Por Silvia Amorim, O Globo*
Era quase hora do almoço quando três crianças entraram no casebre de pau a pique, pulando a vala de esgoto na rua de terra. Vinham da escola, e as primeiras palavras dirigidas à avó na porta da cozinha foram queixas de fome. Era o segundo dia consecutivo em que os netos voltavam para casa reclamando de que não haviam recebido merenda no intervalo da aula. A dois quilômetros do vilarejo no interior de Sergipe, o prefeito de Maruim, Jeferson Santana (PMDB), entrava no seu Toyota Corolla rumo ao Tribunal de Contas do Estado. O órgão ameaça bloquear as contas da prefeitura por atrasos no pagamento de servidores. Apesar de toda essa situação, o salário do prefeito, reeleito, foi fixado em R$ 30 mil para o próximo mandato (2017 a 2020). É mais do que ganha o presidente Michel Temer (R$ 27 mil).
O senhor considera adequado um salário de R$ 30 mil para um prefeito? Hoje, seu subsídio é de R$ 18 mil.
Acho adequado devido à responsabilidade toda do prefeito. Hoje qualquer administrador de qualquer empresa está ganhando mais que isso. É muita responsabilidade gerir um município, e as consequências que poderão vir de qualquer ato que você fizer é para toda a vida.
É justo ter 66% de aumento enquanto serviços básicos ainda faltam à população?
Não fui eu o autor dessa lei, mas a Câmara. A lei estipulou que até 2020 o salário pode ser esse. Não quer dizer que vou receber isso a partir de janeiro. Vai depender do orçamento.
O senhor podia ter vetado o seu reajuste. Por que não fez?
Aqui temos uma lei de muito tempo que diz que o salário do prefeito tem que ser quatro vezes o dos vereadores. Estou cumprindo a lei.
Há prefeitos reduzindo o salário para enfrentar a queda de arrecadação. O senhor cogita reduzir em janeiro seu salário para menos do que está ganhando hoje?
Não. Isso, não.
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