Por Aldaci de Souza*
Sete dos 11 réus acusados de envolvimento na Operação Navalha [deflagrada pela Polícia Federal] compareceram nesta terça-feira, 26, à audiência de instrução presidida pela juíza da 1ª Vara da Justiça Federal em Sergipe, Telma Maria Santos Machado e pelo procurador do Ministério Público Federal (MPF/SE), Leonardo Martinelli. Mas como estava previsto, foram ouvidos apenas as testemunhas de acusação: os policiais rodoviários federais Adalberto Vasconcelos Andrade e Augusto César Lima dos Santos. Os dois confirmaram a abordagem de um veículo locado pela Construtora Gautama, trazendo R$ 200 mil de Salvador (Ba) para Aracaju.
Os advogados dos acusados Zuleido Soares Veras, Ricardo Magalhães, João Alves Neto e Sérgio Duarte Leite, justificaram as ausências, acatadas pelo representante do Ministério Público Federal. Os dois primeiros alegaram não residir em Sergipe, João Alves Neto, preferir participar das audiências em que precisar ser ouvido e Sérgio Duarte alegou problemas de saúde.
Os réus Renato da Silva, Ivan Paixão, Victor Mandarino, Flávio Conceição, Kleber Curvelo Fontes, Gilmar Mendes e Max Andrade compareceram acompanhados dos advogados de defesa.
A primeira testemunha a ser ouvida na audiência foi o policial rodoviário federal Adalberto Vasconcelos de Andrade.
“Eu estava de plantão, mas não no local da abordagem, tudo o que vou falar aqui foi o que meus colegas Augusto e Jessé [que atualmente trabalha na Bahia], me passaram. Eles estavam no posto de São Cristóvão e eu na sede da Av. Maranhão, como à época não podíamos fazer ligações dos postos, eles me ligaram pedindo que eu telefonasse para a Gautama e falasse com um homem que não lembro o nome, pois tinham abordado um veículo numa fiscalização de rotina e identificado que era locado pela empresa Gautama, verificaram que estava tudo em ordem, tanto com o veículo quanto com o condutor. Mas quando olharam o bagageiro encontraram um caixa com dinheiro, chamou um a um separadamente e os dois confirmaram ser para pagamento de trabalhadores na Adutora do São Francisco”, relata destacando que ao ligar para a empresa, houve a confirmação do destino do dinheiro.
“Eu estava trabalhando com meu colega Jessé na noite de 30 de agosto de 2006, quando fizemos uma abordagem no Km 104 da Br 101, a um veículo da Localiza que vinha de Salvador. Ao pedirmos a identificação, disseram ser funcionários da Gautama; a documentação do veículo e do condutor estava em dia, mas no porta-malas encontramos uma caixa de papel chamex, com uma grande quantidade de dinheiro, que eles disseram ser R$ 200 mil. Separamos os dois e ouvimos um a um. Os dois disseram a mesma coisa, que era para pagar aos trabalhadores na construção da 2ª etapa da Adutora do São Francisco. Como não podíamos ligar do posto, pedimos ao colega Adalberto para fazer isso e ele confirmou as informações na empresa, com o número do telefone fornecido pelos dois e em seguida liberamos”, conta.
Indagado pelo promotor se perguntaram por que a empresa não transferia o dinheiro para uma agência bancária em Sergipe, por questões de segurança, Augusto César disse que perguntaram e os funcionários disseram que “por estarem pouco tempo em Sergipe, tínham mais facilidade na movimentação de dinheiro na Bahia, por isso, estavam trazendo diretamente em espécie”.
Novas audiências
A juíza marcou novas audiências para os dias 16 de junho de 2016, 26 de julho e 28 de julho, 02 de agosto e 04 de agosto, 09 e 10 de agosto para a ouvida das testemunhas de defesa que moram no Estado. As testemunhas que não residem em Sergipe [dos réus Zuleido Vegas, Ricardo Magalhães e João Alves Neto] serão intimadas por cartas-precatórias.
“A Procuradoria espera que todas as imputações feitas na denúncia [de que o transporte do dinheiro foi realizado com a finalidade de pagar a outros réus, de um valor que o MPF entende ser propina], sejam confirmadas e os réus respondam”, completa o procurador Leonardo Martinelli.”A audiência aconteceu dentro da normalidade, sem nenhum incidente. Está tudo correndo para o bom andamento do processo. Hoje foram ouvidas as testemunhas de acusação e serão intimadas por cartas precatórias, as testemunhas que não residem no Estado de Sergipe”, destaca a magistrada.
O advogado de alguns dos réus, José Carlos Felizola conversou com a imprensa. “É o começo de todo o processo e pelo que vi na audiência de hoje, começamos com o pé direito, pois as duas testemunhas confirmaram que o dinheiro seria para pagar os trabalhadores no canteiro de obras da Adutora do São Francisco”, diz acrescentando que há dez anos, costumava se pagar os trabalhadores em espécie.
O prefeito João Alves Filho (DEM), também é réu no processo, mas por ter foro privilegiado, devendo ser ouvido no Tribunal Regional Federal da 5ª Região no Recife. Há acusações pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e peculato.
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Por Aldaci de Souza, do Portal Infonet