Na manhã desta segunda-feira, 6, durante extenso debate promovido pelo radialista Gilmar Carvalho, da Rede Ilha, a população sergipana pode comprovar, atônita, que a utilização política de um importante órgão de desenvolvimento econômico de boa parte do Nordeste, a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), em Sergipe, pode estar prejudicando os parceleiros – que são produtores de arroz – na cidade ribeirinha de Propriá e região.
Para que a história fique clara, é preciso retornar um pouco no tempo, quando o senador Eduardo Amorim, acompanhado de prefeitos da região, parlamentares, lideranças e dos próprios parceleiros visitou Propriá, há coisa de dois meses, e viu de perto a situação. “Nós vimos que a água que está sendo distribuída em um dos canais estava misturada com esgoto da cidade. O canal existe, mas a água está sendo contaminada devido as bombas quebradas”. De posse dessa informação, Eduardo levou a demanda para o ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. E no dia 24 de abril, após ouvir o relato, o ministro confirmou que o presidente da Codevasf, Elmo Vaz, iria a Sergipe pessoalmente conhecer a situação.
Mas após isso, primeiro a visita do presidente da companhia foi substituída pela do diretor de irrigação e saneamento, José Solon. E, finalmente, na tarde do último domingo, 5, até mesmo essa visita foi cancelada, sendo informado que os parceleiros teriam que se dirigir ao diretor da Codevasf em Sergipe, Paulo Viana. Ocorre que ele, bem como os diretores que estiveram a frente do órgão nos últimos 10 anos – Antônio Viana, Irmão de Paulo, e Sylvani Sukita, esposa do ex-prefeito de Capela –, foram nomeados pelo PSB sergipano, partido que nomeou o ministro da Integração. Diante da decepção dos parceleiros, que não acreditam na solução de seus problemas sem que eles sejam avaliados por uma esfera maior, já que a diretoria local, na última década, não apresentou alternativas viáveis para que a situação melhorasse.
“Logo após a confirmação do cancelamento da visita, recebi uma ligação do amigo e senador de Piauí, João Vicente Claudino, dizendo que ninguém veio porque pediram para ninguém vir”, destacou Eduardo Amorim. A principal figura do PSB em Sergipe, senador Antônio Carlos Valadares, diante dos fatos, atacou para se defender. “Vocês querem politizar esse assunto!”, esbravejou.
Mas o depoimento nas emissoras de rádio de um parceleiro identificado como Bonifácio foi direto ao cerne da questão. “Estávamos ansiosos para nos reunir com o presidente da Codevasf e isso, infelizmente, não aconteceu. Gostaríamos de verificar com ele onde seria prioridade para investir esses recursos. Não queríamos fazer baderna nenhuma, nem acusar. É necessário ser discutido, porque é o povo que está sofrendo. Temos apenas um objetivo, que é o desenvolvimento do Baixo São Francisco”, disse Bonifácio, numa referência direta ao montante R$ 120 milhões que o senador Valadares diz que serão aplicados na região. Mas eis outro grande problema: o mesmo Valadares que diz isso é também um dos responsáveis, juntamente com seu partido, pela forma como a Codevasf atua e atuou na região durante a última década, considerada perdida pelos produtores.
E falando diretamente de Propriá pela rede de emissoras, em entrevista ao radialista Ferreira Filho, uma voz política de um partido tradicionalmente aliado ao senador Valadares deu o tom da dissonância entre o discurso proferido e a ação executada. O vereador Helder Guimarães (PT), líder da oposição na Câmara de Propriá, desabafou. “Não sou vereador de partido, sou vereador do povo de Propriá. E me coloco a disposição para mobilização, manifestação e estarei apoiando o movimento”, disse Helder, acrescentando que os oito anos de Lula e o atual mandato de Dilma Rousseff foram os piores anos da Codevasf em Sergipe. O que comprova que não é uma mera coincidência os 10 anos de decadência produtiva enfrentados pelos produtores de arroz daquela região.
Se houve ou não algum tipo de interferência para que a direção nacional da Codevasf não viesse conhecer a penúria por que passam os parceleiros de Propriá torna-se um detalhe diante de algo bem mais importante: a necessidade de união dos homens públicos sergipanos para resolver, de fato, a tragédia que atinge uma área em que a Codevasf deveria atuar no sentido de desenvolvê-la econômica e humanamente.
E, pelo menos isso, o debate radiofônico mostrou ser possível, com figuras da política sergipana hipotecando apoio aos parceleiros, a exemplo dos deputados estaduais Augusto Bezerra (DEM), Venâncio Fonseca (PP), Pastor Antônio (PSC), do deputado federal André Moura (PSC), do prefeito de Propriá, José Américo (PSC), e do vice-prefeito de Aracaju, José Carlos Machado (PSDB). Todos fecharam questão com o senador Eduardo Amorim, que iniciou essa luta pela causa dos produtores. “Eu apenas espero conseguir uma solução, com muito diálogo! Nós não estamos denunciando nada, estamos mostrando apenas a realidade dessas pessoas, dos equipamentos sucateados. Só temos a lamentar e pedir ajuda aos colegas de bancada para que aconteça o que esperamos”, finalizou Eduardo.
Da Assessoria de Imprensa