O Rio Grande é azul. Mas azul anil. Anilado. O Novo Hamburgo é dono da melhor campanha. O Novo Hamburgo liderou o Gauchão de ponta a ponta. O Novo Hamburgo quebrou até a hegemonia colorada de seis anos para faturar o título do Gauchão pela primeira vez em sua história. E até mesmo o desfecho faz jus à epopeia: triunfo nos pênaltis por 3 a 1, após um empate em 1 a 1 no tempo regulamentar.
O Novo Hamburgo é campeão pela primeira vez em mais de 100 anos. E o enredo é digno de fábula. Um prato cheio aos românticos do futebol. Aliás. É digno de ficar eternizado, gravado bem nítido na história do Campeonato Gaúcho. Daqui a 30, 40 anos, o guri que frequentar o Estádio do Vale, ou qualquer que seja o palco anilado, ouvirá de seu pai sobre os guerreiros Matheus, Jardel, Preto e companhia. Ouvirá sobre o Novo Hamburgo que “quebrou o sistema” e “mudou as capas dos jornais”, como disse o centroavante João Paulo. Para ficar na história.
A equipe de Beto Campos se consolida como a mais importante da história do Novo Hamburgo. Sem espaço para dúvidas, com todos os méritos e mais um pouco, diga-se de passagem. O Anilado conquista o Gauchão pela primeira em mais de 100 anos desde sua fundação. Mas o feito deste domingo transcende os limites da instituição centenária. O Noia é o primeiro clube do interior a se consagrar campeão gaúcho desde 2000, quando o Caxias de Tite bateu o Grêmio na decisão. É o 17º vencedor diferente em 97 edições.
Num universo de cifras exorbitantes, os anilados, com folha salarial na casa dos R$ 150 mil, os anilados duelaram pela glória em seu estado mais puro. Lembre de Davi conta Golias… Chame até de Leicester City dos Pampas, se quiser. É provável que 10 entre cada 10 torcedores do Noia aceitassem sem pestanejar, lá em janeiro, uma passe que garantisse o clube na elite estadual. O cenário aponta o Noia como um campeão inesperado. Os números o respaldam como um campeão com todos os méritos. E mais um pouco. O Novo Hamburgo liderou o Campeonato Gaúcho de ponta a ponta ergue a taça após uma campanha de nove vitórias, seis empates e apenas duas derrotas, com 64,7% de aproveitamento.
Teve luta, bordoadas ferrenhas dos dois lados e discussão. A primeira etapa da decisão em Caxias teve todos esses elementos, tão tradicionais do Campeonato Gaúcho. E teve ainda superioridade do Novo hamburgo – algo recorrente em de 2017. O Noia soube se postar em campo, ora mais retraído, ora com marcação adiantada, para dominar o Inter nos 45 minutos iniciais de nervos à flor da pele no Centenário.
O Anilado começou o jogo em cima e quase abriu o placar aos 2, com João Paulo. Após cruzamento, o centroavante perdeu chance claríssima na pequena área. A resposta colorada veio com Brenner, em forma de reclamação – o atacante reclama de falta, após se enroscar com Léo dentro da área, aos 6. E com D’Ale, numa cobrança de falta perigosa, aos 9… E parou por aí. Mais organizado, o Noia insistiu bastante em uma de suas armas mais letais, os cruzamentos, e abriu o placar aos 21, no infortúnio de Ernando, que completou contra a meta, sem chances para Danilo Fernandes.
Antônio Carlos assumiu o erro na escalação e mandou Carlos a campo no lugar de Ernando. Deu tão certo que aos três minutos da etapa final, D’Alessandro colocou a bola na área do Novo Hamburgo, a bola ficou viva, e Rodrigo Dourado apareceu para dominar e mandar para o gol. O empate incendiou a partida. O Inter passou a atacar pela esquerda, com investidas de Uendel, devidamente recuado para a lateral.
O Inter empilhou chances com D’Alessandro, Carlos, Nico e Brenner. Mas parou na própria falta de pontaria e na bravura dos anilados, que se defenderam como puderam para segurar o 1 a 1 e levar a decisão aos pênaltis. Isso, após ensaiar certa pressão sobre o Inter, em meio a minutos finais de cansaço dos dois lados.
Disputa de pênalti costuma ser sinônimo de sofrimento… Mas no caso do Novo Hamburgo, tudo vira festa, graças à falta de pontaria dos colorados. D’Alessandro e Cuesta mandaram no travessão. Nico parou em Matheus, ao passo que William descontou, com um gol de honra que pouco valeu. Pelo Anilado, João Paulo, Júlio Santos e Pablo, com o tento do título, garantiram a taça – Léo ainda desperdiçou. Mas pouco importa.
Você, internauta pelo Brasil afora! Não se surpreenda ao ver o Rio Grande do Sul pintado de azul anil. O Novo Hamburgo é campeão com todos os méritos por sua campanha. Mas também pelos enfrentamentos com a dupla Gre-Nal. Em seis partidas, o Anilado saiu invicto dos embates contra as duas grandes forças estaduais, com uma vitória e cinco empates. Aliás: antes de erguer a taça sobre o Inter nos pênaltis, o Noia eliminou o Grêmio na semifinal.
Danilo Fernandes ia a campo longe das condições ideais, às pressas, em meio à recuperação de uma fratura no pé esquerdo. O rival, dono da melhor campanha do Gauchão, tinha nos contra-ataques e nos cruzamentos suas armas letais. O cenário levou Antônio Carlos Zago a optar por Ernando, titular após 50 dias, para guarnecer sua lateral esquerda… Mas o tiro saiu pela culatra. E como. O defensor não só falhou ao impedir as investidas do Anilado, como anotou contra o gol do rival, aos 21, após cruzamento da esquerda. Foi substituído no intervalo.
No momento de maior necessidade, o Inter recorre a Danilo Fernandes.A estratégia é até manjada, mas se repetiu neste domingo. Em meio a uma sina de lesões com seus três goleiros, o Colorado mandou a campo seu titular, com apenas 30 dos 60 dias de recuperação de uma fratura no pé esquerdo completos. O arqueiro foi para o “sacrifício”. E aí, nem mesmo quem é acostumado a milagres pode fazer muito. Debiltiado, o camisa 1 não conseguiu deixar o campo sem ser vazado e ainda sofreu ao ser obrigado a fazer algumas reposições. Tampouco pode ser culpado pelo azar de Ernando, no gol contra. De fato, teve atuação segura nas demais ações do jogo.
O Inter passou longe de viver uma grande atuação neste domingo. Bem longe. Mas não faltou luta para buscar o empate, como o próprio gol do 1 a 1 pode atestar. Após cruzamento para a área, Brenner e Léo caíram no gramado. Os colorados tentavam completar para as redes, e os anilados tentavam afastar a qualquer custo, num bate e rebate ferrenho… Até Rodrigo Dourado, de pé esquerdo, chutar mascado, num golpe enviesado, mas suficiente para vencer Matheus.
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Por Globo Esporte/Rs