Por Anderson Christian, Blog do Anderson
Confesso que pensei em nem escrever neste blog no dia de hoje, e não por luto ou algo similar. É que a morte do ex senador José Eduardo Dutra carrega em si muito mais significados, para além da rasgação de seda exacerbada ou da expiação pública que cheguei a ler na internet desde que a notícia da morte do também ex presidente do PT se tornou pública.
Portanto, os demais assuntos podem aguardar. A passagem do também ex presidente da Petrobrás é, ou ao menos deveria ser, o único assunto político desta segunda, 5.
Em primeiro lugar, respeito a família é algo obrigatório e ponto. Quem já perdeu entes queridos, sabe bem sobre o que estou falando. E ainda que jamais tenha tido nenhum tipo de contato, nem pessoal e nem profissional, com Zé Eduardo, já perdi pessoas amadas e sei exatamente como a dor deste momento é difícil de ser suportada pelos familiares e amigos.
Dito isto, vamos a análise mais pertinente, na minha opinião. Com a morte de Zé Eduardo, um ciclo claro e objetivo da política sergipana chega ao seu final de forma melancólica. Ele e o também falecido Marcelo Déda, galgaram os mais altos postos da República, sendo o primeiro no Senado via Sergipe e o segundo governando o Estado. E ambos morreram muito jovens, de câncer.
Caso vivo, Déda estaria com 55 anos. Zé faleceu aos 58. Portanto, uma geração que chegou ao poder se foi. E não há muitos horizontes, em termos de lideranças postas no cenário, para esta mesma geração.
Podemos aqui lembrar do senador Eduardo Amorim, que tem atualmente 52 anos, e do vice governador Belivaldo Chagas, com 55 anos. Mas, de fato, Eduardo já ocupa um destes postos a que atribuo o mais alto relevo republicano, pois é senador, e Belivado é, atualmente, governador em exercício, tendo ocupado este posto em outras oportunidades, inclusive durante a gestão de Déda.
Daí quando olhamos os demais destaques da política sergipana, em atuação, fica claro que eles pertencem a uma outra geração, mais antiga: prefeito da capital, João Alves, governador do Estado, Jackson Barreto, senadores Valadares e Maria do Carmo, todos gravitando em torno dos 70 anos de idade. E o que isto quer dizer? Muito, acreditem.
Estas duas gerações nasceram antes do último regime de exceção pelo qual o Brasil passou, a ditadura militar. Mas os mais velhos já eram adultos e ativos, política ou economicamente, quando o golpe aconteceu, em 1964. Os demais, mais jovens, eram bebês, no máximo crianças naquela época. Portanto, por terem crescido em meio a um regime ditatorial, Déda, Zé Eduardo e mesmo Amorim e Belivaldo, aprenderam na ‘marra’ a fazer política, sob a sombra das proibições e limitações aos direitos individuais.
A chegada dessa turma ao poder era questão de tempo, ou ainda o é, já que eles até chegaram, mas, como os mais altos cargos em Sergipe revelam, eles não substituíram os que aí estavam, pois que ainda aí estão.
E não é que seja uma obrigação essa substituição. Mesmo porque é a população que decide quem fica e quem de fato se aposenta em termos eleitorais.
Mas com a morte de Zé, agora, e de Déda, em 2013, fica cada vez mais claro que esta geração, especificamente, corre o risco de não ter nomes para a substituição, quando a hora dela chegar em definitivo, seja pelo voto ou pela força da natureza, sempre inexorável.
Como já disse antes, de certo modo os outros políticos que, a um só tempo, integram a geração de Déda e Zé pela idade, e ocupam postos chaves da nossa República, especificamente Amorim e Belivaldo, já marcaram posições efetivas.
Mas eles são apenas dois, sendo que os espaços a serem futuramente ocupados são mais do que dois, isso levando em conta as três vagas no Senado e os cargos de governador e de prefeito da capital.
Por isso que a morte de Zé Eduardo, pra mim, fecha um ciclo melancolicamente. Não que ele e Déda não tenham deixado suas marcas na história sergipana. Independente de lados políticos, de forma clara eles dois ocuparam espaços e fizeram seus caminhos, quer se concorde com eles ou não.
Mas o passamento prematuro de ambos deixa uma lacuna, uma sensação de que algo faltou, de que não se completou de forma natural um processo. Uma geração que tanto lutou pela redemocratização, pelo direito de votar e de ser votado, viu se tornar realidade este objetivo, tanto que votou, foi votada e chegou ao poder. Mas ambos foram breves.
Se a obra deixada por eles foi determinante para a transformação da sociedade, só o tempo poderá dizer. Mas nenhum dos dois, nem Déda nem Zé Dutra, estará aqui para ser parabenizado ou condenado pela população. E é exatamente isso o que considero algo a se lastimar e a entristecer a todos, aliados e adversários, militantes ou transeuntes.
Não se luta contra o destino, a natureza ou os desígnios divinos, segundo a crença de cada um. Mas é sempre melhor ver as coisas correrem de forma mais natural possível, ao seu tempo e razão. E a morte, por ser ruptura, quando ocorre prematura, impede que o fluxo siga livre, fluido.
Acontece todos os dias com milhares de pessoas que partem ainda jovens. Mas aconteceu com duas figuras chave da política sergipana nas duas últimas décadas, pelo menos. Por tudo isso é que a morte de Zé Eduardo Dutra, pra mim, encerra um ciclo. E é, de fato, o único assunto relevante na política sergipana neste momento.