O vereador Agamenon Sobral (PP) está ganhando fama na cidade: é o cara que fala o que muita gente quer escutar. (Foto: Acrisio Siqueira)
por Max Augusto / Jornal da Cidade
O vereador Agamenon Sobral (PP) está ganhando fama na cidade: é o cara que fala o que muita gente quer escutar. Sem preocupação em ser delicado e sem escolher palavras, ele vem denunciando professores e médicos que estão faltando ao trabalho. Ele também capricha nas críticas ao Sintese. Segundo Agamenon, o sindicato é responsável pelas constantes faltas dos professores, por marcar mensalmente assembleias, em pleno horário de aula. Já em relação aos médicos, o vereador diz que os profissionais do Programa Saúde da Família (PSF) deveriam trabalhar oito horas por dia, mas permanecem no máximo um expediente. E o pior: os coordenadores de postos de saúde, que geralmente são enfermeiros ou assistentes sociais, teriam medo de registrar as faltas dos médicos. Leia a seguir a conversa.
JORNAL DA CIDADE – Esta semana, o senhor voltou a classificar o Sintese de comitê eleitoral. Porque essa “marcação cerrada” com o sindicato dos professores?
Agamenon Sobral – Não é marcação. Inclusive o professor Iran diz que eu estou inconformado, mas não é isso. Eu sou filho da escola pública, sempre estudei na escola pública. Venho de uma família humilde e estudei sempre em escolas públicas. E na minha época não existia o Sintese. Desde que o Sintese, que se diz o sindicato dos professores trabalhadores, foi criado que os professores começaram a faltar à escola, porque o Sintese sempre convoca, quase todos os meses, uma assembleia justamente no horário de aula. Porque não faz as assembleias dele no sábado ou domingo, para que os professores não faltem? Devido a essas manifestações vem acontecendo o seguinte: o ano letivo de 2009 terminou em 2010. O de 2010 terminou em 2011 e assim por diante.
JC – E isso tudo é culpa do Sintese, são tantas assembleias assim?
AS – Só este ano, em março houve uma paralisação de três dias. Em abril, outra de dois dias. Em maio, no último dia 14, teve a segunda paralisação. Isso dá para ter ideia da quantidade de paralisações, que tira o professor da sala de aula, para assembleias. Temos quatro sábados e quatro domingos no mês, porque não realizar as assembleias nestes dias, para não deixar os alunos sem aula?
JC – Mas essas ausências dos professores acontecem só por causa do Sintese? Essa afirmação não é um pouco exagerada?
AS – Não acho que seja um exagero, porque o Sintese é quem provoca a saída do professor da sala de aula, para as assembleias.
JC – Além das assembleias da categoria, os professores faltam aula por outros motivos?
AS – Por vários motivos. Existe um bom número de professores que estão “encostados”, por questões médicas, e existem os professores faltosos, que faltam em qualquer situação. Inclusive professores que possuem vínculo com escolas particularese por isso não vão dar suas aulas nas escolas públicas.
JC – São muitos nesta situação?
AS – Não são muitos, nem são todos. Mas tem alguns professores que dão preferência à escola particular, mesmo ganhando mais na escola pública.
JC – Como vereador, o senhor tem fiscalizado essa situação? Onde estão esses professores faltosos?
AS – Vejo diariamente, é grande a quantidade de professores faltosos na escola pública. Se você sair visitando de escola por escola vai ver isso. Recentemente vi um problema no Colégio José Alves Nascimento, no Coqueiral, onde não havia professores porque a secretaria não tinha mandado e os professores que estão lotados nas escolas faltando às aulas. Entrei em contato com o secretário, que resolveu o problema da falta de professores, mas os faltosos continuavam.
JC – Não é papel do Governo do Estado e da prefeitura fiscalizarem os professores faltosos? O senhor tem levado esses problemas aos governos?
