Por Eldro França*
A decisão de Donald Trump de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros não é apenas uma medida econômica — é um gesto político carregado de simbolismo. Ao atrelar a taxação à situação judicial de Jair Bolsonaro, o ex-presidente dos Estados Unidos transforma o comércio internacional em palco de disputa ideológica. E, nesse teatro, o Brasil é o alvo.
A carta enviada por Trump ao governo brasileiro, carregada de críticas ao Supremo Tribunal Federal e à condução do processo contra o ex-presidente, escancara o uso da política comercial como instrumento de pressão. Não se trata de proteger a indústria americana. Trata-se de punir o Brasil por não se alinhar à narrativa trumpista.

Eldro França – escreve sobre medida de Donald Trump contra produtos brasileiros vai além da economia e expõe tensões geopolíticas e ideológicas -arquivo/Dani Santos
Desde 2009, os Estados Unidos têm superávit comercial com o Brasil. Ainda assim, Trump fala em “relação injusta”. A lógica é clara: quem define o que é justo é quem tem o poder. E o tarifaço é a forma de mostrar quem manda.
Essa postura remete ao conceito de colonialismo do poder, formulado por Aníbal Quijano. Mesmo após o fim do colonialismo formal, persistem estruturas que mantêm países do Sul Global em posição de subordinação. Tarifas punitivas, como as impostas ao Brasil, são manifestações contemporâneas dessa lógica imperial.
O impacto econômico será sentido — especialmente em setores como siderurgia, agronegócio e tecnologia. Mas o dano mais profundo é institucional. Ao tentar deslegitimar instituições brasileiras e interferir em processos internos, Trump ultrapassa os limites da diplomacia e desafia a soberania nacional.
O Brasil precisa reagir com inteligência. Retaliações precipitadas podem agravar a crise. Mas o silêncio também tem custo. É hora de fortalecer parcerias regionais, diversificar mercados e reafirmar o compromisso com uma política externa baseada em autonomia e respeito mútuo.
O tarifaço de Trump é um alerta: o comércio internacional não está imune à geopolítica. E o Brasil, se quiser ser protagonista, precisa deixar de ser espectador.
*Advogado. Administrador. Mestrando em Administração Pública pela Universidade Federal de Sergipe. Especialista em Governança, Riscos e Conformidade. Especialista em Direito Tributário. Membro da Comissão de Estudos Tributários da Ordem dos Advogados do Brasil em Sergipe.
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