O teste de cultura financeira realizado no âmbito do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mede a habilidade de estudantes de 15 anos em situações do cotidiano envolvendo questões e decisões financeiras.
Na prática, isso implica desde a gestão de uma conta bancária ou de um cartão de débito, como entender as condições de uma assinatura de um serviço de telefone celular ou as taxas de juros de um empréstimo até questões mais complexas, como o Imposto de Renda.
O estudo “Cultura Financeira dos Estudantes” – que corresponde ao quarto volume dos resultados do último Pisa, de 2015 – divide o grau de conhecimentos na área em cinco níveis, que evoluem de acordo com o grau de dificuldade das perguntas do teste.
As questões no nível 1 são as mais simples e envolvem, por exemplo, saber reconhecer a finalidade de documentos como uma simples fatura.
A OCDE considera que o nível 2 representa conhecimentos financeiros necessários para se integrar à sociedade.
Ou seja, ficar abaixo desse nível significa que os alunos não são capazes de enfrentar situações financeiras diárias para poder tomar decisões – como reconhecer o simples montante de um orçamento ou saber, em função do preço, se é melhor comprar tomates por quilo ou por caixa.
De acordo com o estudo, 53% dos alunos brasileiros na faixa de 15 anos ficaram abaixo do nível de conhecimentos financeiros mínimos (não conseguiram atingir o nível 2).
Lanterna
O resultado do Brasil é o pior entre os 15 países ou províncias de economias analisadas no estudo.
O Peru teve o segundo desempenho mais baixo, com 48% de alunos abaixo do nível de conhecimentos financeiros básicos.
Chile e Eslováquia também estão entre os lanternas, com, respectivamente, 38% e 35% dos estudantes com baixa performance no teste de cultura financeira.
Os chineses (das províncias de Pequim, Xangai, Jiangsu e Guangdong) conquistaram os melhores resultados: apenas 9% ficaram abaixo do nível de conhecimentos sumários.
A média obtida nos países-membros da OCDE – grupo do qual o Brasil não faz parte – nessa categoria foi de 22%.
De acordo com a organização, estudantes com melhores performances na área financeira têm mais chances de saber economizar, de completar o ensino universitário e de encontrar um emprego com maior qualificação.
“Isso sugere que estudantes com cultura financeira podem ser mais capazes de reconhecer o valor de investir em seu capital humano e financeiro”, ressalta o estudo.
Questões complexas
Somente 3% dos estudantes brasileiros de 15 anos (faixa etária avaliada no Pisa) conseguiram atingir o nível 5, o de maior conhecimento na área.
Eles são capazes de lidar com questões financeiras mais complexas, como custos de uma operação ou ganhos com uma transação e têm compreensões mais amplas desse cenário, incluindo temas como o Imposto de Renda.
A Eslováquia teve o mesmo desempenho do Brasil, com 3% dos estudantes que atingiram o nível de máxima dificuldade no teste. O Peru teve o pior resultado, com apenas 1% nessa categoria.
No caso da China, um terço dos alunos obteve a melhor performance. Nos países da OCDE, da qual Brasil e China não fazem parte, a média de estudantes que atingiram o nível máximo no teste é de 22%.
“Uma cultura financeira básica é uma habilidade essencial na vida. As pessoas tomam decisões financeiras em todas as idades: desde crianças que decidem como gastar a mesada ou adolescentes que entram no mundo do trabalho e jovens adultos que compram uma casa a pessoas mais velhas que administram economias para sua aposentadoria”, destaca o estudo.
“A rapidez das transformações socioeconômicas e o avanço das tecnologias, inclusive digitais, colocam os jovens face a decisões mais complexas e perspectivas econômicas e profissionais mais incertas”, afirma o secretário-geral da OCDE, Angel Gurría.
“Mas frequentemente eles não possuem a educação, a formação e os instrumentos necessários para tomar decisões certas sobre questões que influenciam seu bem-estar financeiro”, completa.
Na média dos 15 países avaliados no estudo sobre cultura financeira, cerca de um quarto “é incapaz de tomar a menor decisão relativa a despesas correntes e apenas 10% compreende conceitos complexos como o do Imposto de Renda”, diz a organização.
Matemática e leitura
Segundo a organização, “os alunos com uma boa cultura financeira têm, geralmente, bons resultados nas provas de matemática e leitura do Pisa, enquanto os que possuem competências financeiras rudimentares têm mais riscos de obter resultados medíocres nas disciplinas avaliadas”.
No último Pisa, divulgado no final de 2016 com dados de 2015, o Brasil ficou entre os últimos lugares: o país obteve a 66ª colocação em matemática e a 59ª em leitura entre os 72 países avaliados.
As províncias chinesas avaliadas no recente estudo sobre cultura financeira estão entre as melhores performances mundiais, tanto em matemática quanto em leitura.
A organização também ressalta que alunos com melhores condições socioeconômicas obtêm resultados muito mais elevados do que estudantes desfavorecidos.
“A cultura financeira não é relevante apenas para quem tem grandes quantias de dinheiro para investir. Todos precisam ter conhecimentos na área, sobretudo quem vive com orçamentos apertados e tem pouca margem de manobra no caso de erros financeiros”, afirma a OCDE.
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