Vencida por um etíope no masculino e por uma queniana no feminino, a São Silvestre de 2021 manteve a tradição das últimas décadas de ter sempre africanos na primeira colocação. A prova deste ano, porém, viu um total de cinco brasileiros (dois homens e três mulheres) chegarem ao pódio, algo fora da curva do que vinha ocorrendo na corrida de rua mais tradicional do país. Entre os homens, o Brasil não subiu ao pódio desde 2016. No feminino, desde 2015.
No caso de Daniel do Nascimento, segundo colocado apesar de ter corrido uma maratona no começo do mês, o resultado comprova a boa fase dele que tem tudo para ser o primeiro brasileiro desde Marilson Gomes dos Santos a ser protagonista de grandes provas internacionais. Danielzinho fez, este ano, a melhor estreia de um brasileiro em maratonas, em Lima, chegou a liderar a prova olímpica, no Japão, e, em Valência, registrou o segundo melhor tempo de um brasileiro na história.
Mas, exceto por ele, não está em curso uma evolução visível do pedestrianismo brasileiro. Sem tirar o mérito dos atletas da casa que alcançaram ótimas posições na São Silvestre, é preciso destacar que isso só foi possível pela diminuição significativa de participantes estrangeiros.
No passado, a organização da São Silvestre investia pesado (coisa de mais de US$ 100 mil por ano) em cachês para estrelas internacionais e mesmo brasileiros como Marilson Gomes dos Santos. Entidades especializadas como a Luasa e a Nova Flor traziam quenianos e etíopes para correr por suas equipes, dividindo os prêmios, e mesmo empresas de material esportivo apostavam na visibilidade da prova.
Em 2019, 10 estrangeiros ficaram nas 10 primeiras colocações tanto no masculino quanto no feminino. Desta vez, José Mario Leão da Silva alcançou o quinto lugar, atrás de dois africanos, Danielzinho e um boliviano, com o tempo de 46min35s, que daria a ele o 12º lugar em 2019, atrás de 11 estrangeiros e de Danielzinho. No feminino, Jenifer do Nascimento foi terceira com 53min32s. Em 2019, com essa marca, seria sétima, atrás de seis africanas.
E nem havia como ser diferente. A prova contou, no total, com apenas 10 estrangeiros na elite. No masculino, havia dois quenianos, um etíope, um atleta de Uganda (sem resultados significativos na carreira) e um boliviano. De resto, apenas brasileiros. No feminino, duas quenianas, duas etíopes e uma boliviana. Mesmo colombianos, argentinos, equatorianos e mexicanos, figurinhas carimbadas na prova, desta vez não vieram.
Com o país em crise financeira, a São Silvestre reduziu a premiação, definida na moeda brasileira. A corrida distribuiu R$ 256 mil para os profissionais este ano, contra R$ 461 mil em 2019. O prêmio pela vitória caiu de R$ 94 mil para R$ 50 mil. Em dólares, isso significa uma redução do prêmio para o campeão de US$ 23 mil para menos de US$ 9 mil.
A redução do apelo esportivo da São Silvestre coincide também com a saída da Globo da organização da corrida. A emissora até transmitiu a prova, mas não é mais sócia do evento. Antes, patrocinadores pagavam por espaço na prova e na televisão, de forma combinada. Agora a São Silvestre que precisa vender suas cotas de publicidade.
Além disso, houve uma redução no número de participantes da prova, o que reduz também a receita da corrida com inscrições. Se antes até 35 mil pessoas participavam, desta vez as inscrições foram limitadas a 20 mil. A organização não informou quantas pessoas participaram da prova.
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Fonte: Demétrio Vecchioli/UOL