AS – Tenho usado a tribuna da Câmara constantemente, para dizer que o problema é administrativo. Tanto a prefeitura como o governo têm culpa. Os diretores são corporativistas, porque muitos professores faltam e os diretores não colocam nem aula para repor. Tivemos um problema há pouco tempo. No Colégio Santa Rita de Cássia, um professor faltou e a diretora mandou ele repor. Ele não repôs, a diretora mandou as faltas para a secretaria, que descontou do salário dele. E ele foi tirar satisfações com a diretora. A prefeitura e o governo não fazem a fiscalização, eles acreditam no diretor que está lá. Quem deveria estar colocando os professores para repor aula são os diretores. A prefeitura e o governo deveriam fiscalizar melhor os professores faltosos, inclusive aplicando punições.
JC – Então para o senhor este é o grande problema da Educação?
AS – Sim, o problema não é financeiro. O governo municipal acabou de dar o reajuste do piso, retroativo a janeiro. Se o governo municipal e estadual estão pagando o piso, isso é uma prova de que o problema não é financeiro. Todos os meses os professores recebem os seus salários e têm obrigação de fazer a sua parte, dar aula.
JC – E porque o senhor considera o Sintese um comitê eleitoral?
AS – Porque visualiza exclusivamente as campanhas políticas. A prova de que é um comitê eleitoral é o que venho alertando, inclusive em entrevista aqui no JORNAL DA CIDADE: que este ano a quantidade de assembleias seria bem maior e já provei. Em março, abril e maio já houve, porquê? Porque a eleição é em outubro?
JC – O senhor acha ruim ver um sindicalista ser candidato?
AS – De forma alguma, todo cidadão tem o direito de ser candidato. Mas usar o sindicato e prejudicar o povo para fazer sua campanha, aí está errado. Ele pode estar trabalhando para beneficiar a categoria, mas esse benefício para eles é o malefício para o povo, pois os professores faltam na sala de aula.
JC – Não é exagero colocar a culpa na qualidade ruim da Educação apenas no sindicato? Prefeituras e governo não têm responsabilidade?
AS – O governo faz a parte dele: contratara professores e paga seus salários. Cabe aos professores irem pra sala de aula e fazerem sua parte. Por exemplo, muitos sindicalistas do Sintese poderiam se afastar da sala de aula, mas não fazem isso, para não perder a regência de classe. O professor Joel Almeida, por exemplo, tem dois vínculos com o Estado. Ele opta por estar na sala de aula, mas não comparece.
JC – E os médicos, cumprem a carga horária que está no contracheque deles?
AS – Não cumprem, por isso diariamente estou usando a tribuna da Câmara, citando nome por nome, os médicos que não estão indo aos postos. Os nomes estão nas escalas, eles sabem que deveriam trabalhar, mas não vão. Estou trabalhando com os médicos do PSF, que possuem um contrato de 40 horas semanais – deveriam trabalhar quatro horas pela manhã e quatro pela tarde, ou atender 20 pacientes pela manhã e 20 à tarde. Mas você chega em qualquer posto de saúde de Aracaju e vê que o médico aparece duas ou três vezes, durante no máximo um expediente. O coordenador do posto tem obrigação de colocar a falta no médico, mas tem medo, porque o coordenador é um enfermeiro ou assistente social e tem medo do médico.
JC – Existe uma lei municipal que obriga as unidades de saúde a disponibilizarem em lugar público o nome dos médicos e seus horários. Isto está sendo cumprido?
AS – Tenho fiscalizado os postos e isso não está acontecendo, por isso falo todo dia na Câmara que os médicos que estão faltando. A lei existe, é para ser colocado um quadro de aviso dizendo o nome dos médicos que estão de plantão.
JC – Então tem médico recebendo salário sem trabalhar o que deveria?
AS – Com certeza, tem médico recebendo salário sem trabalhar. Se estivessem trabalhando, estariam diariamente cumprindo sua jornada de trabalho. Alguns médicos da família trabalham um expediente só. Não trabalhou, não cumpriu o que deveria.
JC – Esse problema é verificado só com médicos ou com outros profissionais da saúde também?
AS – São todos os profissionais: médicos, dentistas, enfermeiros, agentes de saúde… Toda a área da saúde. O problema da saúde pública não é financeiro. Não lembro quando a prefeitura ou governo atrasou o salário dos seus funcionários ou deixou de pagar. Se não deixou de pagar, o problema não é financeiro. O principal é o médico estar no posto de saúde. Se o cidadão recebe uma receita e não tem remédio no posto, ele se vira para conseguir. Mas se não tem o médico?