O governo federal dispensou o diretor-executivo da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Jean Coelho, e o diretor de inteligência da corporação, Allan da Mota Rebello. As dispensas foram publicadas hoje no Diário Oficial da União em portaria da Casa Civil, assinada pelo ministro Ciro Nogueira.
Não foram informados os motivos para a decisão e nem os nomes dos substitutos. O UOL entrou em contato com a Casa Civil para questionar por que os diretores foram dispensados e aguarda retorno para atualizar este texto.
A saída dos dois diretores da PRF ocorre em meio a uma série de críticas que a PRF tem recebido após a morte de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, durante uma abordagem na cidade de Umbaúba, em Sergipe.
Genivaldo foi morto por asfixia após ser preso por agentes em uma câmara de gás improvisada no porta-malas de uma viatura. Os agentes colocaram-no dentro do carro e lançaram spray de pimenta e gás lacrimogêneo no interior do veículo.
Bolsonaro defendeu PRF.
Ontem, o presidente Jair Bolsonaro (PL) defendeu a PRF e disse querer justiça ‘sem exageros’ no caso.
O chefe do Executivo federal declarou que “vai ser seguida a lei” e que “lamenta muito o ocorrido”, mas fez uma ponderação: ‘Não podemos generalizar tudo o que acontece no Brasil”. “A PRF faz um trabalho excepcional para todos nós”, completou.
Três dias depois da divulgação de parte do boletim de ocorrência, a PRF disse que não compactuava com as medidas adotadas pelos policiais durante a abordagem e citou “indignação” diante do ocorrido. Os agentes envolvidos no caso foram afastados da corporação.
Na última quinta-feira (26), porém, a corporação afirmou que usou “técnicas de menor agressividade” para dominar Genivaldo, destoando do conteúdo gravado por testemunhas durante a ocorrência.
Ainda no texto, a corporação narrou que, durante a abordagem, o homem “resistiu ativamente a uma abordagem de uma equipe da PRF”.
ONU: casos de violência da PRF são ‘preocupantes’.
O representante do escritório da ONU (Organização das Nações Unidas) de Direitos Humanos para a América do Sul, Jan Jarab, disse ser “preocupante” a recorrência de casos de violência envolvendo a PRF.
Em reunião com o ministro Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), Jarab disse que a entidade acompanha a situação. “Me parece preocupante a recorrência de casos de violência envolvendo a PRF”, afirmou.
Na semana passada, a PRF também participou da operação policial que terminou com 23 mortos na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro. A organização disse que participou da ação após receber pedido de apoio da Polícia Militar fluminense.
A morte de Genivaldo gerou repercussão internacional em veículos de imprensa. O jornal britânico The Guardian, por exemplo, apontou a coincidência na data da morte com o assassinato George Floyd, nos Estados Unidos.
Floyd foi sufocado sob o joelho de um policial branco por mais de 9 minutos em 25 de maio de 2020. O agente Derek Chauvin, flagrado sobre o norte-americano em imagens feitas por testemunhas, foi condenado a 22 anos de prisão pelo crime.
O francês Le Parisien afirmou que o caso de Genivaldo “comoveu” o país. “A morte de um homem asfixiado depois de ser colocado no porta-malas de uma viatura de polícia, de onde saía uma fumaça espessa, chocou o Brasil”, continuou o jornal.
Já o norte-americano Washington Post avaliou que “mesmo em um lugar familiarizado com mortes provocadas por policiais”, como o Brasil, o vídeo da morte de Genivaldo “gerou terror e revolta”.
Esposa e irmã atestam problemas mentais.
Esposa de Genivaldo, Maria Fabiane dos Santos disse que soube no hospital para o onde o marido foi levado que ele já chegou morto à unidade. Ela confirmou que ele tinha problemas mentais e que o que aconteceu com ele não foi uma fatalidade. “Foi um crime mesmo, eles agiram com crueldade para matar ele”.
No boletim registrado na delegacia de Umbaúba, a irmã de Genivaldo, Damarise de Jesus Santos, 46, disse que ele havia pegado a sua moto de maneira furtiva, sem que ela soubesse. Ela também confirmou que o irmão tinha problemas mentais, “imaginando vultos e sendo perseguido”, mas não saberia dizer qual era a doença.
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Do UOL, em São Paulo.