Crime aconteceu na noite de Natal de 2009 no Bairro Rosa Elze, em São Cristóvão
“Uma dor que não alivia. Nós queremos justiça. Não é justo um assassino continuar solto, estudando faculdade de Direito e recebendo salário de policial, enquanto meu irmão está debaixo de sete palmos”. O desabafo foi feito na manhã desta terça-feira, 22 na porta do Fórum Desembargador Gilson Gois Soares, pela irmã [Gleide Selma Silva] do motoboy Marcos Júnior Nogueira Santana, 27, morto na porta da casa da namorada Maria Luisa na noite de Natal de 2009.
Familiares e amigos da vítima acompanham o júri popular presidido pelo juiz Antonio Cerqueira. O policial militar Raimundo Nonato Gonçalves, acusado pelo crime, foi condenado a 18 anos de prisão, após os argumentos do promotor Alexandro Sampaio.
“Defendo que houve uma morte acidental, a arma caiu e disparou, claro que o Ministério Público tem outra opinião e vai sustentar que o acusado efetivamente apontou a arma e acusou por que quis. É uma discussão muito simples e quem vai definir é o laudo e o depoimento da moça que estava com o rapaz que morreu e veio de São Paulo. Ela é a peça-chave, é fatal. Ela tem a chave da cadeia, ou abre ou fecha e eu não faço milagres. Me impressionou o laudo em que a polícia diz que o tiro foi pela costas, entrou no hipocôndrio esquerdo e saiu da infraescapular, logo foi um tiro de baixo pra cima”, destacou o advogado de defesa, Evaldo Campos lembrando que há um ano conseguiu um habeas corpus e o cliente responde em liberdade.
Testemunha chave
Num depoimento que chegou a emocionar as pessoas que acompanhavam o júri, Maria Luisa Siqueira Cavalcante da Silva, relatou como tudo aconteceu na noite do Natal de 2009 [por volta das 23h40] na porta da casa localizada no conjunto Rosa Elze, em São Cristóvão.
“Eu tinha ido passar o Natal com a família de Júnior e ele veio me trazer em casa. Quando cheguei percebi que meu enteado estava lá por causa da moto na garagem. Minha mãe, que já era separada dele, estava na rede e eu resolvi não entrar. Perguntei o que ele estava fazendo lá e ela respondeu que veio ver os filhos [quatro]. Ficamos conversando na calçada, e falando dos nossos planos, quando Nonato saiu com a arma na cintura e foi dizendo que eu dava mais atenção às pessoas da rua do que a ele. Pedi para Júnior ir embora. Nonato colocou a moto em posição de fuga e atirou. Júnior estava de lado. Foi um tiro só. Eu gritei muito pedindo socorro, mas não deu tempo. Morreu junto com nosso filho, pois estava grávida e na missa de sétimo dia, eu comecei a perder sangue, minha cunhada me levou para a maternidade e perdi o bebê”, fala chorando.
Defesa
“Sou íntegro, reto e preferia que esse disparo tivesse sido em mim. Peço perdão à família de Marcos Júnior, mas tudo que está no processo não condiz com a verdade. Eu nunca tive nada contra ele e não tinha ciúmes de Luisa, eu a criei desde pouco mais de um ano de idade e não entendo porque essa mágoa dela. Eu estava saindo da casa da mãe dela, pois fui jantar lá e a pistola 40 que eu tinha colocado embaixo da coxa caiu. Eu pensei que tinha acertado Luisa porque ela gritava muito e sai nervoso, com quatro dias me apresentei no Quartel da PM”, relata.
A jovem teve começo de depressão e foi embora para São Paulo, onde casou e retornou a Sergipe para prestar depoimento. “Ele alegava que eu era muito jovem e que precisava estudar. Não esqueço o que Nonato falou quando saiu de casa naquela noite em direção a Júnior: ‘Ei cidadão, vá embora da minha casa’, depois atirou. Lembro que disse: Calma meu amor, foi só de raspão, mas ele não resistiu. Tentei pedir socorro. Hoje acredito que ali foi a hora dele”, finaliza acrescentando que o namorado era muito querido pela mãe dela, Nélia Rute e por toda a família.
Dos 18 anos, sete anos e dois meses deverão ser cumpridos em regime fechado, como o policial já cumpriu uma parte [sete meses preso no Presídio Militar] a defesa irá recorrer, para que passe para o regime semi-aberto. O juiz determinou também que o reú seja exonerado do serviço público, fato que implicará na perda da farda militar.
Matéria postada originalmente no Portal Infonet