Globo/Fantástico
Falta de privacidade, assédio dos fãs, tristeza e até dieta radical. Numa conversa com Renata Vasconcellos, Padre Marcelo Rossi falou sobre os momentos difíceis por que tem passado.
Tudo começou há três anos num acidente na esteira ergométrica que o deixou numa cadeira de rodas por seis meses. Foi então que Padre Marcelo passou a se sentir deprimido. Ele conta como vem dando a volta por cima, com a ajuda da fé.
Um templo de fé construído para receber 60 mil fiéis. Uma obra do tamanho do sucesso alcançado pelo Padre Marcelo Rossi. Foi do templo que Padre Marcelo celebrou, com uma missa, os 19 anos de ordenação, no último domingo (1º).
Mas quem vê a energia dele, não imagina as dificuldades por que vem passando. Como anda a cabeça de Padre Marcelo?
Com uma voz cansada, ele recebeu o Fantástico para conversar sobre as dores de sua alma.
Renata Vasconcellos: Padre Marcelo, muito obrigada por receber o Fantástico aqui no Santuário. Completamente recuperado da depressão?
Padre Marcelo Rossi: Graças a Deus, quase completamente. Fiz uma dieta maluca, Renata. Eu realmente espero que as pessoas não inventem. Era só alface e hambúrguer. Você imagina seis meses fazendo isso.
Renata Vasconcellos: Por que a dieta?
Padre Marcelo Rossi: A dieta, porque as pessoas comentavam: ‘Padre, o senhor está muito gordo’. ‘Eu não estou gordo, estou inchado’. Porque eu estava correndo, só que a corrida não estava eliminando. Aí eu comecei a dieta.
Renata Vasconcellos: Essa dieta era a base de quê?
Padre Marcelo Rossi: Alface, cebola, dois hambúrgueres pela manhã. Um hambúrguer depois das 18h.
Renata Vasconcellos: Então comia três hambúrgueres só ao longo do dia?
Padre Marcelo Rossi: Ao longo do dia, devagarzinho.
Renata Vasconcellos: E agora o senhor está bem magro.
Padre Marcelo Rossi: Infelizmente, eu exagerei. Exagerei e não quis me pesar, mas eu acredito que foram na base de 35 a 40 quilos.
Engordei e perdi. As pessoas chegavam para mim: ‘Padre, o senhor está muito magro’. E eu não acreditava. É você se olhar no espelho e não se ver magro. Então, foi aí que eu parei e falei: ‘Opa, tem alguma coisa errada’.
Renata Vasconcellos: O senhor não pensa em buscar ajuda nesse sentido?
Padre Marcelo Rossi: Não busquei nenhum psicólogo, ninguém. Nunca fiz terapia.
Renata Vasconcellos: Mas padre, em alguns momentos, faz terapia?
Padre Marcelo Rossi: Tem vários padres que eu conheço que fazem terapia. Você fica sabendo de cada caso que a pessoa vem confessar com você. E você não vai chegar no seu quarto, fechar a porta e desconectar. É difícil.
Renata Vasconcellos: E como o senhor, Padre Marcelo, consegue uma válvula de escape para não somatizar?
Padre Marcelo Rossi: A esteira.
Renata Vasconcellos: Atividade física?
Padre Marcelo Rossi: Foi a atividade física.
Mas foi justamente na esteira que ele tomou um segundo tombo, há uma semana, e se machucou nas mãos e na perna. Dessa vez, Padre Marcelo caiu, porque estava se sentindo muito fraco. “Foi aí que eu acordei que estava fazendo uma dieta maluca”, conta ele.
Acostumado a grandes multidões, eventos e programas de TV, ele diz que sofreu com o excesso de exposição.
Padre Marcelo Rossi: Eu perdi todas as liberdades necessárias. Por exemplo, qualquer coisa que se eu fizer errado hoje, todo mundo tem celular. Então, uma foto vai estar na internet, vai estar em algum lugar.
Renata Vasconcellos: Você perde a liberdade?
Padre Marcelo Rossi: Toda a liberdade.
Renata Vasconcellos: O senhor sente falta de sair na rua?
Padre Marcelo Rossi: Nossa, como eu sinto! Sair na rua, fazer compras eu mesmo, ir num restaurante que eu quiser, como eu quero. Mas, ao mesmo tempo, tudo tem o seu preço. Eu pago esse preço. O que mais me assusta é o fanatismo. Esse é o grande perigo em qualquer lugar, seja em qualquer religião. Muitas vezes nos colocam em um pedestal, até em uma idolatria. Eu sou um ser humano. É o que eu explico para as pessoas. Todo ser humano. Eu passo por dor. Nunca escondi de ninguém.
Padre Marcelo conta que se arrepende por ter criticado o Padre Fábio de Melo por se apresentar sem batina: “Eu acho a batina é importantíssima, mas eu tenho que respeitar o outro. Nós sentamos e conversamos sobre isso. Foi muito bom. Foi no dia do programa da Xuxa que eu pedi desculpas para ele. Foi daquele dia em diante que nos tornamos grandes amigos”.
Renata Vasconcellos: O senhor está bem de saúde?
Padre Marcelo Rossi: Agora, estou perfeito. Quinze dias que eu estou me alimentando como sempre me alimentei, como devia me alimentar.
Renata Vasconcellos: O senhor se julga uma pessoa vaidosa?
Padre Marcelo Rossi: Gordura, eu sou vaidoso. De resto, roupa, coisas. Exemplo, tudo que eu fiz, CDs, eu doei para a Diocese. Podia ficar comigo. Então, não sou preso a dinheiro.
Renata Vasconcellos: Ainda toma remédio para calvície?
Padre Marcelo Rossi: Tomo. Isso eu tomo.
Renata Vasconcellos: Padre Marcelo, o que o senhor aprendeu nesses momentos difíceis?
Padre Marcelo Rossi: Estou aprendendo. Vamos colocar assim: a vida da gente é um eterno aprendizado. Deus permitiu que eu passasse por um pouquinho do que é uma depressão. Eu pude entender, porque eu achava que antes, desculpe a palavra, entre aspas, era frescura. ‘Depressão? Ah, isso não’. Eu falava: ‘Doença, isso é o que a pessoa tem o dia inteiro’. Não é. É o que você tem uma sensação não boa. O que me salvou foi escrever. O que me salvou foi cantar. O que me salvou foi a oração. E, por favor, você que está acompanhando o Fantástico, juízo com dietas malucas.
Renata Vasconcellos: Nada de dietas malucas.
Padre Marcelo Rossi: Por favor, porque eu sou um desses loucos que caiu nessa dieta maluca e quase, meu Deus, poderia ter sido pior. Mas Deus é mais.
Renata Vasconcellos: Obrigada, Padre Marcelo.
Padre Marcelo Rossi: Deus a abençoe.