Pernambucano de nascença, Lenine é do mundo e como tal vem trilhando um caminho musical invejável. Artista completo, com composições gravadas por nomes como Maria Bethânia, Daniela Mercury, Elba Ramalho, Milton Nascimento, Gilberto Gil, já se tornou referência de música brasileira boa, boa não, ótima. Seu repertório compostos por clássicos tocados em todos os cantos do planeta e cantado por brasileiros e estrangeiros, desde quando surgiu com o disco “Baque Solto” em 1983, serve até hoje de espelho para artistas da nova geração. Com show novinho em folha “Em Trânsito”, Lenine aporta em São Cristóvão no dia 17 de novembro, no Palco João Bebe-Água (Praça São Francisco), durante o FASC. O evento, que já é considerado o maior festival cultural de Sergipe e um dos maiores do Brasil reunirá uma programação diversificada com atrações sergipanas e nacionais (Céu, Chico César, The Baggios, Luedji Luna, BaianaSystem, etc), de 15 a 18 de novembro, tudo grátis. Confira a entrevista com Lenine onde conversamos sobre a política nacional, música, engajamento artístico e é claro, sua participação no FASC.
O show que vamos assistir no FASC será o “Em Trânsito”? Quão libertador pra você, enquanto artista é essa turnê e já é possível falar sobre os frutos deste trabalho? Está contente com esse novo show?
Resposta: Contentíssimo. Muito feliz, pois mais uma vez conseguimos burlar um sentimento de repetição e fizemos algo com um processo novo, com uma nova dinâmica e isso tudo é muito benéfico porque termina dando um frescor. Estamos na estrada e é libertador fazer a música que eu faço. Estou muito contente com o projeto “Em Trânsito”.
Você é um clássico já. Enquanto artista nordestino conseguiu levar nossas referências para o eixo sul/sudeste/centro-oeste. Este show é uma ode ao seu trabalho enquanto nosso representante? O que falta ainda ser mostrado para o resto do país, que o nordeste ainda não mostrou? Existe uma bandeira que Lenine levanta musicalmente falando?
Resposta: É bacana você ter percebido a importância do nordeste, a estética nordestina em meu trabalho, pois está muito presente. Isso tem relação com a identidade sim do povo nordestino. Eu tenho essa certeza de que quando toco no nordeste sou realmente melhor compreendido com as palavras que eu uso, a maneira como eu falo, o jeito que divido as sentenças que canto. Não existe uma bandeira, o que existe é a constatação de que tem um viés cultural nesse povo nordestino, que vem ali do Piauí até o Rio São Francisco.
Vivemos um momento complicado, onde o nordeste se encontra no olho do furação da política nacional. Por que o “tom é grave e o tempo é breve” em sua nova turnê?
Resposta: Acho que o nordeste mostrou estar à esquerda da política ou pelo menos isto ficou evidente. E quando eu falo à esquerda é qualquer movimento que tenha como objetivo o coletivo e não o indivíduo. Essa é a esquerda que eu me identifico. Acho que essa onda virulenta, retrograda e quase medieval que está se abrindo, por conta da intransigência, é que é muito perigoso e está fazendo com que as pessoas assumam posições cada vez maiores de intolerância para com o outro. Isso sim não tem nada de benéfico e é preocupante, é esse dualismo burro que a gente está vivendo.
Já tem alguns anos que você não passa por Sergipe, como vai matar a saudade que o público tem de você? O que você poderá adiantar do repertório que será tocado no FASC?
Resposta: Voltar é sempre bom. O show como falei é o “Em Trânsito” e no final faço um pacotão, pergunto ao pessoal o que querem ouvir e a gente faz aquele momento todos juntos. Vai rolar isso! Apesar de ter um tempo sem tocar em Sergipe eu não sinto essa sensação (de afastamento) porque existe essa alma nordestina, onde em qualquer lugar do nordeste todos compreendem da mesma maneira.
Enquanto artista é preciso se portar politicamente? Você é engajado em causas políticas? Como está acompanhando o cenário nacional? Quais as suas perspectivas para o Brasil?
Resposta: Não sei se enquanto artista é preciso se portar politicamente, eu sei que eu sou assim. Existe a política das coisas, existe a política do bom comportamento (risos), existe a política do amor, a política da boa vizinhança, tudo é política. Não existe ser humano que não tenha que usar o conceito de política. O artista não é diferente de outro ser humano. Sou engajado sim, mas o termo “questões políticas” se banalizou de tal maneira… gosto mais de causas sociais e ambientais e sou engajado nessas causas porque acredito que a exposição que a minha música me dá eu posso dividir com aqueles que sofrem de invisibilidade. Então se eu puder dividir um pouco dessa exposição que a música me proporciona com projetos bacanas, eu faço sim! Sobre as perspectivas para o Brasil é difícil responder, pois eu não vejo, em curto prazo, muito futuro de uma mudança significativa no Brasil, e isso é doloroso!
São Cristóvão é a quarta cidade mais antiga do Brasil. Sergipe nasceu daqui e o FASC é o festival cultural mais importante do nosso estado (e um dos mais importantes do Brasil – foi criado em 1972). Esses tipos de dados contam na hora de uma apresentação? Você pesa o local onde faz seus shows? Como ver essa resistência de um festival se manter vivo após tantos anos (esta será a 35ª edição do nosso evento)?
Resposta: Eu já sabia dessa existência do FASC. Sabia da importância da cidade para com o estado e, evidentemente, num caso como este, sendo a primeira vez que tocarei (em São Cristóvão), certamente levarei isto em consideração. Monto o roteiro (do show) levando isso em consideração. Vai ser a primeira vez e espero ser a primeira de muitas outras.
Da Assessoria