Dois presos suspeitos de estupro foram espancados na manhã desta quinta-feira (6) durante rebelião na 10ª Delegacia Metropolitana de Aracaju, localizada no bairro Jardim Centenário, na Zona Norte da capital. Os detentos se revoltaram com a suspensão das visitas programadas para hoje, mas que foram canceladas por causa da greve dos policiais civis e devido a protesto dos delegados. As duas categorias reclamam do pagamento parcelado do salário, que foi determinado pelo Governo do Estado.
“Os presos quebraram as trancas das celas, vieram para a área de sol e já estavam querendo quebrar o último acesso para a rua para eles fugirem. Eles também quebraram paredes e a gente teve que conter a tempo para evitar a fuga em massa, os homicídios e impedir que eles nos atacassem”, revela o policial civil Alberto Magalhães.
No total, 57 presos se rebelaram e fizeram outros dois detentos reféns. A 10ª DM tem capacidade total para receber 12 presos que deveriam ser divididos em quatro celas com três presos alojados em cada.
“Eles arrancaram as grades das celas deles, depois as grades da cela em que a gente estava e sairam arrastando a gente para fora e machucaram com pedaços de pau e ferro”, afirma o preso José Nataniel Amâncio, de 34 anos.
O Serviço de Atendimento Móvel de urgência (Samu) foi acionado para prestar socorro aos ferido. Equipes do Batalhão de Choque, do Grupo Especial de Repressão e buscas (Gerb) e Departamento de Narcóticos (Denarc) foram deslocadas para dar reforço na segurança ao local crítico. As aulas na escola estadual que fica atrás da 10ª Delegacia Plantonista foram suspensas por causa da confusão e o alto risco de fuga em massa.
Também vítima de espancamento durante a rebelião, o preso identificado apenas como José Roberto, de 35 anos, diz que já sabia que iria morrer. “Se a polícia não chega logo os outros presos iriam matar eu e ele. Desde segunda-feira (3), quando os presos souberam que as visitas de hoje seriam suspensas, eles vinham ameaçando e dizendo que se não tivesse a visita mesmo que matariam nós dois ”, desabafa ainda nervoso por causa das agressões.
Segundo Alberto Magalhães, os policiais sofrem com a insegurança de terem que custodiar presos por um longo tempo e em grande quantidade por causa do déficit carcerário nos presídios sergipanos.
“A delegacia está superlotada, a gente tendo que pagar pelo preço por estarmos em um lugar sem condição nenhuma. O clima está muito tenso, a população está em pânico com os tiros de efeito moral que nós tivemos que dar para conter a rebelião. A gente está correndo risco aqui e ainda tem esses dois presos que quase foram assassinados”, explica Magalhães.
Mais rebelião em delegacia
Na tarde de terça-feira (4), 70 presos que estavam na 2ª Delegacia Metropolitana, no Centro de Aracaju, também se rebelaram. O delegado geral da Polícia Civil, Everton Santos, informou que a situação no local já havia sido motivo de alerta.
“Há mais de 30 dias que informamos que eles estavam vulneráveis a esse tipo de situação. As delegacias de Sergipe possuem 640 presos um número superior ao do Complexo Penitenciário Manuel Carvalho Neto (Copemcan), no município de São Cristóvão”, destacou o delegado em entrevista concedida ao G1 no dia do motim na 2ª DM.
“O clima de tensão é permanente, os presos ficaram quase três horas fazendo baderna aqui dentro. Me ameaçaram de morte e os escrivães saíram com medo deles”, disse o delegado Luciano Cardoso.
Na quarta-feira (5), a equipe de reportagem teve acesso ao local reservado para os presos que contaram qual é a situação da 2ª Delegacia Metropolitana. “Aqui dormem cinco e seis ficam acordados porque não tem como dormir”, revelou o preso Luiz Alex dos Santos.
Para Jorge Henrique dos Santos, diretor de comunicação do Sindicato dos Policiais Civis do Estado de Sergipe (Sinpol), a situação das delegacias da capital é resumida em caos. “Os presos estão submetidos a uma condição desumana, sem condições sanitárias e alimentação adequada. Não estamos defendendo quem cometeu crimes, mas temos que dar condições ao ser humano. Eu comparo essa situação a das masmorras mediáveis”, disse.
Com informações de Marina Fontenele e Tássio Andrade do G1, em Sergipe