Helton Simões Gomes, do G1, em São Paulo
O cantor Lobão voltou atrás e afirmou ao G1 nesta segunda-feira (27) que não deixará o Brasil, conforme havia sugerido caso Dilma Rousseff (PT) se reelegesse presidente. Com 51,64% dos votos válidos, a presidente foi eleita para cumprir seu segundo mandato e o quarto seguido do PT.
“É óbvio que eu não vou sair [do Brasil]”, afirmou o cantor. Ainda neste domingo (26), páginas no Facebook relacionadas ao cantor brincavam com a polêmica criada pelo artista. “Se é para o bem dos bons e desespero total do PT, diga ao povo que fico!”, dizia uma delas.
A celeuma começou em uma conversa na internet transmitida em vídeo, da qual o cantor participava. Em um dado momento, Lobão afirmou que deixaria o país se Dilma se reelegesse. A partir daí, à medida que Dilma oscilava à frente dos adversários em pesquisas de intenção de voto, “memes” eram criados para brincar com uma possível futura saída de Lobão do país.
Marcado para domingo (5), dia do primeiro turno das eleições presidenciais, o evento criado no Facebook “Festa de Despedida do Lobão” chegou a receber 11 mil confirmações de presença. Ao G1 o cantor afirmou que foi mal interpretado, pois sua declaração foi tirada de contexto. “Eu estava comentando que eu estou sendo boicotado nos meus shows, ameaçado de morte, sendo perseguido nas redes sociais, fui pra lista negra do PT”, afirmou.
“Tinha saído de um almoço naquele dia e muitas pessoas tinha comentado também que estavam todos saindo do Brasil. O êxodo do Brasil é um fato. E eu falei que isso está ficando uma coisa muito preocupante. Porque nós não conseguimos ter uma segurança mínima para morar no Brasil e se isso continuar provavelmente a gente vai ter que fazer uma vila de exilados”, completou.
“Daí a transformar isso em uma promessa para eu sair é um banimento. Isso é um ato de fascismo absoluto”, falou Lobão, em resposta às manifestações de que ele deveria deixar o Braisl. “Criaram páginas de despedida. Ontem eu vi um dizendo ‘O Brasil é meu, sai daqui’. As pessoas estão tendo uma noção muito equivocada do que se trata a democracia”.
Vítima
Depois de ter virado vidraça em meio à agressiva reta final da corrida eleitoral, disputada entre os candidatos de PT e PSDB, o cantor diz não se considerar uma vítima. “Eu me expus sabendo exatamente do risco que eu estou correndo. Faço questão de me expor, porque eu estou agindo diante de todo um rigor de direitos que eu possuo. Eu faço questão de não abrir mão desses direitos”.
Ele classifica a reeleição de Dilma Rousseff como “uma grande tragédia”, que anuncia “repercussões das mais sombrias”, repletas de “ódio, muito ódio”. “As pessoas estão divididas. Começam a querer separatismo. Coisas nunca dantes pensadas no Brasil estão acontecendo agora. Isso é muito perigoso e nós temos que entender que somos irmãos. E temos que puxar isso de qualquer maneira, não podemos rebater esse ódio. Temos que amortecer esse ódio com ações tranquilas”.
Ainda que se declare oposição ao governo Dilma, Lobão concorda com as declarações da presidente reeleita de que está disposta ao diálogo. “Se isso não for uma figura retórica, o que geralmente acontece, eu acho ótimo”, afirmou, ponderando não acreditar muito “porque não é do feitio do partido tampouco da história da Dilma”