Sergipe pode abrigar um complexo de usinas de energia nuclear, com capacidade de até seis unidades, na área do Baixo São Francisco. Os municípios com sítios potenciais a receber o empreendimento são Gararu, Porto da Folha e Poço Redondo. A construção deve produzir 7.200 megawatts (MW) de energia, movimentar um valor equivalente a US$ 5 bilhões para cada usina, podendo atingir até U$ 30 bilhões de investimento, com geração de, aproximadamente, 2 mil empregos.
Para tratar sobre este assunto, o governador Jackson Barreto recebeu nesta segunda-feira, 11, uma equipe de técnicos da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras, e executivos e profissionais da empresa China National Nuclear Corporation (CNNC) [Corporação Nacional Nuclear da China], grupo investidor que já atua na América do Sul. A estatal chinesa, já em 2014, possuía quatro centrais nucleares instaladas em seu país, com capacidade de 6,5 mil megawatts (MW) e mais cinco complexos em construção, que podem gerar 12,5 mil MW.
O governador acompanhou a apresentação do projeto da Eletronuclear, ouviu sobre a atuação do grupo chinês e se colocou a disposição das empresas. Ele ainda afirmou que o Governo do Estado continuará participando das discussões e que este é o primeiro passo do processo de instalação do complexo nuclear no Brasil.
A respeito da escolha do local no país onde será construída a central nuclear, isto dependerá de aspectos geográficos, demográficos, meteorológicos, hidrológicos, geológicos, sismológicos e geotécnicos. A vinda da Eletronuclear e da CNNC a Sergipe serve como base na elaboração de estudos técnicos para avaliar qual a área mais adequada para a instalação de centrais nucleares. Os profissionais permanecem em missão no estado até quarta-feira, 13.
De acordo com o assessor de desenvolvimento de novas centrais nucleares da Eletrobras, Marcelo Gomes, Sergipe conta com uma região muito propícia ao longo do São Francisco, tem topografia e um tipo de geologia [solo] muito interessantes, e a empresa vem recebendo apoio do governo estadual.
“Estamos muito satisfeitos e agradecidos pela recepção do governo. Gostamos muito de Sergipe, e estamos vindo para realizar estudos e pesquisas junto com a Eletronuclear. A construção da usina pode trazer muitos benefícios locais e queremos contribuir com o desenvolvimento econômico do estado”, reforçou o gerente geral da América Latina da CNNC, Zhu Qiang.
Sobre os benefícios da vinda da indústria nuclear para Sergipe, o profissional da Eletrobras comentou que são não só de ordem econômica, como cultural e profissional.
“Criam-se oportunidades de carreira para as pessoas, traz-se competência técnica, além da oportunidade de as universidades locais poderem formar pessoas para uma carreira do setor. Em Angra [local de instalação de três usinas nucleares no Brasil] temos um exemplo, pois lá há escolas técnicas e unidades de ensino superior formando os operadores e técnicos que trabalham na manutenção da usina. Acho que é uma oportunidade muito importante para uma região, que se torna um centro de tecnologia e de produção intelectual e acadêmica também. Além disso, existe benefício para a indústria local, pois muitas empresas tendem a se instalar por perto. Existe ainda um intercâmbio internacional muito grande e forte. Como a indústria nuclear é muito conectada em todo mundo, existe um fluxo de pessoas, mão de obra e gente o tempo todo. Isso traz dinamismo para a cultura local e é muito importante”, comentou o assessor da Eletronuclear.
O assessor especial do governo, Oliveira Júnior, ainda explica que a atração de um complexo nuclear teria algumas vantagens, e uma das principais é poder levar obras de infraestrutura importantes e sentido social grande para regiões pobres, de pouca habitação e onde há pouco investimento.
“Existe ainda uma ação que toda empresa grande que se instala em uma região faz, de desenvolvimento e atuação regional. É o que fazemos em Angra, por exemplo. Nós trabalhamos ajudando na manutenção do patrimônio histórico da região, com centros culturais, pois é uma forma importante de a empresa se integrar na cultura e sociedade local. Essa presença também é muito importante e um benefício muito forte para a sociedade”, explanou Marcelo Gomes.
A instalação do complexo de usinas no Brasil se deve devido à necessidade em se produzir energia barata e abundante. Além de praticamente não produzir quase nenhum gás que gere efeito estufa, segundo o assessor da Eletronuclear, existe um cuidado com a questão dos resíduos e do lixo atômico, que são monitorados e guardados. Marcelo também acrescenta que, com a vinda do centro de usinas, entre 60% e 70% do dinheiro investido fica dentro do Brasil, seja na área de construção civil e até em indústrias nacionais que fornecem equipamentos.
Sobre o prazo de instalação, o profissional de desenvolvimento de novas centrais nucleares da Eletrobras explica que o Ministro de Minas e Energia comenta que as usinas devem ficar prontas até 2030. “Isso significa que, para começar essas obras, e a partir de um terreno que não tem nada, precisamos de 10 anos, que é o tempo necessário para fazer prospecção do terreno, sondagem, licenciamento e ver questão ambiental. Temos que ter definição acerca do local ano que vem, para começar esse processo o mais cedo possível e essas usinas fiquem prontas a tempo”.
Construção de usinas nucleares
Em abril de 2015, o Ministério de Minas e Energia anunciou os planos do governo federal para instalar quatro novas usinas nucleares até 2030 e mais oito unidades até o ano de 2050. No mês de setembro, o então governador em exercício, Belivaldo Chagas, visitou as obras de Angra 3, terceira usina nuclear da Central Almirante Álvaro Alberto. A unidade terá capacidade de 12 milhões de megawatts-hora por ano.
