A banda de tecnobrega Abrakadabra, da cidade de Vitória da Conquista (a 515km de Salvador), será investigada pelo Ministério Público da Bahia sobre a suposta apologia a estupro no videoclipe da música “Tigrão Gostoso”.
O vídeo inicia com uma jovem correndo de um homem encapuzado, com óculos escuros, em um terreno sem iluminação. As imagens sugestionam que a moça corre de um possível estuprador.
Em seguida a jovem acorda do pesadelo e deitada na cama escuta a frase: “o tigrão vai te pegar”. Ela sorri e seis homens, integrantes do grupo Abracadabra, aparecem dentro do elevador dançando.
Em seguida a jovem, que está sozinha em casa, escuta alguém batendo à porta e indaga “quem é?”. O grupo força a abertura da porta, e as cenas novamente sugestionam estupro quando a jovem corre pelo apartamento fugindo dos seis homens.
“Não adianta se esconder, o tigrão vai te pegar”, diz o vocalista do grupo.
Encurralada, a jovem diz: “mas eu tô [sic] com medo, você vai me machucar.”
“Sou seu tigrão gostoso e você precisa relaxar. É na hora do espanto que o bicho vai pegar. Toma, toma. Então toma em cima, embaixo, quebra, quebra”, prossegue a letra da música, com os seis integrantes dançando coreografia que sugere o ato sexual.
Ao tomar conhecimento do clipe e da letra da música, a deputada estadual Luiza Maia (PT), vice-presidente da Comissão de Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa da Bahia, protocolou no MP uma representação contra a banda Abrakadabra.
A deputada, que é autora da Lei Antibaixaria, destacou que o conteúdo da música “traz indistinta discriminação contra mulheres, com violação à imagem e dignidade destas” além de incitar, “sem chance de dúvida, a prática de crimes contra a liberdade sexual, como os de estupro e atentado violento ao pudor, previstos nos arts. 213 e 214 do Código Penal”.
“O problema não está no ritmo, mas no conteúdo dessas músicas. Existem bandas de pagode e de arrocha que fazem um belo trabalho, sem ofender a dignidade de ninguém”, disse Maia.
Movimentos sociais, entidades estudantis e outras entidades civis assinaram uma carta de repúdio ao videoclipe “Tigrão Gostoso”, divulgada pela Marcha Mundial das Mulheres, destacando que a música faz “apologia tão explícita à violência”.
“O clipe se desenrola de forma a enaltecer a posição do estuprador, colocado como a figura do ‘tigrão gostoso’, de modo a associar a agressividade à masculinidade. Por outro lado, reforça a imagem da mulher como um ser frágil e submisso, sem autonomia de vontade, sendo explícita a apologia ao estupro durante toda a música”, diz o texto.
Segundo a entidade, somente em 2012 o número de estupros notificados no Brasil atingiu a marca de 50 mil.
“Diante disto, um clipe como este representa uma afronta aos direitos das mulheres e não ficará por isso mesmo! É inadmissível que uma banda lucre a partir da naturalização da violência, da apologia ao estupro e do incentivo à transfobia”, diz o texto.
O UOL tentou por diversas vezes, nesta sexta-feira (7), o posicionamento da banda sobre a polêmica, mas ninguém atendeu as ligações feitas para o telefone do empresário do grupo, Diego Pereira.