Do G1 Ribeirão e Franca
As armas usadas pela quadrilha que roubou R$ 1 milhão de um carro-forte e matou o motorista do veículo, no interior de São Paulo na sexta-feira (7), seriam capazes de parar tanques de guerra e de abater aeronaves, segundo especialista em armamento.
Após o assalto, a quadrilha se deparou com um comboio da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), que levava 41 presos de Casa Branca (SP) para Serra Azul (SP). O bando fugiu nos dois veículos do Estado, levando os detentos, que foram libertados momentos depois na Rodovia Abrão Assed. Desses, 37 fugiram.
Até a tarde deste sábado (8), 22 presos foram recapturados, segundo informações da Secretaria de Segurança Pública (SSP). Nenhum dos 12 integrantes da quadrilha foi preso.
‘Ação impressionante’
A ação dos 12 suspeitos da quadrilha impressionou a polícia e especialistas em armas porque, além de capacetes à prova de balas, os assaltantes estavam com metralhadoras ponto 50, de alto poder destrutivo e usadas normalmente em guerras.
De acordo com o instrutor de tiro Fabiano Rosa da Silva, de Ribeirão Preto (SP), a preparação da quadrilha era incompatível com a dos seguranças que protegiam o carro-forte.
“O transporte de valor é efetuado normalmente usando armas de curto calibre, como 38, e de calibre longo, como a 12, mas incompatíveis com a ponto 50, muito mais potente e com alto poder destrutivo e de longo alcance”, disse o instrutor.
De acordo com Silva, o armamento poderia abater aeronaves e atravessaria até três carros-fortes enfileirados, por mais que estivessem blindados. “Numa distância daquela, se enfileirássemos três carros daquele certamente todos eles seriam transfixados”, comentou.
Tráfico de armas
Esse tipo de armamento, segundo o especialista, no Brasil é de uso exclusivo das Forças Armadas e pode ter sido adquirido por tráfico. “Só por tráfico de drogas que teriam a possibilidade de ter essas armas na mão”, disse.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou que desde o início de 2015, mais de 50 armas de uso privativo das Forças Armadas foram apreendidas no Estado de São Paulo e que as polícias Civil e Militar realizam operações de inteligência para combater o tráfico de armamentos.
“Cabe salientar que, sempre que necessário, a Rota, Batalhão de Ações Especiais de Polícia da PM e Força Tática atuam no interior em apoio às operações. Isso apesar de a fiscalização das fronteiras para coibir o tráfico de armas ser de responsabilidade da União”, informou a nota.
O caso
O assalto ao carro-forte ocorreu na SP-338, entre Mococa e Cajuru. Os bandidos usaram três carros, entre eles uma Land Rover com o vidro blindado, adaptado para uso de armas como fuzis. Eles atiraram contra o veículo e mataram o motorista, Wladimir Martinez, de 49 anos.
Em seguida, os assaltantes usaram dinamite para explodir as portas do blindado. Outros dois vigilantes ficaram feridos. Segundo o tenente coronel, dos dois cofres do carro-forte, apenas um foi levado pela quadrilha.
Ao tentar a fuga, a quadrilha foi surpreendida por um comboio na Rodovia Abrão Assed (SP-333), que levava 41 presos até Serra Azul. Os policiais atiraram contra os veículos dos suspeitos e conseguiram parar a Land Rover.
Os assaltantes tomaram a caminhonete S-10 e o caminhão do Estado, onde estavam os presos, e fugiram. Dos 41 presos libertados, 37 aproveitaram para fugir e 4 permaneceram nos veículos.
‘Coincidência’
O diretor do Deinter-3, João Osinski Júnior, também descartou que os presos tenham sido alvo de um resgate programado. “O que aconteceu foi uma grande coincidência. Esses presos estavam ainda sendo julgados, sendo levados para audiências, e presos que estão envolvidos com furtos, alguns com tráfico [de drogas], ou seja, que não representam alto grau de periculosidade. Nenhum que pudesse ser alvo de resgate. Que fique uma coisa bem clara: foi uma grande coincidência”, afirmou o delegado.
Segundo a Segurança Pública, as buscas pelos fugitivos seguem neste sábado com apoio de três helicópteros Águia, e a Polícia Civil faz diligências para localizar os suspeitos dos crimes. Uma equipe do Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) assessora as investigações.