Na ocasião, a Eletronuclear apresentou seus projetos futuros, inclusive o da construção de uma nova usina próxima às margens do rio São Francisco. A oportunidade também serviu para que Sergipe atraísse a atenção e estabelecesse as tratativas para a visita dos técnicos da Eletrobras e os representantes da empresa chinesa CNNC, que fornecerá os equipamentos necessários para o funcionamento da central nuclear.
Para que Sergipe esteja apto a receber o complexo de energia nuclear, além de preencher os requisitos, deve receber aprovação da presidenta da República, que fará a escolha do local diante de uma lista elaborada pela Eletronuclear e sob a supervisão do Ministério de Minas e Energia. A decisão final caberá ao Congresso Nacional.
A licença de atuação de cada usina é de 40 anos, podendo ser renovada, e a vida útil de cada unidade pode ser de até 100 anos. De acordo com o assessor da Eletrobras, a usina nuclear é uma indústria pujante e tem sido grande solução no mundo por conta da questão de emissão de gases. Ele explicou durante sua apresentação que um complexo com até seis usinas é como se fosse uma Chesf dentro de um mesmo território. Ainda nas comparações, Marcelo informou que o fator de capacidade de geração de energia da Furnas é de 63%, Chesf 53% e o do complexo de usinas nucleares é de 85% a 90%.
Produção de energia em Sergipe
Na área do gás natural, Sergipe desponta na produção de energia. O estado foi contemplado no leilão A-5, ocorrido em 2015, e terá a maior termoelétrica do Brasil. Com a implantação da usina serão criados cerca de 1.700 empregos e produzidos 1,5 mil gigawatts (GW), metade da energia gerada pela hidroelétrica de Xingó. O investimento gira em torno de R$ 3,3 bilhões e a previsão é que em 2020 a Usina Porto de Sergipe I já esteja em funcionamento. A receita prevista com a usina é de US$ 1,25 bilhão/ano.
Apesar de a Usina Porto de Sergipe I ainda não ter sido construída, sua produção já tem destino certo. 25 concessionárias brasileiras, dentre elas a Empresa Distribuidora de Energia Elétrica de Sergipe (Energisa), já compraram a energia. E é esse o objetivo dos leilões que ocorrem anualmente no Brasil, garantir que o futuro energético do país seja planejado.
A GenPower, empresa responsável pelo consórcio, manifestou interesse em implantar um terminal de regaseificação no Porto de Sergipe, com capacidade de processar 12 milhões de m³ de gás por dia. Outros dois projetos de usinas termoelétricas em Sergipe deverão ser apresentados pela empresa em novos leilões ao longo de 2016: Usinas Termoelétricas Laranjeiras e Governador Marcelo Déda. Os três projetos têm capacidade de geração de 2.942 MW, com investimento de cerca de R$ 6 bilhões na construção das três plantas.
Ainda na área de gás, o planejamento é que a Petrobras trate em Sergipe pelo menos 18 milhões m³/dia, sendo a reserva restante bastante superior a esse volume. Já no setor hidroelétrico, temos a Usina de Xingó, com capacidade de geração de 3.162 MW. Quando se trata de produção de energia diversificada, como a geração de energia por biomassa e eólica, há a UEE Barra dos Coqueiros com capacidade de produção de 34,5 MW.
O potencial de Sergipe no mercado de energia também se manifesta na área de produção de petróleo. Existem novas reservas em análise pela Petrobras, que projetam a disponibilidade de 1 bilhão de barris. A exploração de nova jazida multiplicaria mais de três vezes a produção em seu território, passando dos atuais 40 mil barris/dia para mais de 140 mil. Além disso, abriria enorme potencial de adensamento da cadeia produtiva de gás e petróleo, atrairia diversos investimentos para o estado e proporcionaria emprego e renda.
O esforço do governo em mostrar o potencial do estado para atrair grandes projetos industriais é antigo, segundo conta o consultor do governo Oliveira Júnior. Ele disse que a soma do desejo da administração com as condições logísticas oferecidas por Sergipe resultaram na abertura da possibilidade de recepção de uma usina termoelétrica desse porte.
“Temos buscado mostrar que há uma logística favorável em Sergipe. A geração de energia em Xingó fez com o que o Estado dispusesse de linhas de transmissão de alta potência. Então já temos a chamada rede de distribuição. Além disso, o gás natural passa próximo a BR 101. Ainda há aqui uma distribuição de gás que também é favorável”, explicou. Oliveira Júnior complementou dizendo que além da produção energética, o Estado sai ganhando na produção de impostos, recebimento de royalties e possibilidade de instalação de indústrias. “Sergipe foi escolhido por ter infraestrutura, gás, estrada, porto, além do esforço do governo na atração do empreendimento”, acrescentou.
Presenças
Participaram da reunião com a Eletronuclear e a CNNC o vice-governador Belivaldo Chagas, os secretários de Estado da Tecnologia, Francisco Dantas, Planejamento, Augusto Gama, Comunicação, Sales Neto, e Saúde, José Sobral; representantes da empresa chinesa; assessor técnico da diretoria de gestão, planejamento e meio ambiente, Roberto Travassos, assessores do governo Carlos Cauê e Ricardo Lacerda; comandante geral da PM, coronel Iunes; e o chefe da assessoria técnica da Seplag, Gustavo Andrade.
Secretaria de Estado da Comunicação Social
Governo de Sergipe
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