Sílvio Túlio, do G1 GO, em Inhumas
A adolescente de 15 anos que acusa o ginecologista Itamar Cristino de Figueiredo, de 65, de tentar abusar sexualmente dela e de uma prima da mesma idade, em Inhumas, Região Metropolitana de Goiânia, falou pela primeira vez sobre o assunto na quinta-feira (2). “Fiquei sem reação. Só queria ir embora dali”, disse a jovem em entrevista ao G1.
O suposto abuso aconteceu no dia 15 de abril deste ano, no Hospital da Mulher. Segundo ela, o médico tocou nos seus seios e virilha, além de lhe dar um beijo na boca. Ele também teria tentado beijar sua prima, que passou uma noite no hospital com ela. O médico nega as acusações.
A garota, que estava internada por causa de uma infecção urinária, lembra que o médico era conhecido pelos pacientes por ser sempre muito “carinhoso” com todos. No entanto, conta que ficou sem saber o que fazer após a atitude do ginecologista.
“Eu estava de pijama na maca. Aí ele começou a me examinar e, de repente, me deu um beijo na boca. Fui ao banheiro para disfarçar e quando deitei novamente, mesmo estando coberta, ele colocou a mão embaixo da minha roupa”, descreve.
Por causa do ocorrido, na terça-feira (30), o Ministério Público de Goiás (MP-GO) ofereceu denúncia, e o juiz Pedro Silva Corrêa determinou que o médico fosse afastado de suas funções por 90 dias.
A menina, que sonha cursar medicina e fazer especialização em clínica geral, está sendo submetida a um tratamento psicológico. Ela acredita que só recebeu alta hospitalar por causa do suposto abuso, pois, segundo afirma, ainda sente dores por conta da infecção.
“Ainda não estou bem. Às vezes, minha barriga dói. Tenho que procurar outro ginecologista, mas dessa vez será mulher”, afirma.
‘Interpretando mal’
A mãe da jovem contou que dois dias após a filha sair do hospital, o advogado de Itamar, José Pacheco Júnior, e um irmão do médico foram até a sua casa. Eles tentaram argumentar que a filha poderia ter se enganado e interpretado a situação de forma errada.
“Interpretado mal? Desde quando beijar na boca é carinho entre médico e paciente?”, questiona a costureira.
Segundo ela, os dois pediram que a denúncia fosse retirada porque o ginecologista estaria sendo ameaçado de morte. A mulher não acreditou na história e disse que vai seguir em frente com o processo. “Isso já não é problema nosso. Quero que seja feita justiça. Vamos até o final com tudo isso”, ressalta.
Investigações
Itamar Cristino de Figueiredo prestou depoimento na quinta-feira (2) na Delegacia de Polícia Civil de Inhumas e negou que tenha abusado das duas adolescentes. Ele estava acompanhado do advogado José Pacheco Júnior.
Segundo o delegado Humberto Teófilo de Menezes Neto, responsável pelo caso, Itamar estava bastante tranquilo e alegou que foi “mal interpretado”. Ele afirmou ainda que não tocou nas partes íntimas da vítima, nem tentou beijar a outra garota.
Na próxima segunda-feira (6), dando prosseguimento às investigações, o delegado revelou que vai começar a ouvir cerca de 130 pacientes do médico. “Vamos intimar mulheres que foram atendidas por ele nos últimos três meses para saber se houve algum caso parecido”, explica. Ele adianta que pretende remeter o processo ao Judiciário até o final da semana que vem.
Defesa
O G1 tentou conversar com o médico nesta quinta-feira, mas ele não quis dar nenhuma declaração sobre o assunto. O advogado dele, José Pacheco Júnior, que também é vereador do município, o acompanhou até a delegacia e informou apenas que seu cliente é inocente e nega todas as acusações.
Em entrevista ao G1 na última terça-feira, Itamar definiu as acusações feitas pelas adolescentes como falsas e caluniosas, alegando que elas teriam “confundido as coisas”. “Isso não é verdade. Nunca abusei de ninguém. Não devo e vou provar que sou inocente. A porta da enfermaria fica aberta. Nunca estuprei ninguém e estou com a consciência tranquila”, disse o médico, que ressaltou ter 35 anos de profissão.
O ginecologista afirmou que está sendo vítima de difamação. Ele lamentou a decisão da Justiça de afastá-lo temporariamente das suas funções. “Foi intempestiva e inadequada. Decidiram sem me ouvir, sem me perguntar, sem ouvir meu depoimento. Vou prestar as declarações necessárias e provar que sou inocente”, argumentou.