Mudanças climáticas associadas a uma gestão desfavorável às águas do Rio São Francisco são fatores desencadeadores de uma anunciada grave decadência do Velho Chico, cuja nascente na Serra da Canastra, em Minas Gerais, secou. A situação não chega a comprometer a vazão do Rio São Francisco, uma vez que este possui diversos afluentes, porém se demonstra como uma evidência da degradação de suas águas e a necessidade urgente de rever hábitos, avaliar prioridades e evitar maior devastação.
É com esse discurso que o pesquisador do laboratório Georioemar da Universidade Federal de Sergipe (UFS), o geólogo Luís Fontes, alerta para a tomada de providências que visem impedir uma um impacto devastador tanto para a flora e fauna no ‘Velho Chico’ quanto para as populações ribeirinhas. “O fator da seca da fonte da Serra da Canastra evidencia as mudanças climáticas que estamos tendo ao longo dos anos, afetando o meio ambiente e também as próprias ações humanas. Isso demonstra que algo muito grave está acontecendo e que amanhã poderá ser pior. Infelizmente, hoje temos que o setor de energia domina as águas do Rio São Francisco, controlando suas vazões, sem sequer consultar as populações ribeirinhas, aqueles que dependem do rio. O setor energético toma decisão de acordo com os seus interesses e aí temos consequências graves para todo o rio”, explicou Luís Fontes.
Sobre a obra de transposição do Rio São Francisco, cuja conclusão prevista para o próximo ano foi adiada para 2016, o geólogo destaca a inversão de ações pelo Governo Federal para execução de uma grandiosa intervenção que afetará, sobremaneira, o submédio e Baixo São Francisco. “A transposição é uma verdadeira ameaça ao rio, pois não foram levadas em consideração as necessidades das pessoas que dependem dele, nem mesmo da sua fauna e flora. Ao invés de iniciar com uma recuperação das águas, o Governo Federal deu início às obras, sem avaliar o seu impacto. Houve uma inversão e estamos vivenciando essa decadência”, afirmou.
Para Luís Fontes, quanto mais demorar a finalização da grandiosa obra de transposição, melhor para o conhecimento da real situação em que se encontra o rio, cujo curso de águas banha os estados de Minas Gerais, Bahia, Sergipe, Pernambuco e Alagoas. “Quanto mais tempo demorar para se concretizar, o Rio São Francisco vai demonstrar a realidade da sua degradação e então o Brasil terá consciência e, quem sabe, a população política dos estados por onde passa o rio exija que sejam feitas compensações para manter o rio. Essa obra de transposição não era necessária neste momento, sendo preciso incialmente a sua revitalização. Mas, o governo preferiu inverter a ordem. É agora a perspectiva triste e preocupante”, disse o pesquisador do laboratório Georioemar da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Recuperação da fonte
De acordo com o geólogo Luís Fontes, a recuperação da fonte na Serra da Canastra está associada a um complexo de fatores climáticos, cuja análise é dificultada pela não linearidade de ocorrências. “É um ciclo de mudanças climáticas ao longo dos anos que influencia no retorno de água à fonte, possibilitando assim a recuperação da situação original. O verão está chegando, e com ele as chuvas, porém não sabemos se serão chuvas de pouca intensidade ou torrenciais. Tudo isso influencia, daí a importância de analisar essas mudanças e gerir as águas do Rio São Francisco não apenas com o objetivo de atender aos interesses do setor energético, mas aos anseios das populações que dependem dele para sobreviver, e promover a recuperação do rio”, destacou.
Com informações da jornalista Gilmara Costa/ Equipe JC