A presença feminina vem crescendo cada vez mais na sociedade brasileira. No ensino superior, elas já são maioria há pelo menos duas décadas. Um levantamento feito pelo R7 com dados do MEC (Ministério da Educação) apontou que em 1991 as mulheres representavam 59,9% das pessoas que se formavam no País. Em 2012, esta participação subiu para 61,2%.
Em números absolutos, 643 mil estudantes do sexo feminino se formaram em 2012 diante de 407 mil do sexo masculino.
Para Fulvia Rosemberg, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e professora da PUC – SP (Pontifícia Universidade Católica), estes dados não surpreendem, mas mostram uma mudança de paradigma porque já está gerando questionamentos.
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— Isto não é novidade, nem uma especificidade brasileira. Mesmo assim, vemos que agora as pessoas começam a questionar como as mulheres permanecem em posição hierarquicamente inferior aos homens em grande parte das esferas da vida social e pública, mas não na educação.
A professora, que pesquisa este tema fazendo um comparativo com a maioria dos países do ocidente, diz que este perfil — que mostra as mulheres com escolaridade maior que os homens — se tornou uma realidade após a retirada da última barreira que dificultava o acesso das mulheres ao ensino superior no Brasil. Isto ocorreu por volta da década de1970.
— Estudantes que fizeram curso de formação profissional no ensino médio eram impedidas de se inscrever em um curso superior. A legislação educacional não permitia isso.
A maioria das mulheres que estavam no ensino médio na época também cursava a formação profissional chamada normal (que as preparava para o magistério e para dar aulas), elas eram impedidas de frequentar um curso superior.
— Assim que essa lei foi alterada, você não teve mais barreiras que impediam o ingresso das mulheres no ensino superior, conta a especialista.
A professora ainda lembra que esta proporção é relativa à dedicação das mulheres aos estudos. O nível de repetência dos homens também é maior nos outros níveis da educação.
— Isto explica o fenômeno da educação de base ter mais homens do que mulheres, ao contrário do que ocorre no nível superior. As mulheres passam “mais rápido” pela escola. A mulher é melhor aluna que o homem, destaca a professora.
Carreiras masculinas x femininas
No mercado de trabalho, diversas profissões ainda são separadas como atividades “femininas” e “masculinas”. A professora Fulvia, porém, reforça que está ocorrendo uma mudança gradual em diversas carreiras.
Para o engenheiro civil Osmar Barros Júnior, vice-presidente do Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia), uma das profissões onde a inversão do perfil foi mais relevante é a engenharia.
—Um aspecto importante é que o preconceito diminuiu muito. Hoje você encontra mulheres trabalhando em canteiros de obras, alunas dos primeiros e segundo anos estagiando nestes locais, contou.
Dados dos últimos 21 anos com estatísticas de formando do MEC revela que o número de mulheres concluintes do curso de engenharia cresceu 9%.
Por outro lado, se as mulheres ganharam espaço em lugares que eram essencialmente dominados pelos homens, vemos que o contrário ainda não ocorreu. Diversas profissões continuam com grande presença feminina, entre elas as área de pedagogia, serviço social, enfermagem e biblioteconomia, onde o número de mulheres formandas gira em torno de 90% dos alunos.
Para a assistente social Maria Elisa dos Santos Fraga, conselheira do Cfess (Conselho Federal de Serviço Social), isto ainda é um reflexo do machismo da sociedade brasileira.
— Socialmente, as profissões voltadas para o cuidado de outras pessoas ainda são escolhas mais femininas. Isso acontece porque a mulher em uma sociedade machista e patriarcal como a nossa ainda tem um papel relacionado com o de quem “cuida”, finalizou Maria Elisa.
Com informações do Portal R7