Alberto Narcizo da Cruz Neto, ou simplesmente Beto Caju, um músico e compositor de Sergipe que está além fronteira. Atualmente – quem diria? – está prefeito da cidade de Carmópolis, que é um município conhecido pela seu vigor econômico, em razão da exploração de petróleo em terra.
Ao invés de estar produzindo músicas e jingles famosos, mete-se agora em analisar crise econômica, como a que faz agora em entrevista exclusiva ao site de notícia Faxaju Online. E leva jeito como gestor. Afina o tom quando fala dos problemas graves de Carmópolis e busca saídas para manter o equilíbrio nos gastos e arrecadação. Chegou a dizer que “o momento exige sacrifícios”.
O gestor de 40 anos, Alberto Narcizo assumiu a Prefeitura de Carmópolis após a morte do titular, Volney Leite Alves, em agosto do ano passado, mostra-se confiante no futuro da economia nacional e no desenvolvimento do município que administra.
Como Beto Caju ele é autor de mais de 700 músicas, algumas gravadas por artistas de sucesso, como Banda Calypso, Aviões do Forró, Cavaleiros dos Forró, Calcinha Preta e Araketu. E quando perguntado o que é mais fácil, compor ou administrar um município, responde bem ao seu estilo: “você deve estar brincando (risos)”?
Aproveita e conta que foi criado num ambiente musical e que aprendeu em casa a gostar de música e a compor: “É algo que nasceu praticamente comigo. Está na veia, amigo!” e completa dizendo que o mesmo ocorreu com a política. De fato, foi em casa que começou a gostar de política, ouvindo e vendo discussões se desenrolarem à frente através de meu pai [o jornalista Theotônio Neto], que também foi prefeito [1989/1992 e 1997/2000] – “aliás, um dos mais queridos de Carmópolis, se não o prefeito mais querido (risos)”.
Não fazia parte dos planos de Beto Caju assumir a prefeitura, “mas Deus quis assim e hoje estou prefeito e estou muito dedicado a dar o melhor que eu puder para o povo de Carmópolis. Não é fácil, é muita dor de cabeça, é muita coisa para resolver, é pepino toda hora… mas estou preparado para seguir adiante e fazer a coisa certa. Tenho todos os dias pedido a Deus que me dê força e sabedoria para prosseguir nessa jornada”.
Leia a Entrevista :
Faxaju – Nesta semana, o senhor anunciou algumas medidas emergenciais de ajuste nas contas públicas para regularizar situações funcionais e economizar recursos financeiros. A crise pegou Carmópolis, também?
Beto Caju – Quando eu e o prefeito Volney assumimos em 2017, recebemos a prefeitura com pendências históricas graves. Muitos débitos com fornecedores, prédios públicos abandonados… um caos! Uma coisa de doido… Somente a dívida com o INSS supera ainda hoje R$ 38 milhões, e se a gente não tivesse feito um acordo, que nos tira R$ 500 mil de receita todos os meses, não dava para conquistar a Certidão de Regularidade que permite captar recursos federais. Diante da situação, de imediato fizemos um programa de reajuste e resgate das contas públicas. Não havia outra saída diante da perda de receitas aumentando todos os meses, especialmente as receitas que vêm de royalties do petróleo, ISS e ICMS, e também devido ao agravamento da crise econômica do país, que afeta todo mundo: a indústria, o comércio… Ou a gente fazia, ou a prefeitura parava.
Faxaju – Então, a situação de crise vem num crescendo?
Beto Caju – Foi aumentando, uma bola de neve! Logo que eu assumi, dei sequência ao programa de restruturação iniciado pelo prefeito Volney, cortando despesas mas tentando manter a eficiência dos serviços. Ao mesmo tempo, fiz investimentos em cestas básicas e merenda escolar; construção de creche, praças e sistemas de abastecimento d’água. Também comecei a reforma de prédios públicos, recuperação de estradas, calçamento de ruas, estamos melhorando a iluminação pública e outras ações de manutenção da cidade, mas tudo depende de dinheiro, que anda sumido, por isso tivemos de tomar essas medidas agora.
