A febre amarela silvestre está assustando os brasileiros e causando tumulto nas Unidades Básicas de Saúde. Por isso, o governo federal iniciou uma campanha emergencial de vacinação com o objetivo de imunizar cerca de 20,6 milhões de pessoas que moram nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, novas áreas de concentração da doença, entre janeiro e março.
No entanto, nem todos podem receber a dose da vacina, que pode causar reações graves àqueles que estão com o sistema imunológico debilitado ou que têm alergias a elementos do ovo – um dos componentes da vacina.
Isso ocorre porque a vacina imunizante possui o vírus vivo atenuado, que desaparece do organismo três semanas após a vacinação, em média. Em um paciente com um sistema imunológico sadio, a vacina irá provocar as células de defesa para que criem anticorpos contra a doença. Isso significa que esse paciente, ao ser eventualmente picado no futuro por um mosquito infectado, terá os anticorpos necessários para combater o vírus.
Mas afinal, quais são os grupos de risco e quem pode tomar a vacina?
Doadores de sangue
Pessoas que pretendem doar sangue devem esperar 30 dias após a vacinação para o procedimento. O objetivo é evitar que o vírus vivo inoculado, circulante na corrente sanguínea do doador durante as três primeiras semanas após a vacinação, não acabe em um paciente que esteja com o sistema imunológico debilitado e cause reações adversas.
“É uma ação de prevenção que faz parte dos protocolos internacionais”, afirma Regiane Cardoso de Paula, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo em entrevista à BBC Brasil.
Gestantes e mulheres que amamentam
Grávidas e mulheres que estejam amamentando um bebê com menos de seis meses devem buscar orientação médica antes de tomar a vacina. A cautela é para evitar a possibilidade de reações alérgicas graves. A orientação geral é que essas mulheres só sejam imunizadas se estiverem em área de risco de transmissão da doença.
“O médico vai fazer uma conta de risco e benefício”, diz Regiane de Paula. “Se a grávida tiver mais de três meses de gestação e estiver próxima do foco da doença, a recomendação é que tome a vacina. Se puder se deslocar para um outro local em que a doença não seja endêmica, podemos avaliar se a vacina é dispensável.”
Bebês com menos de 9 meses
O Ministério da Saúde recomenda a vacinação apenas para os bebês acima de nove meses de idade. Para aqueles em áreas de alto risco da doença, a recomendação é a partir dos seis meses.
De acordo com Expedito Luna, médico epidemiologista e professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo, “nesse grupo, há mais eventos adversos neurológicos e menor imunogenicidade da vacina, o que significa que ela protege menos. Você aplica em cem crianças e vai haver menos proteção e mais efeitos colaterais”, explica.
Idosos acima de 60 anos
Atualmente, a vacina está recomendada para aqueles entre nove meses e 59 anos de idade. Idosos acima dessa faixa etária precisam passar pelo médico para avaliar o estado do sistema imunológico e se o risco de serem contaminados pela doença é alto ou não.
De acordo com Luna, desde 2000 foi identificado no Brasil e em outros lugares do mundo que uma pequena proporção daqueles que tomavam a vacina podiam desenvolver um quadro grave, semelhante ao da própria febre amarela.
Pessoas com doenças autoimunes
Pacientes em radioterapia, quimioterapia ou fazendo uso de corticoide, portadores de doenças autoimunes, como lúpus, doença de Addison e artrite reumatoide, não são indicados a receber a vacina.
Como estão com o sistema imunológico baixo, a vacina contra a febre amarela – assim como de outras em que há o vírus vivo atenuado, como caxumba, varicela, catapora – pode trazer efeitos colaterais graves.
Diabéticos
Diabéticos com os níveis de glicemia controlados podem receber a vacina. No entanto, aqueles com altos níveis de açúcar no sangue precisam se consultar com um médico antes de se vacinar.
Quem pode tomar
Todas as pessoas não pertencentes aos grupos citados acima e que vivem em área de risco para a doença, conforme determinado pela Secretaria de Saúde do Estado, devem procurar postos de saúde para tomar a vacina. Pessoas que viajarão para essas regiões também precisam se imunizar – nesse caso, dose deve ser aplicada no mínimo dez dias antes da chegada.
Em Aracaju, a Prefeitura divulgou as unidades de saúde que possuem a vacina e o período.
Como evitar a contaminação sem a vacina
A orientação é evitar picadas de mosquitos por meio do uso de camisas de mangas longas e calças compridas, mosquiteiros e repelentes – grávidas e mães de recém-nascidos, contudo, devem buscar orientação sobre possíveis reações alérgicas a essas substâncias. Se possível, é recomendado ainda buscar telas antimosquitos para os cômodos da casa.
Sintomas
A febre amarela causa sintomas como dor de cabeça, febre baixa, fraqueza e vômitos, dores musculares e nas articulações. Em sua fase mais grave, pode causar inflamação no fígado e nos rins, sangramentos na pele e levar à morte.
Transmitida pelos mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, a forma silvestre da doença é a variedade que ainda provoca surtos no Brasil. O país não registra casos de febre amarela urbana, transmitida pelo Aedes aegypti, desde 1942.
Da Redação do SE Notícias