”, contou Jane Alves, mãe da Bruna.
Segundo Murilo Eugênio, casos como os de Bruna acontecem quando o sistema imunológico tem uma reação exagerada ao medicamento e a reação alérgica evolui de forma dramática no organismo.
O médico ressalta que o uso da substância é seguro e que existem muitos estudos comprovando a eficácia nos diagnóticos por imagem.
O radiologista explicou que existe um contraste diferente indicado para cada um dos exames, porque a substância tem princípios ativos distintos, então um contraste usado na ressonância não serve para a tomografia e para a radiografia.
Atualmente, se usa mais o contraste nos exames tomográficos e a substância não-iônica por apresentar raras reações alérgicas nos pacientes.
“O uso é de acordo com a indicação do médico. Por exemplo, caso ele suspeite de um tumor, ele é usado para ver se a lesão sólida vai captar o contraste. O contraste pode ser usado para identificar falha de enchimentos dos vasos sanguíneos, se tem uma trombose, por exemplo, não vai passar o contraste naquele vaso, a gente indica então que tem uma trombose”, explica o radiologista.
A aplicação do contraste na corrente sanguínea é usada na grande maioria de exames de tumores, por ter um resultado melhor na imagem. A substância é usada também em suspeita de infecção e complicação de infecção.
O uso, porém, já é contraindicado em alguns pacientes que tem histórico de alergias. Para pessoas que não tem esse histórico, é aplicado um questionário para saber se existe disposição para reações adversas.
“Se faz um questionário para identificar um fator proibitivo de que o paciente pode ter risco de desenvolver reação alérgica ou anafiláticas, como chamamos”, disse o médico.
Existem níveis de reações alérgicas, conforme explicou o radiolgista:
. As leves, que podem ser indicadas por aparecimento de manchinhas na pele e a sensação de calor no corpo. Nesses casos, são usados medicamentos para tratar a reação.
. As moderadas podem ser identificadas por coceira na garganta, e também são tratadas com medicamentos.
. As graves são mais raras, mas o médico pode identificar durante o exame quando o paciente reclama de inchaço na garganta, por exemplo. Em todos os casos, o exame é interrompido para avaliar a saúde do paciente. Nos casos graves, às vezes é preciso de suporte emergencial ou até mesmo a Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
“Durante o exame, pedimos para o paciente nos relatar qualquer reação no momento da injeção do contraste. Em alguns casos, que são raros, a reação é dramática e muito rápida. Mesmo com tratamento, o paciente pode demandar dias de descanso ou uma UTI. O sistema imunológico, nesses casos, tem reação desproporcional”, esclarece Murilo.
As reações graves não representam 2% dos casos, segundo o médico.
“Nas unidades em que trabalho, fazemos cerca de 300 exames diários e, nessa demanda, temos casos de reações leves um a cada seis meses. Uma reação grave é uma a cada 6 anos”, conta Murilo.
Teste e tratamento
Não existe um teste ou uma forma de saber se o paciente terá reação alérgica leve, moderada ou grave antes de usar o contraste.
“Não há exame que possa ser feito antes. Por isso a necessidade do questionário”, reforça o médico.
Em relação aos tratamentos de reações, Murilo explica que a reversão de um quadro grave depende da resposta do organismo do paciente e da saúde dele, mesmo depois de receber medicamentos antialérgicos, por exemplo.
Morte da psicóloga
Bruna Faria tinha 27 anos e teve dois AVCs (Acidente Vascular Cerebral) há 45 dias. Ela fez uma bateria de exames para descobrir a causa. Passou por cinco neurologistas e três cardiologistas. A mãe contou que a ressonância magnética do coração, em que ela passou mal, era o último exame que ela tinha que fazer.
Há suspeita, segundo a mãe, que Bruna teve um choque anafilático durante o procedimento, mas que a causa da morte será identificada por meio de autópsia feito pelo Instituto Médico Legal (IML).
Bruna Faria nasceu em Bonfinópolis, onde foi velada e enterrada na quinta-feira (22). A jovem trabalhava como psicóloga da Prefeitura de Silvânia e fazia parte da Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar (Emad) da Secretaria Municipal de Saúde.
Bruna fez o exame no Centro de Diagnóstico por Imagem (CDI) Unidade II, que fica na Avenida Portugal, no Setor Marista. A defesa explicou, por meio de nota, nesta sexta-feira (23), que atualmente há dois grupos distintos operando sob o nome CDI. Um sob responsabilidade dos médicos Luiz Rassi Júnior e Colandy Nunes Dourado e outro sob a gerência dos médicos Ary Monteiro Daher e Adriana Maria Monteiro, sendo que o procedimento que a jovem realizou faz parte dos serviços prestados pela equipe chefiada por Ary e Adriana. Os grupos estão em fase final de separação judicial, que deve ser finalizada em janeiro, quando os prédios também devem ser separados de acordo com a administração. (veja a explicação abaixo).
Nota do CDI gerido pelo médico Ary Monteiro
“Aguardaremos o resultado do laudo que vai determinar a causa da fatalidade, mas, desde já, nos solidarizamos com os familiares e amigos da paciente e seguimos à disposição para prestar toda a assistência necessária. Reforçamos que em nossos exames são adotados elevados padrões de segurança, com acreditação em grau máximo e procedimentos certificados pelas autoridades do setor, sempre buscando garantir o bem-estar e a saúde de nossos pacientes, valores que sempre fizeram parte da história da clínica”, diz a nota enviada pelo advogado do médico Ary Monteiro.
Nota do CDI gerido pelo médico Luiz Rassi Júnior
As Clínicas CDI sob a coordenação do Dr. Luiz Rassi e Dra. Colandy Nunes Dourado, vêm a público esclarecer:
É com muita tristeza que recebemos a notícia da morte da jovem Bruna Nunes de Faria, paciente que realizava exame de ressonância magnética. Tal fato nos leva ao dever e obrigação de prestar esclarecimentos aos nossos clientes, corpo clínico, colaboradores, médicos e sociedade em geral.
Há dois grupos distintos operando sob o nome CDI. Um, o nosso – Dr. Luiz Rassi e Dra. Colandy Nunes Dourado -, com as Clínicas CDI Diagnósticos em Cardiologia; CDI Diagnósticos Angiotomográficos e Nuclear CDI. E, outro, sob a responsabilidade do Dr. Ary Monteiro Daher do Espírito Santo e Sra. Adriana Maria de Oliveira Guimarães Monteiro. Os grupos estão em fase final de separação judicial.
O processo judicial iniciado há mais de 02 anos, se deu em virtude de divergências de valores e princípios éticos no exercício da Medicina. As clínicas sempre funcionaram de forma separada, apesar de estarem localizadas no mesmo endereço, realizando exames distintos, com equipamentos distintos, médicos e colaboradores também distintos.
O exame da paciente Bruna Nunes de Faria, com fatídico e lamentável desfecho, foi realizado pela Clínica cujo responsável técnico é o Dr. Ary Monteiro Daher do Espírito Santo, que se chama Centro de Diagnóstico por Imagem PORTUGAL, o qual tem se identificado como CDI Radiologia.
Informamos também que o processo de separação dos imóveis está em curso, a fim de que a população em geral possa diferenciar ainda mais as Clínicas, ao buscar e escolher livremente atendimento para diagnósticos médicos.
Por fim, nos solidarizamos com a família e amigos de Bruna Nunes de Faria, lamentamos profundamente sua morte e esperamos que a causa do óbito seja esclarecida de forma rápida e efetiva, com apuração pelos órgãos competentes.
Por Rafael Oliveira, g1 Goiás