Investigadores da Polícia Federal no Amazonas instauraram procedimento para apurar as denúncias de agressões sofridas por brasileiros deportados dos Estados Unidos. A investigação será encaminhada para o departamento americano responsável pelo controle de imigração e para órgãos internacionais de cooperação.
Este foi o primeiro voo de brasileiros deportados depois da posse de Donald Trump como presidente americano. A viagem partiu do estado americano da Louisiana, parou no Panamá e depois seguiu para Manaus, onde reabasteceria para partir ao Aeroporto Internacional de Belo Horizonte, em Confins, na Grande BH.
Mas, na capital do Amazonas, houve um desentendimento entre passageiros e a tripulação por problemas no ar condicionado da aeronave, fretada pelo governo americano. “Todo mundo com falta de ar, criança passando mal, idoso passando mal, mulheres passando mal, e a gente decidiu abrir as portas de emergência, porque estava tudo fechado”, relatou um dos deportados, Kaleb Barbosa Maia.
88 brasileiros estavam no voo, e muitos deles relataram agressões por parte dos agentes americanos ao longo de todo o processo de deportação. Disseram que precisaram usar algemas e correntes durante o voo e que não receberam alimento.
Outro passageiro, que não quis ser identificado, relatou que havia algemas e correntes nos pés, nas mãos, cintura, e que “não tinha como fazer nada” para reagir.
Os deportados saíram do avião por uma das asas e depois desembarcaram por uma rampa inflável. Em vídeo ao qual o Fantástico teve acesso, é possível ver as pessoas algemadas e acorrentadas em diferentes partes do corpo.
A Polícia Federal determinou que as algemas e correntes fossem retiradas, mas os oficiais americanos queriam esperar outro avião chegar dos EUA para algemar os brasileiros novamente para a última parte da viagem.
O governo brasileiro, contudo, determinou que um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) transportasse os brasileiros sem algemas e em condições mais seguras.
Os imigrantes brasileiros passaram a noite em uma área de embarque restrita do aeroporto de Manaus. Segundo a PF, quatro imigrantes foram liberados ainda na cidade, pois são de estados da região Norte.
Os voos de deportação fazem parte de acordo bilateral sobre deportação assinado entre os dois países, em 2018. Segundo o Itamaraty, o objetivo é abreviar o tempo de permanência de brasileiros presos por imigração irregular em centros de detenção americanos.
O governo brasileiro vai pedir explicações da Casa Branca sobre as denúncias dos deportados. A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, acompanhou a chegada do voo.
Em nota divulgada neste domingo (26), o Ministério das Relações Exteriores declarou que ”o governo brasileiro considera inaceitável que as condições acordadas com o governo norte-americano não sejam respeitadas. O ministério reuniu informações detalhadas sobre o tratamento degradante dispensado aos brasileiros e brasileiras algemados, nos pés e mãos, em voo de repatriação do serviço de imigração e controle de aduanas dos estados unidos. O uso indiscriminado de algemas e correntes viola os termos de acordo com os estados unidos, que prevê o tratamento digno, respeitoso e humano dos repatriados.”
Disse ainda que as autoridades brasileiras ”não autorizaram o seguimento do voo fretado para Belo Horizonte na noite de sexta-feira (24), em função do uso das algemas e correntes, do mau estado da aeronave, com sistema de ar condicionado em pane, entre outros problemas, e da revolta dos 88 nacionais a bordo pelo tratamento indigno recebido.”
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Fonte: G1/Fantástico