Por Verlane Estácio e Raquel Almeida – Infonet
O maestro Carlos Magno, fundador, gestor e professor do Instituto Canarinhos está sendo acusado de abuso sexual pela família de duas alunas de 16 e 17 anos. O caso foi registrado no Departamento de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) de Aracaju e o inquérito já foi encaminhado à 11ª Vara Criminal do Fórum Gumercindo Bessa. No processo que corre em segredo de justiça, o professor está sendo acusado pelos crimes de violência sexual mediante fraude e por crimes previstos no Estatuto da criança e do adolescente (ECA).
A mãe da jovem de 17 anos, que preferiu não se identificar para não expor sua filha, procurou o Portal Infonet para dar detalhes sobre o caso. De acordo com ela, tudo aconteceu quando no último dia 29 de junho, o professor foi buscar a jovem em casa, dando a desculpa de que iria levá-la para um almoço com outras pessoas. “Ele foi buscá-la dizendo que seria uma lembrança pelo aniversário dela que havia passado. Mas no lugar de ir ao restaurante, ele levou minha filha para um motel e lá deixou ela só de calcinha, passou a mão no corpo dela, beijou e só não chegou as vias de fato, porque não houve penetração”, detalha a mãe.
A mãe ainda relata que no dia não desconfiou de nada, mas que tempos depois percebeu algo de estranho na filha. “Ela é uma menina muito meiga e doce, mas dias depois senti algo diferente na expressão dela, vi que ela estava estranha quando encontrava com ele e sempre com lágrimas nos olhos. Foi então que pedi sinceridade a ela e questionei se ele já tinha passado a mão nela. Minha filha começou a chorar e contou tudo”, explica.
A segunda denúncia partiu de uma aluna de 16 anos, prima da outra jovem. O pai conta que o professor tentou abusar da garota, que conseguiu escapar das investidas. “As meninas frequentam o local desde 2009, mas segundo relato de minha filha esse tipo de atitude do professor começou em meados 2010. Ele se aproveitava de momentos em que estavam sozinhos para fazer tentativas de beijo na boca, alisar a barriga querendo chegar até o seio dela, mas ela nunca deixou”, comenta.
O pai que também preferiu não se identificar esclarece que só tomou conhecimento das tentativas de abuso, depois que a primeira jovem revelou à família. “Até então minha filha só tinha contado apenas para os amigos que se uniram para impedir este tipo de aproximação dele. Quando soubemos do primeiro caso, é que ela nos revelou tudo que havia acontecido”, diz o pai.
Indignados, os pais das meninas, dizem que jamais desconfiaram da conduta do professor. “Ele sempre foi próximo da família, esteve presente nas reuniões, sempre nos inspirou confiança e demonstrava que queria participar da família”, diz a mãe. “Ele é expansivo, gostava da de dar gargalhadas, falar de futebol e isso de certa forma criava intimidade e uma sensação de amizade. Quer dizer, foi um choque para nós, ainda mais sabendo que ele tem acesso a uma instituição que atende a várias crianças e adolescentes”, completa o pai da outra jovem.
Denúncia
A família explica que assim que soube do caso, prestou queixa no DAGV e foram orientados a ter cautela para não prejudicar as informações. “Tomamos todas as medidas legais para que ele fosse investigado e punido, pois não queremos que aconteça isso com os filhos dos outros. Não sabemos se é o primeiro caso, mas nós estamos sendo os primeiros ter coragem de denunciar. Queremos prevenir, pois lá tem muitas crianças e adolescentes, fora as escolas que esta pessoa dá aula”, desabafa o pai.
A família ainda informa que chegou a receber ligações do acusado. “Eu e minha sobrinha recebemos ligações dele e meu outro irmão, que é tio e praticamente pai dela, recebeu ligação de uma pessoa que se dizia advogado dele. O objetivo deles era abafar o caso, mas nós preferimos dar prosseguimento no DAGV”, afirma o pai.
Para a mãe da garota, a vida das duas meninas nunca mais vai ser a mesma. “As meninas têm pesadelos direto, tudo mudou por conta dos traumas sofridos. Mas esperamos que o tratamento psicossocial que elas estão recebendo amenize isso e que elas separem essa fatalidade do hobby de cantar e tocar. Na realidade, minha filha sentiu de todos os lados, pois ela sente falta dos amigos e da música, infelizmente o professor estragou tudo o que ela mais gostava”, diz a mãe.
Inquérito
A equipe do Portal Infonet entrou em contato com a delegada titular da Delegacia da Criança e do Adolescente Vítima (DEACAV), Mariana Diniz, que confirmou o caso e afirmou ter indiciado o professor. “O caso já foi encaminhado à justiça e aguarda apreciação do Ministério Público que poderá ou não denunciá-lo. Não ficou configurado crime de estupro, devido à idade das vítimas e a ausência de violência ou grave ameaça. Entretanto, o fato de ser o Carlos Magno professor das vítimas, e haver relação de confiança entre eles, dificultou a resistência por parte delas que se sentiram constrangidas com os atos libidinosos praticados por ele. É um caso polêmico”, resume a delegada.
Defesa
Também entramos em contato com o Maestro Carlos Magno que declarou que preferia se pronunciar por meio de seu advogado, Bruno Alexander. Em conversa com o Portal Infonet, o advogado esclareceu que ainda não teve acesso aos autos do processo, mas de antemão declarou a inocência do professor. “O que aconteceu é que ele convidou a menina, sua mãe e sua avó para um almoço, mas no dia somente a menina estava em casa. Ele a levou para o almoço no shopping e foi só isso que aconteceu. O que acontece é que um dos tios dela, que inclusive já foi professor do instituto, está divulgando este tipo de coisa com o objetivo de afastar Carlos Magno da direção e assumir a gestão do local”, acusa.
Sobre a denúncia de que ele e o professor teriam tentando um acordo no intuito de abafar o caso, o advogado esclarece. “O que aconteceu foi que registramos um boletim de ocorrência pelo fato de os tios da menina estarem divulgando, sem a conclusão da justiça, fatos ofensivos à honra do professor. Futuramente, entraremos com uma ação de danos morais”, conta.