Faxaju – Cortar despesas e ajustar orçamento sempre causa desconforto e gera muita reclamação…
Beto Caju – Meu amigo, quem fica satisfeito quando precisa fazer sacrifícios? Imagine um filho seu precisando de alguma coisa e você não poder atender, é isso! Quem me conhece sabe que não tem sido fácil para mim fazer esses cortes, mas eles são necessários para que possamos manter funcionando os serviços básicos essenciais ao atendimento da população. A gente já tinha cortado antes, mas agora são necessários novos cortes para a gente atingir os limites legais do teto prudencial de 54% para despesa com pessoal, como exige a Lei de Responsabilidade Fiscal. É uma decisão que não depende do prefeito. É a lei que exige, e a Prefeitura de Carmópolis seguirá persistindo na redução dos gastos, incluindo a folha salarial, a começar pela redução do meu salário, dos secretários municipais e de gratificações de servidores efetivos e comissionados. Neste momento, a gente também não vai renovar os contratos temporários [terceirizados] que estão vencendo e vamos manter somente aqueles que sejam estritamente necessários.
Faxaju – Os vereadores do município apoiam essas medidas? E os servidores, o que estão achando desses cortes? Eles afetam os serviços à comunidade?
Beto Caju – Graças a Deus a gente tem gente muito responsável nas lideranças e que entende as dificuldades. O presidente da Câmara, vereador José Augusto [dos Santos], esteve comigo em reunião com os secretários e compreendeu a importâncias dessas medidas e está ajudando Carmópolis a sair dessa crise, que afeta outros municípios também. É preciso entender que é um momento que exige a participação de todos. Os servidores também sabem que essas medidas são temporárias, até que a gente possa regularizar a situação. Infelizmente, eu sei que elas geram desgaste e muito incômodo, mas a maioria dos municípios sergipanos sofre com a crise econômica e alguns até já decretaram estado de calamidade financeira. Graças ao trabalho sério da atual gestão, Carmópolis não chegará nesse estágio, e logo que a situação estiver sob controle tudo voltará à normalidade e o nosso município voltará a crescer. Todo esse esforço está sendo feito justamente para evitar que a população de Carmópolis sofra com a descontinuidade dos serviços básicos. Em resumo, os serviços essenciais não serão afetados.
Faxaju – Então, há uma luz no fim do túnel?
Beto Caju – Existe, sim, graças a Deus! Claro que não é fácil, mas quem me conhece sabe que estou firme e que continuarei em busca de recursos federais e parcerias que possam trazer empreendimentos e gerar emprego e renda para o nosso município. A prefeitura está lutando para atrair mais empresas para Carmópolis e muito em breve teremos boas notícias neste sentido. Por outro lado, a economia nacional começa a dar sinais de recuperação, que mesmo sendo pequena já alimenta a nossa esperança de dias melhores. A Petrobras, por exemplo, voltou a investir no campo de Carmópolis, o que vai gerar em médio prazo mais impostos e royalties para o município, além de mais empregos e oportunidade de negócios para todos. Eu sei que juntos venceremos essa crise e aproveito essa oportunidade para agradecer a todos pela compreensão e pelo apoio às medidas de contenção de gastos. Elas são urgentes, momentâneas e necessárias, e somente estão sendo tomadas pelo bem de Carmópolis e do seu povo. Agora, é trabalhar e trabalhar… Deus nos ajude!
Faxaju – Pra finalizar, o senhor é candidato ou pretende concluir o mandato e voltar à música?
Beto Caju – A gente sabe que as dificuldades existem e que a situação exige de mim e dos colegas de trabalho muita dedicação, mas eu tenho uma missão que me foi confiada pelo povo e para a qual tenho dedicado o melhor de mim. E não sou de fugir da luta, até tendo que me afastar da música que todos sabem que bate forte no meu coração, até mais do que a política. Isso não quer dizer que eu não goste de fazer política, que não esteja satisfeito de ser prefeito e ajudar o meu povo, mas no momento não penso em reeleição. Penso em trabalhar, penso em resolver os problemas que são grandes e muitos e fazer a coisa certa. Penso em fazer dessa crise uma oportunidade para melhorar a vida da nossa população, especialmente a mais pobre. A gente não tem de pensar em eleição, tem de pensar em trabalhar, em sair da crise… e é nisso que eu penso! Não penso em eleição.
Por FaxAju
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