Em Sergipe, 217 pessoas estão na fila de espera por um transplante de córnea, de acordo com dados da Central Estadual de Transplantes. O alto número chama a atenção e reforça a importância da campanha Setembro Verde, que busca sensibilizar a população sobre a doação de órgãos e tecidos, um gesto capaz de devolver qualidade de vida a milhares de pessoas.

Apesar dos avanços, estado ainda enfrenta baixa adesão das famílias à doação – Foto: ascom/divulgação
Em 2024, Sergipe realizou 228 transplantes de córnea, um dos procedimentos mais eficazes da oftalmologia moderna e que pode devolver a visão a quem teve o tecido comprometido por diferentes causas. O oftalmologista Allan Luz, presidente da Sociedade Sergipana de Oftalmologia (SSO), destaca que a cirurgia beneficia pessoas em qualquer fase da vida. “Já realizei transplantes em bebês de seis meses e em idosos de 90 anos. Sempre que a alteração está na córnea, é possível recuperar qualidade de vida”, afirma.
Entre os motivos mais frequentes que levam pacientes à fila estão o ceratocone, doença que provoca deformidade da córnea e pode ter origem genética ou ser agravada pelo hábito de coçar os olhos; as distrofias corneanas, alterações degenerativas que geralmente surgem após os 40 ou 50 anos; além dos traumas oculares, que deixam cicatrizes e comprometem a visão. Também há registros de recém-nascidos com opacidades corneanas logo após o nascimento.
O especialista ressalta que a córnea possui uma particularidade em relação a outros órgãos: ela não tem vasos sanguíneos. Essa característica reduz significativamente a possibilidade de rejeição. “A córnea não tem sangue, por isso o risco de rejeição é bem menor do que em outros transplantes. Isso torna o procedimento ainda mais seguro”, explica.
Os avanços técnicos também trouxeram melhorias importantes. Até a década de 1990, a maioria das cirurgias era feita substituindo toda a espessura da córnea. Hoje, é possível realizar o transplante lamelar, que troca apenas a camada comprometida. “Esse tipo de técnica diminui a chance de rejeição, acelera a recuperação e reduz a necessidade de colírios. É um método moderno e muito eficaz”, detalha o oftalmologista.
*Importância da conscientização*
Apesar dos avanços, Sergipe ainda enfrenta um desafio relevante: a baixa adesão das famílias à doação. Entre janeiro e março de 2025, foram realizadas 30 entrevistas com familiares de potenciais doadores no estado, das quais 17 resultaram em recusa, o que representa cerca de 57%, segundo dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos. “Diversas pessoas poderiam voltar a enxergar se houvesse mais autorizações. A doação é um gesto de amor e solidariedade”, ressalta o presidente da SSO.
O médico lembra que mesmo as córneas que não servem para recuperar a visão podem ter utilidade terapêutica, ajudando a preservar o olho em situações graves de perfuração. “Toda doação tem valor. A córnea pode ser usada tanto para recuperar a visão quanto para restaurar a anatomia do olho em caso de perfurações”, reforça.
Em Sergipe, a coleta das córneas é realizada pelo Banco de Olhos, e os transplantes acontecem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em centros autorizados, como o Hospital de Olhos. Para Allan Luz, ampliar a conscientização é fundamental. “A decisão final é da família. Por isso é essencial conversar sobre o desejo de ser doador ainda em vida. Quanto mais informação houver, maior será a chance de reduzir a fila e transformar vidas”, conclui.
*Sobre o Dr. Allan Luz*
Especialista em transplante de córnea, tratamento do ceratocone e cirurgia refrativa, Dr. Allan Luz tem uma trajetória consolidada na oftalmologia. Formado pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), iniciou sua carreira ao lado do Dr. Mário Ursulino, fundador do Hospital de Olhos de Sergipe (HOS), referência na área no Estado. Atualmente, é professor e coordenador do curso de especialização do HOS, pioneiro e único na área em Sergipe, além de presidir a Sociedade Sergipana de Oftalmologia.
Com doutorado em Oftalmologia e Ciências Visuais pela Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), Dr. Allan Luz recebeu premiações nacionais e internacionais e se destaca como palestrante em congressos e simpósios. Em sua trajetória, acumula mais de 100 aulas em eventos científicos e 40 artigos publicados em periódicos especializados, consolidando sua expertise no campo da oftalmologia.
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Da Assessoria de Imprensa