Conhecida em vida como “a santa das sarjetas”, Madre Teresa de Calcutá foi transformada em santa pela Igreja Católica 19 anos após sua morte. Vencedora do Prêmio Nobel da Paz, ela foi uma das mulheres mais influentes dos 2 mil anos de história da religião, aclamada por seu trabalho com os mais pobres nas favelas da cidade indiana de Calcutá.
A missa para o canonização começou às 10h18 deste domingo (horário local, 5h18 em Brasília) com o canto do hino do Jubileu da Misericórdia. Em seguida, Francisco entrou na praça de São Pedro na habitual procissão. Participam da cerimônia 70 cardeais, 400 bispos e 1,7 mil sacerdotes. O Papa conheceu Teresa pessoalmente, por ocasião de um sínodo de bispos em 1994, em Roma
Na homilia da cerimônia de canonização, Francisco elogiou seu trabalho “em defesa da vida humana”, garantindo que ela fez “sentir sua voz aos poderosos da terra para que reconhecessem suas culpas diante dos crimes da pobreza criado por eles mesmos”.
Disse que Madre Teresa ao longo de sua vida esteve “à disposição de todos por meio da recepção e a defesa da vida humana”. Elogiou sua luta contra o aborto e recordou que sempre dizia que “quem ainda não nasceu é o mais frágil”.
E lembrou como “se inclinou sobre as pessoas fracas, que morrem abandonadas à beira das ruas, reconhecendo a dignidade que Deus lhe deu”.
“Sua missão nas periferias das cidades e nas periferias existenciais permanece até hoje como testemunho eloquente da proximidade de Deus aos mais pobres entre os pobres”, afirmou.
Francisco explicou que a figura de Madre Teresa será a santa de “todos os voluntariados” e pediu que ela fosse considerada o “modelo de santidade”.
O pontífice afirmou a chamará “com dificuldade de Santa Teresa” porque “Sua Santidade foi tão próxima a nós, tão suave e espontânea que vai continuar a ser chamada de mãe, Madre Teresa”.
Missionárias da Caridade
Embora criticada durante a vida e após a morte, Madre Teresa é reverenciada pelos católicos como um modelo de compaixão que levou alívio aos doentes e moribundos, abrindo filiais de suas Missionárias da Caridade (M.C.) em todo o mundo.
As Missionárias da Caridade tiveram origem em uma pequena congregação, que se transformou em uma rede que hoje conta com 4.500 religiosas trabalhando em cerca de 700 casas dedicadas a ajudar os mais desfavorecidos em mais de 130 países.
Madre Teresa de Calcutá morreu em 1997, aos 97 anos. Ela havia sido beatificada pelo Papa João Paulo 2º em 2003, o último passo antes da canonização.
Milagre com brasileiro
A igreja abriu caminho no ano passado para a canonização de Madre Teresa após declarar como milagre a recuperação do brasileiro Marcilio Haddad Andrino, que tinha múltiplos pontos de inflamação no cérebro.
Quando Andrino sofreu em 2008 os abscessos cerebrais, dos quais médicos disseram que ele não iria se recuperar, sua família rezou para Madre Teresa.
Ele disse que seu estado de saúde piorou ao ponto de ter sofrido para conseguir andar ao altar durante seu casamento, em setembro de 2008. Em dezembro foi levado inconsciente para hospital.
Andrino estava com uma cirurgia cerebral marcada, mas acordou sem dores de cabeça pouco antes da operação e o médico afirmou que uma intervenção médica não seria mais necessária.
“Consegui passar o Natal com minha família e seis meses depois voltei ao trabalho sem problemas”, disse Andrino, que posteriormente teve dois filhos.
Andrino, que tem 43 anos e mora no Rio de Janeiro, disse nesta sexta-feira (2), durante entrevista coletiva no Vaticano, que se sente muito grato, mas que pensa que qualquer pessoa poderia ter sido igualmente beneficiada pela intervenção.
“Se não tivesse acontecido comigo, talvez fosse com outra pessoa amanhã. Ela não diferenciava. Não me sinto especial”, disse Andrino, que participa da cerimônia deste domingo com sua esposa, Fernanda.
História
Nascida em 26 de agosto de 1910 em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia – que na época pertencia à Albânia –, Gonxhe Agnes Bojaxhiu entrou em 1928 para a ordem religiosa Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, que tem sede na Irlanda, e passou a usar o nome Teresa em homenagem a Santa Teresa de Lisieux.
Enviada a Calcutá, na Índia, foi professora durante muitos anos em uma escola para meninas de classe alta, antes de receber o “chamado dos chamados” – a vocação de servir a Deus através dos pobres. No início de 1948, se mudou para os bairros pobres de Calcutá, onde suas ex-alunas se tornaram, a seu lado, as primeiras Missionárias da Caridade.
Em 1952, ao observar uma mulher agonizante, abandonada na rua e com os pés atacados por ratos, ela sentiu uma profunda comoção e decidiu assumir uma nova tarefa: ajudar os mais pobres entre os pobres.
Depois de procurar com insistência as autoridades da cidade, conseguiu a concessão de um antigo edifício para dar abrigo às pessoas que sofriam de tuberculose, desinteria e tétano, pessoas que nem os hospitais queriam atender.
Dezenas de milhares de necessitados passaram pelo “hospício” e muitos encontraram uma morte digna, sempre em respeito à sua própria religião, e outros se recuperaram graças aos cuidados das freiras. Ela foi agraciada com o Prêmio Nobel da Paz em 1979.
Seu enterro em Calcutá, em 5 de setembro de 1997, foi um acontecimento nacional na Índia e milhões de pobres acompanharam seu corpo pelas ruas da cidade. O funeral contou com a presença de chefes de Estado e governantes de todo o mundo.
Beatificação
Em 2002, o Vaticano reconheceu um primeiro milagre atribuído à intervenção da madre Teresa, a cura de uma mulher de 30 anos, Monika Besra, que sofria de um tumor abdominal.
Ela se curou depois que as irmãs da congregação a presentearam com uma “medalha milagrosa” da Virgem, que antes havia sido usada pela beata aos 87 anos.
Madre Teresa foi beatificada por João Paulo II em 19 de outubro de 2003, em Roma, durante cerimônia que teve a presença de 300 mil fiéis.
Caminho para se tornar santo
São três as etapas pelas quais deve passar o candidato a santo – confirmação das “virtudes heroicas”, beatificação, e canonização.
O primeiro passo para o processo de beatificação geralmente é dado pelo bispo da diocese à qual pertence o candidato e dificilmente antes dos cinco anos posteriores à sua morte.
Durante a investigação, primeiro se demonstra que o candidato tinha “fama de santidade” e que merece ser proposto à canonização.
Os teólogos consultores, os cardeais e até o Papa têm o direito de opinar nesta etapa do processo, depois da qual se pode prever a beatificação, sempre e quando se tenha demonstrado pelo menos a existência de um milagre que possa ser atribuído ao candidato.
Demonstrar a validade do milagre, no entanto, não é tarefa fácil. A Congregação para as Causas dos Santos se vale da assessoria de uma equipe de 70 médicos e vários especialistas, assim como dos estudos clínicos, aos quais é submetido o indivíduo supostamente curado por um milagre.
Uma primeira aproximação do fenômeno denominado “milagre” é que a cura tenha acontecido de forma instantânea, perfeita, duradoura e inexplicável cientificamente, como a de uma doença incurável ou muito difícil de se tratar.
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