Blog de Kátia Santana/Jornal da Cidade
Pré-candidato a prefeito de Aracaju pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o deputado federal Rogério Carvalho entende que o processo que resultou na recondução, antecipada, da deputada estadual Angélica Guimarães (PSC) à presidência da Assembleia Legislativa foi motivado pelo uso da “força” e denotou violência às instituições.
Apesar do clima tenso que se estabeleceu a partir da decisão e da possibilidade concreta de o governador Marcelo Déda (PT) administrar com uma minoria no Parlamento, ele avalia que esses fatores não influenciarão no processo sucessório deste ano e nem inviabilizará a governabilidade. Leia a íntegra da entrevista.
JORNAL DA CIDADE – Todo esse imbróglio envolvendo a reeleição antecipada da Assembleia Legislativa muda alguma coisa no processo sucessório de 2012? ROGÉRIO CARVALHO – Pode mudar. Ainda é cedo para avaliarmos que impacto isso vai produzir. Tudo vai depender dos partidos que estão na crista da onda se posicionarem. Uma coisa está mais ou menos definida: nós não teremos um bloco tão amplo, a partir do que se deflagrou segunda-feira. Acredito que teremos uma diminuição do tamanho do bloco, mas o importante na disputa é saber com quem a gente conta, realmente. Quem vai estar apoiando que projeto. Então, espero que nos próximos dias tenhamos essa clareza.
JC – Essa diminuição no bloco pode inviabilizar alguns projetos como o do senhor, por exemplo, de ser candidato a prefeito de Aracaju?
RC – Não. Entendo que não é o tamanho do bloco que define a vitória de um candidato. O que define é o projeto e a capacidade que o candidato e a campanha têm de empolgar o eleitorado. A gente já viu, em várias cidades do Brasil, candidaturas com alianças estreitas, menos volumosas, em termos de partidos, serem vitoriosas. O que vai definir o resultado da eleição em Aracaju é o eleitor. O eleitor quer saber o que os candidatos têm para a cidade; quais as expectativas e promessas de futuro. Porque as pessoas são movidas pela esperança, pelo desejo, pelo atendimento às suas carências. As pessoas são portadoras de necessidades e quem for mais eficiente nessa tarefa de compreender subjetivamente; quem conseguir comunicar isso melhor, sairá vitorioso. Numa cidade com mais de 500 mil habitantes, os caciques políticos não dominam à mão de ferro o eleitorado. É absolutamente possível e tranquilo afirmar que essa questão é menos relevante. Essa disputa e essas fissuras são menos importantes do que a opinião e o trabalho feito junto ao eleitorado.
JC – Com um bloco menor no Parlamento, a governabilidade do Estado pode ficar comprometida, não?
RC – O apoio do Parlamento é fundamental para a governabilidade, mas isso é um trabalho que o governador (Marcelo Déda) vai fazer. Óbvio que nada é impune. A opinião pública pode se rebelar com o uso abusivo da força contra o Estado. Na política, tudo pode ser bom e tudo pode ser ruim. Às vezes é melhor você ter um bloco consistente, motivado por um projeto que a gente sabe com quem está contando do que ter um bloco amplo, onde as pessoas estão mais preocupadas em resolver os seus problemas.
JC – É isso o que acontece hoje? RC – Não sei. Isso é uma coisa que o tempo vai mostrar.
JC – Há uma reclamação generalizada dos deputados em relação à falta de diálogo do governador para com eles. Não houve um certo “descanso” do governador em relação ao assunto, deixando os parlamentes soltos, sem uma orientação?
RC – Não. Eu acho que houve foi uma ação antidemocrática e truculenta, sem reparos, tanto do ponto de vista democrático, quanto do ponto de vista político. Para eu escolher se você é ou não o meu candidato para ser reeleito, eu preciso experimentá-lo até o final do seu mandato. Isso não aconteceu. Sou um deputado, chego no meio do meu mandato, organizo uma eleição, de supetão, e me reelejo para assumir em 2014. Isso é democrático? É uma ação veloz de atropelo. A forma como o fato foi encaminhado demonstrou o uso da força. Foi uma violência às instituições e isso precisa ser denunciado. Isso não é bonito para as instituições sergipanas, nem para a democracia. A política tem que ser um instrumento civilizatório. A prática (da reeleição), não foi, não é, e jamais será uma prática política satisfatória. Portanto, representa um retrocesso. O modo como as coisas aconteceram nos remete a um tempo em que as decisões eram tomadas à força.
JC – O senhor considera que essa foi uma decisão isolada dos parlamentares ou teve a influência e contribuição externa?
RC – Um processo como esse não pode ser independente. Foi uma posição construída e tem a ver com 2014. O debate não é 2012, o debate tem a ver com a disputa pelo Governo do Estado em 2014.
JC – Por conta dessa situação, o senador Antônio Carlos Valadares terá que decidir entre ficar ao lado do governador Marcelo Déda ou com os Amorim, podendo inclusive ter implicações no projeto de eleger o filho (deputado Valadares Filho), prefeito de Aracaju. Como o senhor acha que ele vai se portar?
RC – Valadares é um político muito experiente e o que vai pesar nessa decisão será a sua construção histórica. Não tenho a menor dúvida disso. Se a história dele for de construção em torno do projeto do qual ele participou, vai se revelar agora. Mas se for em torno da ocupação de espaços de poder, também vai se revelar agora. Eu acredito que Valadares vai tomar uma decisão que dialoga com a sua própria história. Não tem o que inventar.
(entrevista concedida pelo deputado à jornalista Katia Santana para o Jornal da Cidade)